quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A força das redes


"Que país é este que junta milhões numa marcha gay, outros milhões numa marcha evangélica, muitas centenas numa marcha a favor da maconha, mas que não se mobiliza contra a corrupção?" (07/07/2011 Juan Arias, correspondente no Brasil do jornal espanhol El País).

Precisou um gringo constatar publicamente essa característica do povo brasileiro. E ele parece ter mesmo razão. Manifestações políticas, passeatas, barricadas são imagens que alguns viram, outros participaram, outros assistiram pela TV ou cinema. Movimentos que marcaram a década de 70, antes da ditadura. Mas... os tempos são outros. Há sim uma luz no fim do túnel.

As indignações estão sendo postas e expostas na internet, nas redes sociais. Mas não só indignações. Uma forma de comunicação ainda não mensurada em toda a sua abrangência vem sendo praticada ordenada e desordenadamente. Mobilizações surgem com uma teclada que se propaga fugazmente, ditadores caem, revoltas e confusões se estabelecem. Políticos, como Barak Obama, se utilizam de forma inteligente da rede mundial de computadores e se consolidam.




A força opressora de poucos poderosos tende a perder espaço. Uma revolta democrática se alastra com a tecnologia. Castradores, canalhas, déspotas, corruptos e corruptores precisam ser nossos alvos. Vão dançar, esperem pra ver!!! Quanto tempo? E como explicar ao jornalista espanhol porque o Brasil não consegue se mobilizar contra a corrupção? Aparentemente, o Brasil, apesar de ser um país que nada de braçadas na tecnologia da informação, ainda não está sabendo tirar proveito dessa realidade.

João Arruda Falcão escreveu na Revista Interesse Nacional o artigo "A Internet e as eleições de 2010 no Brasil". Um texto que apresenta impressionantes dados estatísticos. Os números mostram a dimensão e o poder da internet e das redes sociais: um em cada três brasileiros está conectado à internet (aproximadamente 70 milhões de pessoas), 79% fazem parte de redes sociais (equivalnte a 55 milhões de usuários). O Brasil é o quarto país onde mais se lêem blogs: são dois milhões e seiscentos mil brasileiros atualizando diariamente seus blogs. Entre eles, o Tyrannus.


São 492.750 horas de conteúdos inseridas no YouTube por ano, enquanto a Rede Globo produz 4.500. Falcão diz que hoje as redes sociais agregam jovens qualificados, mas futuramente vão aderir as pessoas sem barreiras de idade, de formação, cultural e/ou profissional. Fica uma impressão que estamos devendo a nós mesmos, pelo menos enquanto esperamos por um futuro que está quaaase chegando.

Os corruptos não merecem nada. Paredão é só o nome de um pacato lugarejo que fica na estrada de Cuiabá para Barra do Garças.


Paredão, uma das paisagens mais lindas de MT

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Ler

Pressupõe-se que o leitor antes de tudo saiba ler. Alfabetizar-se é uma das lindezas da vida. Assistimos esse momento mágico do Vítor, um gurizinho que nasceu aqui em casa. Numa noite estávamos os quatro (Lorenzo, Fátima, Beatriz e Vítor) na sala. Vítor brincava com umas peças de um antigo jogo de palavras cruzadas. Nossa! Quantas noites montando palavras cruzadas! Por um instante Beatriz mostrou para Vítor que, juntando as letras B + O + I, formava-se uma palavra. O Vítor olhou, juntou as letras, repetiu as sílabas. Mas nada de formar a palavra compreensível. De repente: BOI.
Esse instante foi como um flash, a sala se iluminou. Vimos nos seus olhinhos a alegria de ler. Desesperado ele começou a pegar objetos com rótulos para ler. Leu a marca da camisa do Lorenzo que ficava no bolso, foi na cozinha pegou a lata de óleo, pegou revistas... Uma fissura alucinante. Isso foi uma parte da noite. Quando fomos dormir, ele virou-se pra mim e disse: “Tô com medo de dormir e amanhã não lembrar mais!”
Ignat Bednarik
Quando conheci o "Seu Luiz" ele trabalhava na Fazenda Morro do Chapéu, no Manso, (acho que ainda trabalha lá). Ele tomava conta de tudo na fazenda. Uma pessoa incrível, uma prosa de fazer a gente perder a hora. Apesar de sua aparente simplicidade ele era (espero que ainda seja) a erudição popular em pessoa. Sabe aquelas pessoas que nascem sabendo e entendendo de todas as coisas? À noite, quando parte do povo dormia, "Seu Luiz" ia para um canto com o seu Tex nas mãos. Um dia ele me contou como aprendeu a ler. Disse que voltava da escola triste por não aprender a ler. Creio que se achava o mais ignorante dos meninos do mundo. De repente, uma folha de jornal veio voando e parou nos seus pés empoeirados. “Era um papel de bunda”, contou-me e disse que o pegou assim mesmo e pôs-se a soletrar: Ba, na, na... ba, na, na... bana... na, banana!!!!!! "Seu Luiz" relembrou que foi um lampejo, um raio que o atingiu... de inteligência.   

 Enfurnado dentro do ônibus com a cara enfiada dentro de um livro. Tem gente que é assim. Eu. Tu, ele, nós, vós e eles que andam de busu têm o direito de fazer isso. Quando percebemos alguém, em qualquer ligar que seja, lendo um livro, é normal sermos acometidos por uma curiosidade invasiva: “o que será que essa pessoa tá lendo?”
 Ler é uma das maravilhas que aprendemos na infância. Algumas pessoas, com o decorrer do tempo, acabam abandonando completamente esse aprendizado. Uma pena, porque ler é bom demais. Um exercício mental fabuloso, uma forma de adquirir conhecimentos, de se divertir, de ampliar o vocabulário e de entender melhor o mundo. E quando conseguimos nos tornar seletivos e melhorar a qualidade da nossa leitura com o andar da carruagem da vida, aí maninho e maninha, é o apogeu, é a melhor coisa que existe.

Gustave Coubert
Fico com pena de quem está fazendo mestrado, doutorado etc e precisa ler um catatau de coisas. Ah, e os estudantes que se preparam para o vestibular. Esses também são pobres coitados. Precisam saber de um mundaréu de coisas que, provavelmente, na próxima esquina da vida, boa parte do que leram de nada vai lhes valer para o resto da vida. Mas o bicho pega mesmo é pros lados desse povo que segue carreira acadêmica. Troço careta me parece esse academicismo superlativo. Sei que, entretanto, há exceções.

Ronaldo Cagiano
“Lorenzo, estou louca pra me aposentar pra poder ler só o que eu quero”, disse-me a amiga querida e poeta, Marta Cocco. Ela matou a pau, porque o hábito da leitura – essa imersão intelectual benfazeja, precisa estar associada ao prazer.

Artaud por Cristian Barnes

Um conto que acabei de ler do escritor Ronaldo Cagiano, “A Ilha Invisível”, do livro “Dezembro Indigesto”, foi a inspiração maior para este post. O personagem, que parece ser o próprio Cagiano, está lendo dentro de um ônibus em Brasília, totalmente entretido com um fabuloso romance de Albert Camus. Alguém se senta ao seu lado e ele percebe a curiosidade do companheiro de viagem em relação a ele e ao seu livro, mas não consegue dar bola pro cara. Ao final da viagem o sujeito se apresenta como Antonin Artaud e a história termina. A Cagiano, ou ao seu personagem, sobra um resto de arrependimento misturado com perplexidade. Não é todo dia que a gente dispensa uma conversinha com Artaud.


