Resnais, em plena forma |
Bom, Resnais parece ter a fórmula da juventude, já que seus filmes recentes retratam com maestria este mundo contemporâneo. Um crítico escreveu que só um cara com cinquenta anos de cinema poderia ter feito algo tão espetacular. É verdade. Às vezes, os críticos, que nem nós aqui do Tyrannus, acertam. O interessante deste "Coeurs" é que a medida que a história avança, os personagens, inicialmente vazios, ganham corpo e se tornam gente como a gente. Resnais é um artista desses que não só entra pra história, como sabe fazer um registro verdadeiro e único, lançando mão da complexa e detalhista arte do cinema.
O trabalho do diretor de fotografia Eric Gautier precisa ser creditado, já que a completude do filme vem muito de sua estética. Gautier já dirigiu a fotografia em outros filmes como "Diários de Motocicleta" e "Na Natureza Selvagem", entre outros. Esse filme foi programado para gravar mas houve um furo e ficamos sem ver e saber o finaldo filme. Uma pena, porque em alguns poucos minutos, o cinema de Resnais pode gerar emoções e surpresas que deixariam qualquer um embasbacado. Mesmo assim, valeu a pena assisti-lo, ainda que incompleto. Ô, se valeu!!!
"Como Festejei o Fim do Mundo" é mais um filme onde a atuação de um garoto rouba a cena, ele interpreta o adorável Lalalilou um dos protagonistas desta obra que explora visões infantis e adolescentes em torno do governo tirano da Romênia. Ele e sua irmã, Eva, contracenam com toda uma comunidade de um bairro simples, enquanto o enredo se desenvolve de forma crítica e cômica. Na filmografia romênia moderna há mais de cinquenta filmes que potencializam olhares jovens, normalmente ingênuos, sobre o nepotismo.
A terna relação entre o garoto e sua irmã permeia o filme inteiro, são aliados nos problemas familiares, coletivos e políticos. Ambos demonstram estar cientes do momento histórico que o país vive e, de uma forma ou de outra, manifestam-se politicamente.
Lali, faz jogo duplo fingi-se admirador Ceaucescu para aproximar-se. A cidade vai receber o tirano, Lali compõe um poema para ele ao mesmo tempo que prepara com seus dois amigos, um plano para eliminar o ditador.
E no dia, ele aparece na TV armado com um estilingue em riste apontado para o seu alvo. Lali está para Ceaucescu, assim como Davi para Golias. Mas o filme de Catalim Mitulescu é muito mais do que essa referência bíblica. Sua riqueza está nos detalhes, na câmera sóbria e retilínea, no desempenho de cada personagem e nas metáfora inteligentes que se sucedem. A cena em que a irmã lê a carta do maninho num transatlântico, em mar aberto é cheia de significados e arrebatadora. Fica fácil chorar. A conquista da liberdade é emocionante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário