terça-feira, 31 de julho de 2012

Conversa de pescador...


Tá nervoso? Vai pescar, camarada! Essa é velha, mas tem novidade no contexto da coisa. É o seguinte, gente boa: se você é pescador amador, vai ter que comer o peixe lá na beira do rio mesmo, tá sabendo? E não pode acender fogueira, porque há risco de incêndio nesta época de seca. De duas uma, ou as duas e tudo ao mesmo tempo agora: a venda de fogareiros vai ser aquecida, ou o sashimi vai virar mania nessa beiradona de rio, seja abaixo, ou acima.


A outra opção é tentar burlar a lei. Qual lei? Ora, a lei que proíbe que pescadores amadores transportem o pescado. Ainda não tivemos acesso ao que diz a nova legislação que a gente pescou por aí... Mas, já tem gente maldosa dizendo que a lei não vai valer pra pescador amador que for "peixe grande". É que "peixe grande e suas histórias maravilhosas" está no campo da ficção, do cinema. Ah, tá bom... Conversa de pescador. Só pode ser, porque se não for, não é.




E se você está duvidando, pesque e pague. Pague pra ver. Agora o isopor e o freezer não serão mais seus companheiros quando você torar pra beira do rio. Quer dizer, esses recipientes podem ir cheios, mas têm que voltar vazios. A não ser que você leve a cerveja apenas pra passear na beira do rio, o que seria ideal, mas está longe de funcionar por aqui. Nestas paragens cuiabanas temos estação das águas e da seca. Lei seca, necas de pitibiriba. Bafômetro deve ser demais de caro... Ah, e se tivesse e fosse usado o tal do bafômetro, quanto bafão não ia rolar.


“Piquira morde?”. Pergunta feita no século e milênio passados por uma amiga que passou um final de semana no Rio de Janeiro, entre cariocas e cocorocas, e por lá deixou sua memória recente. "Duvidá" que ela também não sabe o quê que é lambari de esgoto, que nunca ouviu falar de rapa canoa e nem nunca foi ferrada por tchum tchum... aquele bagrinho piquititinho que machuca pra danado. 




Então é isso, pescadores e pescadoras, que amam matar mosquito e dar banho em minhoca nesse mundão sem porteira, mas com canoa e sarã, nas curvas de rio de existem por aqui. Essa lei vai ser um enrosco só pros que gostam de aliviar o stress segurando uma vara. Tá estranhando por quê? Quem pesca segura mesmo na vara... vai dizer que você vai de tarrafa? Pescou, tem que comer por ali mesmo, no barranco. Se for lá pras bandas de Leverger, num lugar chamado Barranco Alto, leva um banquinho que pode ajudar.  
   
Barranco Alto

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Ouro, prata ou bronze?


Marina Silva levou a bandeira dos Jogos Olímpicos e
Aldo Rebelo deu bandeira: inveja pura!

De olhos bem abertos e grudados na TV, nem sempre nesta ordem e às vezes dormindo e grudados na TV. Controle remoto na mão, pula pra lá, pula pra cá. Desde a semana passada, mesmo antes da abertura, porque as competições de futebol já tinham começado. Parece até que estamos em Londres... ao som de “London calling”, quem dera! 


E a história desse certame mundial para nós, brasileiros, é a de sempre. Algumas alegrias, outras decepções. Em matéria de medalhas, a Olimpíada é mais um negócio da China e dos USA, do que do Brasil, só pra citar dois países que nos colocam no bolso. Medalhas... bolso... já falamos sobre isso por aqui.





Que Paul McCartney, que Arctic Monkeys que nada. Mister Bean é que mandou bem na abertura, tocando piano ao estilo samba de uma nota só. Medalha, medalha, medalha... o que que é isso? É a delegação brasileira? A chinesa? A americana? Ou seria o cachorro Muttley, do desenho animado Corrida Maluca? Não... é o dirigente da CBF José Maria Marin, que lá está, com seu visual de madeixas acaju e uma interminável lista de convidados. É a cartolagem livre que se costuma praticar em eventos como esse.


No desfile de abertura, minúsculas delegações de pequenos países, com meia dúzia de atletas, mas lá estavam desfilando vinte ou mais componentes. Não é só no Brasil que essas coisas acontecem. Quanta ingenuidade... Na verdade, o que acontece é que em algumas modalidades, rola muita grana, e onde tem din-din, tem cartolagem e politicagem no meio.  E claro que também tem atleta mercenário, mau elemento, mau caráter etc e tal.


Dias atrás, antes dos jogos de Londres começarem, vimos uma entrevista com aquele que talvez seja o mais atuante jornalista investigativo dos esportes, o escocês Andrew Jennings. O sujeito, nos últimos anos, é o principal inimigo da cartolagem em nível universal. Ou planetário, se preferirem. Planetário, nós dissemos... e não panfletário.


Andrew Jennings 




Jennings, pra quem não sabe, já noticiou - ou bradou mesmo, contra roubalheiras que acontecem em instituições esportivas pelo mundo. Seu alvo principal tem sido a Fifa, mas ele não poupa seu machado em relação ao que os dirigentes esportivos brasileiros vem fazendo. João Havelange e Ricardo Teixeira tiveram suas maracutaias desmascaradas e alardeadas por ele. "O problema da CBF não acabou com Marin. Todos são da mesma família de bandidos", disse ele em entrevista à ESPN.






Quem quiser conferir ... http://espn.estadao.com.br/video/270463_para-andrew-jennings-o-problema-da-cbf-nao-acabou-com-marin-todos-sao-da-mesma-familia-de-bandidos


Pela Fifa ele está banido das coletivas da instituição. Em 2010 teve um arranca rabo com Jack Warner, vice-presidente da Federação na época. Ele abordou o cartola quando este se dirigia ao seu carrão e o dirigente foi logo falando: "Se eu pudesse, cuspiria em você, porque você é um lixo". Jennings não esmoreceu e indagou sobre propinas e veio a resposta na lata: "Pergunte à sua mãe". "Não posso, ela está morta", respondeu o jornalista. Warner, segundo explicações, demitiu-se voluntariamente depois desse rififi. Agora, quem está na mira de Jennings é Sepp Blater, o todo poderoso, ou cafifento, como diria Bento Carneiro, o vampiro brasileiro.   


Blater

Na entrevista do link acima, Jennings elogia Romário, ex-jogador que agora é deputado federal. O escocês demonstrou muita vontade de encontrar o craque para trocarem ideias a respeito desses esquemas futebolísticos extra-campo que envolvem a Copa de 2014. Tudo leva a crer que são defensores da lisura no mundo esportivo. É o que se espera de um político e de um jornalista decentes.


Romário, segundo um site, apesar de ter língua solta, anda esquivo em relação a críticas a José Maria Marin. Talvez o "Peixe" não queira morrer pela boca sei lá em qual sentido. Bom, além de torcer pelo Brasil, estaremos torcendo para que Jennings e o Baixinho se encontrem e rasguem o verbo. E fechamos o post de hoje com a máxima de Lorde Northclif: "Notícia é tudo aquilo que alguém não quer que seja publicado. O resto é publicidade". Millôr Fernandes, célebre pensador tupiniquim, tem uma frase similar que a gente manda aqui: "Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados".


Sarah Menezes: Ouro no judô

Thiago Pereira: Prata na natação
Ana Sátila, é bem Mato Grosso

domingo, 29 de julho de 2012

Quase pastel

Para o aeroporto. Rápido. Não é nada delicado deixar uma pessoa querida esperando após algumas horas de voo, com direito àquelas indesejáveis escalas. Várzea Grande é o destino obrigatório de qualquer um que chega de asa dura em Cuiabá. Pode ser que o trânsito não esteja não fluindo, então, é preciso planejar, o que significa sair de casa num horário que dê margem a possíveis problemas no tráfego.Várzea Grande, ou Vajú, como diziam noutros tempos, fica logo ali. É só atravessar o rio Cuiabá e tá lá, a cidade vizinha. Saio de casa demais de cedo e em menos de quinze minutinhos tô lá. E agora...? Mofar no aeroporto é o que não quero. Meu estômago emite sinais de que aceita algo e preciso de uma estratégia passatempo. E bate aquela larica avassaladora. Vem que vem. Não sei bem se é fome ou vontade de comer. Pode ser que os dois juntos.




Aquele atentado contra a saúde na hora matinal está a um passo de ser consumado. Comer um pastel de botequim, acompanhado por uma coca-cola. Não é possível que não encontre um muquifo, que seja, em alguma quebrada aqui da VG, para saciar meu desejo. Um dia desses tomo vergonha na cara e acabo com essa mania descabida, de comer porcariada na rua. Já sou bem grandinho pra saber o que devo e posso fazer pela minha saúde. Mas não hoje. Não agora.


Em vez de seguir a avenida que dá acesso ao aeroporto, tóro para o centro de Várzea Grande. Rodo por ali devagarzinho e nada de encontrar algo que me sirva. E minha boca tá aguando pelo pastelzinho, fritura maligna que vai acabando com a minha raça. Vislumbro numa avenida espremida uns trailers. Daqueles onde sempre as condições de higiene mandam lembranças. A música sertaneja me vem à cabeça: "é pra lá que eu vou!". 