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Alegria de Emma

Depois de bailarmos no telão, acertamos na telinha. Fugimos do Planeta dos Macacos e viemos parar no cinema alemão moderno que costuma nos surpreender a cada novo título. Nada de Fassbinder, Herzog, Wim Wenders, Fritz Lang, Percy Adlon, entre outros e, muito menos, nada contra eles. São grandes cineastas alemães, responsáveis por belos filmes que marcaram nossas vidas, sendo que alguns deles, ainda na ativa, podem voltar a nos surpreender. A gente torce pra isso.
"A Alegria de Emma", de SvenTaddicken, filme de 2006, preencheu o vazio cinematográfico do final de semana aqui neste lar feliz, embora um pouco melancholicus e tyrannus también. Foi a nossa salvação, diante de um pouco de intolerância que demonstramos para com o filme que tentamos assistir no cinema no sábado (vide post anterior a este).
Inevitável não comparar os dois filmes. É fácil de reparar no que significa um bom roteiro, escrito de forma criativa, elaborado e cerebral, sem apelar para as saídas fáceis e sem estacionar no lugar comum. Porque em cinema é mais ou menos assim: o filme tem que estacionar em local proibido... em cima da calçada, na faixa de pedestre, na frente de uma garagem etc. Chega de sapo parnasiano, de lirismo bem comportado, abaixo os enlatados... Viva a arte do cinema, aquela que mexe com a gente, que faz a gente desentender, que nos emociona de verdade, 'bravo' daquele filme que a gente assiste e sabe que depois dele nunca mais seremos a mesma pessoa.
Pois o jovem cineasta alemão, Taddicken, ganhador de alguns prêmios, mas nenhum espetacular, nos pegou de surpresa. Uma fazendeira falida e um vendedor de carros que descobre que terá sua vida abreviada por um câncer fulminante, têm seus destinos cruzados. 


Desesperado ele rouba um jaguar e dinheiro do seu emprego e sai para o México. Numa fuga desenfreada ele perde o controle (ou propositalmente perde), capota o veículo e vai parar na fazenda de Emma. Da rude Emma, uma alemã, loira, forte (em todos os sentidos: físico e na defesa de seus própositos), que sozinha encara todos os afazeres de sua fazenda (montoeira de afazeres rurais). Porcos e galinhas são os seres por quem ela demonstra carinho e respeito (mesmo na hora de matá-los). Essa é a sinopse deste filme terno e filosófico, uma comédia dramática, que trata sem o menor pudor, mas também sem exageros ou agressividades, o complexo tema da morte.

Mas não é só a morte em si. "A Alegria de Emma", com sua fotografia limpa e impecável, fala do amor, e da amizade, coisas comuns aos seres humanos; mas trata-os com uma permissividade raramente vista. Numa cena em que Emma está tirando as víscera de um porco, ela diz para Max: "as pessoas tem mais medo da morte do que da própria morte". Ela tem razão, às vezes sofremos e vivemos antecipadamente. A Alegria de Emma ensina a viver intensamente o que está sendo vivido. 



sábado, 27 de agosto de 2011

Planeta dos Macacos


Beijo sem antropocentrismo
Matinê no sábado, sessão da tarde. Fomos acometidos por essa nostalgia e às três horas estávamos lá, no escurinho do cinema. Pipoca e refrigerante pequenos e uma água, pela bagatela de R$ 11,50!!!! Como são caros esses aditivos vendidos no cinema. E o pior é que não é permitido levar matula. Quer dizer, pode sim, mas tem que ser escondido.

A inspiração foi o filme "Planeta dos Macacos - A Origem". Filme de entretenimento pra se divertir, nada de expectativas. Precisamos fazer isso de vez em quando já que temos tendência de nos enclausurar. Os comentários gerais sobre o filme, na internet e na TV, prometiam muita ação e emoção.
Sempre que nos deparamos com as reprises e mais reprises de um dos cinco filmes sobre o tal planeta na TV, gostamos de assistir mesmo que pedaços. Neste, mesmo com a tela grande, em menos de uma hora, uma cutucada: não tô gostando, não. Macacos me mordam! Cinco minutos depois, caímos fora.

