sábado, 20 de agosto de 2011

O corpo é cagueta


O corpo é cagueta, dedo duro, x-9 e por aí vai . É ele quem primeiro nos denuncia quando somos surpreendidos com a boca na botija ou em qualquer outro lugar. O reflexo do corpo, diante do flagrante, pode virar um sestro, aquele cacoete entregador. Os jogadores de futebol quando cometem uma falta, descaradamente, levantam os braços ou apontam para a pelota, sugerindo que foram na bola e não no corpo do adversário que ali jaz, estendido no chão. O futebol, aliás, tem sido um teatro. Jogadores simulam isso e aquilo (o estilo cai cai do Neymar, por exemplo) na tentativa de enganar o árbitro. Um prato cheio para a neurolinguística.

Esses gestos e trejeitos que produzimos quase que mecanicamente diante de situações adversas fazem parte do cotidiano. Conheci um sujeito muito engraçado, o Daniel, excelente profissional que diariamente, ao ver qualquer um dos superiores hierárquicos entrar no recinto de trabalho, defendia-se dizendo: "Não fui eu, não fui eu". O meu sobrinho Luiz Arthur compreende bem um olhar de repreensão, e sai na defesa: "Fiz coisa errada, né"?


O cérebro, com a intenção de proteger seu "senhorio", num milésimo de segundo, dispara composições químicas (endomorfinas, adrenalinas e outras inas) que aceleram o coração, arregalam os olhos, secam a boca, gelam e/ou suam as mãos, as axilas sovaqueiras, os pés, esquentam o rosto, sobe ou some o sangue... tontura... gagueira... e mais uma coleção de sintomas que Deus sabe. E no instante seguinte vêm as frases insólitas...soltas, sem nexo, risinho amarelo. Tá fudido, meu amigo. Tá perdido. Entregue-se de bandeija porque, na verdade, suas reações já te entregaram. Haja performance cênica pra reverter o quadro.

Levante a mão o mentiroso que nunca foi pego em flagrante, saqueando uma lata de biscoito, com as calças na mão (ops), colando numa prova ou praticando qualquer tipo de deslize, seja ele profissional ou não. A expressão milenar "mea culpa" mexe com a gente. É uma grande provação. As ocasiões em que ela cabe são muitas e quando acontecem são desagradáveis, mas, depois, tudo vira piada. Claro que pode resultar numa demissão também, e aí é mais grave.

 


Não querer se acusar, não assumir a culpa, é algo intuitivo. Animalesco, pra deixar mais claro. A Nikita, nossa gatinha supra doméstica, é educadíssima. Mas, vez em quando a flagramos em cima da pia espreitando algum ranguinho, pra dar um sumiço. Ligeiríssima, salta pro chão num triz, com graça e agilidade felinas, e disfarça lambendo as patinhas.



Sabe aquele pecadinho que a gente nunca assume e que vive escamoteando em torno dele? Não tem erro, nem tampouco fica "gelo", uma hora dessas você vai ser pego. E aí, não adianta dizer ao interlocutor descobridor do seu vacilo: "Me erra cara".

Preparar-se é quase que impossivel, mas não custa nada ter algo em mente: uma desculpa deslavada, uma testemunha, um alíbi podem ajudar, mesmo sabendo que a verdade é igual a cortiça e que mentira tem pernas curtas.

Os músicos brasileiros, maioria boas vidas e curtidores das noitadas, sabem tratar o tema. 


"Eu errei, mas sou dono do que faço".
 
"Conheço os seus passos, eu vejo os seus erros"

"Eu não peço desculpa, e nem peço perdão, não, não é minha culpa,
 essa é minha obsessão".

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário