domingo, 7 de agosto de 2011

Falando de cinema

Três filmes dignos chamaram a atenção em nosso pacato final de semana. No aconchego do lar curtimos duas histórias centradas na força de personagens e uma outra que explora um contexto histórico. Uma produção americana, uma francesa e outra romena. Curiosamente (ou não), o filme produzido pela Romênia foi o que mais agradou. Sabe como é: o cinema americano e o francês são velhos conhecidos, mas, se você pedir pra citar pelo menos um filme romeno... xiiii. Vou ter que consultar o google.
 
"O Desinformante" (2009), de Steve Soderbergh - ainda tenho esperanças de que ele faça algo melhor do que "Sexo, Mentiras & Videotape" (1989), filme que o projetou. Não que considere ruins seus filmes, mas é que esse citado me parece muito melhor. Oriundo do cinema independente americano, Soderbergh parece que perdeu um pouco a mão quando aceitou Hollywood em nome de Je$u$. Suas produções costumam ser esmeradíssimas, mas a impressão é de faltar algo.
 
Neste Desinformante ele tem um aliado ferrenho pra vender seu bom peixe. O ator Matt Damon está impecável como sempre, na pele de um pacato pai de família que consegue engambelar a tudo e a todos, fazendo-se de vítima e, ao mesmo tempo, aplicando desfalques consideráveis. O FBI e o poderoso mundo corporativo (que já foi mais poderoso) americano são achincalhados nesta comédia de riso difícil.



Seria injusto não mencionar, também como aliada importante, a ótima trilha sonora, de Marvim Hamlisch, que dá o tom da comédia e acrescenta muito ao clima do filme. Essas histórias de investigações do FBI, de espíonagem indústria, de batalhas judiciais etc são cheias de detalhes e é complicado entender tudinho. Aí entra a música salvadora de Hamlisch e o impressionante trabalho de Matt Damon. Baseado em fatos reais, O Desinformante é um filme inteligente e engraçado, na medida do possível. Nos divertimos.

 
Claude Chabrol, ao lado de cineastas como Godard e Truffaut, é um dos fundadores da Nouvelle Vague, movimento surgido no cinema francês no final dos anos 50. "A Dama de Honra" (2004) é um dos seus últimos filmes. Ele se mandou em setembro do ano passado, mas deixou pelo menos uns 50 filmes. O conjunto de sua obra é muito consistente e merece ser apreciado por quem gosta do cinema um pouco além do jardim (da infância).



Na história, uma família francesa classe média baixa está às voltas com o casamento de uma das filhas. É aí que entra a dama de honra, aquela mesma que vai despirocar o primogênito dessa família protagonista, que luta para se manter dentro da normalidade. A tal dama é excêntrica demais e acredita, por exemplo, que pra se realizar na vida, todos nós temos que escrever um poema, plantar uma árvore (até aí tudo bem), transar com alguém do mesmo sexo e matar alguém. E essa sujeita vai amarrar o coração do primogênito da família. Se eu disser algo mais do que isso, não conseguirei me conter e conto o filme inteiro. Tem gente que não gosta de saber o final. Eu vou dizer, apenas: Gostamos. Passemos agora à grande surpresa do final de semana aqui pro Tyrannus. 




Nicolae Ceausescu foi o grande manda chuva da Romênia durante 25 anos. Com apoio do regime soviético, o ditador botava pra quebrar. Um belo dia, caiu, após várias manifestações contrárias ao seu regime espalhadas por cidades romenas. Uma cidade bem discreta, situada "A Leste de Bucareste" (2006), chamada Timisoara, teria ocupado um papel de destaque nesse grande acontecimento político romeno.




E é justamente em torno da participação de um episódio ocorrido nessa cidade que um programa de televisão, de terceira categoria, vai desenvolver um debate, com a presença de pessoas que teriam estado na 'linha de frente' dessa revolução. Um coroa, que trabalhava como Papai Noel, e um professor beberrão, são arguídos ao vivo pelo vaidoso apresentador que não consegue manter o controle. Os telespectadores telefonam e fazem colocações, às vezes, estapafúrdias, noutras até procedentes. E o programa vai se arrastando.



 

E o filme, sem a gente perceber, nos envolvendo mais e mais, com sua simplicidade e inteligência, explorando um humor peculiar, que parece advir do Leste Europeu. Senti alguma coisa do hábil Kusturica neste filme. Não há nenhum nome espetacular integrando o elenco, em nível de cinema mundial, e o diretor é estreante. Fico imaginando quanto teria sido o orçamento deste belo trabalho que bate de dez a zero em tanta babaquice que a gente vê por aí. Este primeiro filme do roteirista e diretor romeno, Corneliu Porumboiu, lhe valeu o prêmio de Melhor Diretor Estreante em Cannes. Filme imperdível! 


Morfeu e Iris (Pierre-Narcisse Guérin)

Ainda tem um restinho de noite e temos chance de sermos surpreendidos pela magia de uma história, apoiada em imagens, luz, música e atuação de atores, antes que "Morfeu" nos abduza para seu mundo.


 

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