O primeiro filme de 1968, "O Planeta dos Macacos" é ótimo. A cena final, quando Charlton Heston cavalgando numa praia e dando de cara com a Estátua da Liberdade semi enterrada é antológica. Depois desse filme a indústria do entretenimento desovou várias sequências, uma série de TV, desenhos animados e histórias em quadrinhos. Até Tim Burton, em 2001, explorou a história. Vale lembrar que tudo começou com o romance de Pierre Boule (La Planète des Singes), publicado em 1963. Pra ser sincero, acho que Charles Darwin, com a sua Teoria da Evolução, semeada em 1844, já esbarrava no tema, desbancando o antropomorfismo exacerbado.


Pois é, tentamos. Sou chato pra cinema, mas gosto de me surpreender. Sair prá assistir algo totalmente desavisado, sem ler nada antes é arriscar. Embora isso, na maioria das vezes, seja frustrante, insisto. "Sair pra ver porcaria no cinema, prefiro assistir em casa". Verdade verdadeira.

 Mas este "Planeta dos Macacos - A Origem" é morno demasiado. Personagens fracos, que mais pareciam de um filme infantil, roteiro cheio de clichês descabidos, fotografia sem nada de especial e sem escala: o tamanho do chimpanzé é desproporcional quando contracena com os personagens humanos. Os movimentos do Cesar (o chimpanzé) são computadorizados e com novidades da tecnologia, mas, mesmo assim, me fizeram lembrar as criaturas de um antigo filme, “Jumanji” (1995), um dos primeiros a se utilizar de técnicas de computador para animar personagens. 

Freida Pinto e James Franco 
Estes escritos não devem ser entendidos como uma resenha ou crítica, até porque, assistimos apenas parte do filme. Não seria justo. Até onde fomos, de interessante registramos a consistência do personagem interpretado pelo veterano John Lithgow e a curiosa participação de um expressivo orangotango. O diretor inglês Rupert Wyatt está longe de ser uma referência em cinema. 

Construindo Cesar
Mas também não cabe uma crítica velada ao seu trabalho neste “Planeta dos Macacos – A Origem”. Tudo leva a crer que ele fez o que era pra ser feito. Fica a impressão que o filme é mais um desses caça níqueis (e quantos níqueis), na linha blockbuster. Aquelas produções poderosas financeiramente falando, mas que quase nada têm a ver com o cinema enquanto arte. O lançamento do filme nos USA extrapolou a expectativa em nível de bilheteria, e pelo jeito ressuscitou a série. 


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Steve Jobs e a obsolescência

Steve Jobs. Esse é o cara. Nesta semana uma falação infernal sobre o sujeito, aquele mesmo. Meio arquiinimigo e um pouco falso amigo do Bill Gates. Mas Jobs, cujo nome é trabalho, renunciou o cargo de presidente da Apple, que ele mesmo fundou em 1970. Fica a dúvida: qual deles? O empresário, dono da maior parte das ações da Apple? O visionário, com a mente a 10 ou 100 anos na frente dos demais mortais? Ou aquele com problemas iguais a todo mundo?

Apostamos que o mundo corporativo pensa no Steve Jobs empresário, milionário, audacioso e criativo, capaz de elevar uma marca à estratosfera. O séquito fiel de admiradores pensa no Jobs esteta, onde design, funcionalidade e elegância são fundamentais para seus inventos caírem no gosto do público. Não imaginamos quem pensa no Jobs humano, demasiadamente humano. Só ele mesmo, decerto, quando vai vestir a camisa preta de mangas longas, de gola falsa (St. Croix), sua calça jeans (Levi’s 501) e o tênis (New Balance).


Jobs é chique. Tipo bom gosto predominante. "Pra você dormir bem a noite, a estética, a qualidade, precisa estar em todos os lugares". Ele nasceu em 1955 na Califórnia, filho natural do sírio Absulfattah Jandali, estudante e depois professor de ciências políticas, e de uma jovem americana. Tem uma irmã natural, a romancista Mona Simpson.  Segundo o próprio, foi rejeitado duas vezes: a primeira, pelos pais, que o deram para adoção; e depois pela família que o adotou: eles sonhavam e desejavam uma menina. Claro que deu a volta por cima e se tornou um ícone destes tempos de bytes, chips, memória ran e o escambau.




