"O Desinformante" (2009), de Steve Soderbergh - ainda tenho esperanças de que ele faça algo melhor do que "Sexo, Mentiras & Videotape" (1989), filme que o projetou. Não que considere ruins seus filmes, mas é que esse citado me parece muito melhor. Oriundo do cinema independente americano, Soderbergh parece que perdeu um pouco a mão quando aceitou Hollywood em nome de Je$u$. Suas produções costumam ser esmeradíssimas, mas a impressão é de faltar algo.
Neste Desinformante ele tem um aliado ferrenho pra vender seu bom peixe. O ator Matt Damon está impecável como sempre, na pele de um pacato pai de família que consegue engambelar a tudo e a todos, fazendo-se de vítima e, ao mesmo tempo, aplicando desfalques consideráveis. O FBI e o poderoso mundo corporativo (que já foi mais poderoso) americano são achincalhados nesta comédia de riso difícil.
Na história, uma família francesa classe média baixa está às voltas com o casamento de uma das filhas. É aí que entra a dama de honra, aquela mesma que vai despirocar o primogênito dessa família protagonista, que luta para se manter dentro da normalidade. A tal dama é excêntrica demais e acredita, por exemplo, que pra se realizar na vida, todos nós temos que escrever um poema, plantar uma árvore (até aí tudo bem), transar com alguém do mesmo sexo e matar alguém. E essa sujeita vai amarrar o coração do primogênito da família. Se eu disser algo mais do que isso, não conseguirei me conter e conto o filme inteiro. Tem gente que não gosta de saber o final. Eu vou dizer, apenas: Gostamos. Passemos agora à grande surpresa do final de semana aqui pro Tyrannus.
Nicolae Ceausescu foi o grande manda chuva da Romênia durante 25 anos. Com apoio do regime soviético, o ditador botava pra quebrar. Um belo dia, caiu, após várias manifestações contrárias ao seu regime espalhadas por cidades romenas. Uma cidade bem discreta, situada "A Leste de Bucareste" (2006), chamada Timisoara, teria ocupado um papel de destaque nesse grande acontecimento político romeno.
E é justamente em torno da participação de um episódio ocorrido nessa cidade que um programa de televisão, de terceira categoria, vai desenvolver um debate, com a presença de pessoas que teriam estado na 'linha de frente' dessa revolução. Um coroa, que trabalhava como Papai Noel, e um professor beberrão, são arguídos ao vivo pelo vaidoso apresentador que não consegue manter o controle. Os telespectadores telefonam e fazem colocações, às vezes, estapafúrdias, noutras até procedentes. E o programa vai se arrastando.
E o filme, sem a gente perceber, nos envolvendo mais e mais, com sua simplicidade e inteligência, explorando um humor peculiar, que parece advir do Leste Europeu. Senti alguma coisa do hábil Kusturica neste filme. Não há nenhum nome espetacular integrando o elenco, em nível de cinema mundial, e o diretor é estreante. Fico imaginando quanto teria sido o orçamento deste belo trabalho que bate de dez a zero em tanta babaquice que a gente vê por aí. Este primeiro filme do roteirista e diretor romeno, Corneliu Porumboiu, lhe valeu o prêmio de Melhor Diretor Estreante em Cannes. Filme imperdível!
Morfeu e Iris (Pierre-Narcisse Guérin) |
Ainda tem um restinho de noite e temos chance de sermos surpreendidos pela magia de uma história, apoiada em imagens, luz, música e atuação de atores, antes que "Morfeu" nos abduza para seu mundo.
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