A tal da geração Y, essa juventude que nasceu interneteira, deve muito a ele. Deve, que eu escrevo, é porque as maravilhas do crediário permitem que novos e novos produtos de alta tecnologia sejam adquiridos em espaços irrisórios de tempo, antes mesmo do produto anterior, que será substituído, se tornar imprestável. Daí que o nome de Jobs, comumente, é associado com a obsolescência programada, uma expressão que descarta explicações. Descartar, aliás, é o verbo.


Persuasão, carisma, temperamental, agressivo, exigente, egocêntrico... São características descritas pelos amigos e companheiros de Jobs, que não consome outra carne que não seja peixe. Quando jovem foi à Índia em busca de iluminação espiritual, voltou budista e fã de LSD. Diferente de Bill Gates não é filantrópico, muito pelo contrário: Ao retornar à Apple em 1997 (ele tinha se afastado em 1984), eliminou todos os programas filantrópicos da empresa.  Algo curioso que ouvimos sobre ele é que a qualidade e a estética imprimida aos produtos da Apple acabaram fazendo com que toda a mídia mundial trabalhasse para o marketing da empresa.


Pois é. Na última quarta-feira ele declarou seu afastamento voluntário do comando da Apple. Foi o suficiente para a empresa tornar-se a maior do mundo de capital aberto. 
  

Seria o legado de Steve Jobs a obsolescência programada, que faz com que o nosso amado aparelhinho envelheça (num estalar de dedos) ao surgiu um novo modelo, que nos envergonhe por estar ultrapassado ou que planejemos descartá-lo por outro I (pod/pad) da vida? A frase abaixo é dele e não é nada descartável: “Você pode encarar um erro como uma besteira a ser esquecida, ou como um resultado que aponta uma nova direção”.


Os prazos de validade de uso e de desejo estão cada vez menores; desejamos, desejamos o novo como se fosse uma paixão avassaladora, indispensável. Não é bobagem sofrer por isso? Quais são os nossos desejos? É bom dar uma pensada nisso.






“O mundo é suficientemente grande para satisfazer a necessidade de todos, mas é demasiadamente pequeno para a ganância de alguns”. (Gandhi)



O rei do miojo


Momofuko Ando (AFP/Getty Images imagem tri)
A quinta-feira noite adentrando-se e quase deixamos escapar um valioso registro histórico atribuído ao 25 de agosto. Momofuko Ando, um taiwanês que, após a segunda Guerra Mundial naturalizou-se japonês, criou em 1958, numa época marcada pela escassez de comida, um alimento que revolucionaria a culinária mundial: o chikin ramen (pra nós, o miojo). Esse alimento prático, acessível e que satisfaz tornou Momofuko uma das personalidades mundiais do século XX. Um sucesso instantâneo. O registro desse fenomeno está no Momofuko Ando Instant Ramen Museum, perpetuado para o mundo.
A renúncia é um prato de miojo frio?
Nesta data nascia o miojo. Aquele macarrãozinho de fácil e rápido preparo tem uma única coisa em comum comigo: nascemos no mesmo ano. Nem por isso gosto de miojo. Diante dessa descoberta mirabolante (o miojo) que há 53 anos mudou a vida do ser humano sobre o planeta para sempre, me ajoelho e elejo como fantástico tema para este post, o miojo. E digo em seguida: odeio miojo.

Ainda vou fazer do miojo jornalismo literário
A mais famosa empresa produtora de miojo propôs, neste ano, para comemorar seu aniversário, que restaurantes chiquérrimos de São Paulo criassem receitas especialmente para a data. Rolou miojo com camarões e aspargos, com lagosta e limão cravo, com frango e quiabo. Ano que vem, comemoraremos com um prato que utilize essencias da terra e faremos o miojo com pequi e lambari frito (tentarei resolver meu trauma ou sei lá o que com esse rango moderno).

Posso ver: É um miojo voador
Se estivéssemos já em outubro e fôsse o dia 25, seria mais fácil para mim. Estaríamos no dia internacional do macarrão e também no natalício da nossa primogênita. Cumprindo a missão e o destino do nosso argumento, este texto será rapido, de fácil deglutição e satisfação duvidosa. É hoje tá barra!
Não costumamos garimpar, pesquisar para surgir uma pauta. A varredura é após a pauta já definida, mas hoje foi diferente. E foi assim que chegamos ao natalício desse objeto do desejo que revolucionou o paladar.

Siga-me quem quiser miojo
Descobrirmos que também foi em 25/08 que Nietzsche morreu, que este é o dia do soldado (cabeça de papel), que Truman Capote teve seu game over na data, que Jânio Quadros renunciou, que Galileu Galilei inventou o telescópio e mais alguns acontecimentos mais ou menos vultuosos, nenhum deles... bom, se  aproximou do sucesso do miojo. Se cozinhar demais, passa do ponto...

Assim falou Momofuko

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Bonsucesso

Vendo essa paisagem bucólica até parece que o tempo parou por aqui.  Mas não parou não... Ainda existem lugares nesse mundo em a correria imposta por esses tempos modernos passa batida e ninguém repara. Reparar pra quê?! Salta de banda!  Aqui a hora tem outra métrica. É a luz do sol e a sombra das árvores e das coisas que dão a noção e a dimensão do dia.  Calmaria. Lugarzinho que parece desentranhado da obra de um bom ficcionista regional. Mas aqui tem gente, tem negócio, comércio... O business é outra prosa por estas bandas.

O lugarejo é apropriado para um filme de época. Nem dá trabalho... não precisa botar mais nada, tudo no seu devido  lugar. O cenário é real. Luz, câmera, ação... Bom, a ação é um pouco lenta, se deixar por conta “dos povo...”  
As bandeirinhas da festa de santo vão ficando... Desbotando e se desfazendo. Deixa aí menino, tá tão bonito. Na canoa velha, encarquilhada pelo tempo, as cebolinhas vingam. É o tempero da vida pacata desse povo ribeirinho que faz o executivo querer afrouxar o nó da gravata, tirar o sapato e caminhar pelo terreiro. Cuidado com a bosta de galinha, num pisa aí. Passa cachorro. 

Dá o pé loro! Aqui ainda se vive num tempo que papagaio em casa não era pecado. Loro fica na janela, de botuca, e não rejeita assunto. Fala que nem o homem da cobra quando dá em sua cabeça de esplendor multicolorido. Ruelas e árvores que resistem ao tempo, testemunhas soberbas dessa rotina de outrora que ainda cabe nesta outra hora de futuro implacável. Nem VLT, nem BRT... Carro de boi na cabeça.



Até o gado, coadjuvante secular destas searas, entra na dança e descansa. Sol tá quente. Propício à placidez bovina. Procura-se e acha-se sombra boa, refúgio de calor. Com quantos paus se faz uma canoa e como fazer uma rede gostosa pra balangar nela. A ciência simplificada da vida ribeirinha é feita de costumes que atravessam o tempo que passa assim meio em vão.

  
  

Entre a vegetação da mata parceira do barranco vê-se o rio. Canoa com pescador batendo ponto no ofício. O peixe é que nem pão: nosso de cada dia. O rio é generoso e ainda aguenta o tranco. O tronco, o troço, o treco e toda podriqueira que jogam nele.


Ao longe, impávido, a tudo assiste uma testemunha agigantada, sentinela solitária desta terra de cerrado. O Morro de Santo Antônio que tudo vê. Sim, esse lugar existe. Dizem que é bem antigo. E não tem como não concordar com isso. Teve uma vez em que assuntei com um pescador sábio, de cabelos esbranquiçados, sobre a existência ou não do tal do Negrinho D’água. Ele me contou que pescavaa numa noite de pouco luar e viu um vulto estranho. Arremedou até o barulho do Negrinho caindo n’água. “Duvidá que existe memo... vai sabê!”