Encosto o carro e desço. No primeiro trailer, além de não ter pastel, ainda está um bêbado daqueles bem pegajosos. Ele se dirige à minha pessoa, mas não dou ouvidos. Sigo andando para  outro muquifo pé sujo ali ao lado. De novo, nada de pastel. Só aqueles salgados imprestáveis que, sabe Deus desde quando, estão naquela vitrine desalentadora. Acho que vou de coxinha, na falta do pastel. A coxinha, sabe, quando ela é feita com massa de mandioca, se você der sorte e se ela for jovem, até que é gostosa. O problema é que pode ficar pingando gordura enquanto a gente manda pra dentro. Pela vitrine até que ela tá bonita. Tenho esperanças que ela seja de massa de mandioca, e não de trigo. "Do que é a coxinha?". Vem a resposta desentendida da humilde moça: "De carne".






Requentada na praga do microondas, o alimento me é servido com aqueles sachezinhos de catchup e maionese. O crime contra a saúde será completo. Sirvo a coca no copo e percebo que o bêbado, que nem eu, está migrando de local. Nem olho, mas sinto seu olhar em minha direção. Está vindo se juntar a mim. Dou a primeira dentada na coxinha, já incomodado com o companheiro que chega. Tenho mais um motivo pra me incomodar, porque dou mais uma dentada na coxinha, pra me certificar... Está uma bela de uma porcaria. Tomo um gole da coca. Faltava que ela estivesse choca. Mas não está. Vou me levantando. Talvez a aeronave já esteja no pátio.






“Compre um desse aqui pra mim...”. Diz o bebum retorcendo a boca, já íntimo e ao meu lado. Ele mostra um desses salgados recheados de presunto e queijo. Percebo as beiradas da mussarela e do presunto ressecados. Sem pestanejar, entrego a coxinha ao bêbado e ele me olha com uma cara de espanto ou de sei lá o que. “E ieu vo comê isso????”. “Ah, num qué?”, respondo. Ele dá um sorriso e arremata me tomando a coxinha: “Quero sim”. E o pastel vai ficar pra outra ocasião.




sábado, 28 de julho de 2012

Hanami: Cerejeiras em flor


Anteontem foi mamão com açúcar: beleza, juventude e as agruras do amor. Nesta fase da vida é fácil. Pelo menos parece. Talvez porque já passamos por tudo isso.  O difícil é discorrer sobre algo que é o nosso horizonte: a velhice, a vida a dois, a involuntária separação e um só caminho: a solidão.   


“Hanami: Cerejeiras em flor”(2008), produção franco-alemã, é um filme que retrata a vida de um casal interiorano de uma pequena cidade na Alemanha. Para o diagnóstico avassalador um único remédio: aproveitar o tempo que resta e ser feliz.  A primeira lembrança: os filhos, que têm suas famílias e seus problemas. Hoje são estranhos para o casal e eles estranham a repentina invasão dos velhos pais em suas vidas, quebrando suas rotinas. O incomodo afeta a todos. Quero “voltar para casa, voltar para você”, diz o marido cansado de viajar. 






A morte inesperadamente acomete a esposa. Justamente ela que queria proporcionar dias felizes ao marido condenado pela doença, fura a fila e se manda. E ele sequer sabia da sua situação terminal. A infelicidade agora está completa com a ausência da companheira.




É no luto, na luta com a dor da perda, que ele descobre o quanto ela dedicou sua vida a ele e aos filhos. Seus sonhos ficaram registrados nos postais, em livros, na poesia e na delicadeza e força das expressões que emanam do Butoh. E ele sai para conhecer o mundo que ela tanto sonhou, com a intenção de levá-la nessa viagem de gratidão ao amor. É sua transitoriedade.



Direção de Doris Dorrie




Filme triste e cheio de ensinamentos, que vale a pena ser visto pelo tratamento poético que aflora na edição, com imagens e palavras cheias de uma sutileza do tamanho do mundo.  Passando ferro num lenço, eis que cai uma lágrima do seu olho na pequena peça de tecido delicado. A quentura do ferro de passar, rapidamente, disfarça a reação espontânea do sofrimento.


Butoh

Tadashi Endo




Mas é preciso tocar a vida. Quem sabe, como ela queria, espreitar a celebridade que é o Monte Fuji, que deixa de ser apenas uma montanha a mais, como ele achava e dizia antes à companheira, agora ausente.  


Butoh e reflexo do Monte Fuji

sexta-feira, 27 de julho de 2012

A bela Junie


Amar faz parte da vida, mas quantos problemas... frustrações e até acontecimentos trágicos pode trazer este verbo, intransitivo, segundo Mário de Andrade. Se é intransitivo, quer dizer que não precisa de complemento, porém, como amar sem o complemento do seu amor? Um amigo inspirado e engraçado falava sempre esta frase de sua autoria: "eu me amo, mas não sou correspondido".   


Uma agradável mistura de boniteza e juventude é comentário que cai bem para "A bela Junie" (2008), filme do francês Christophe Honoré. O amor dos jovens foi nos conduzindo e nos deixamos levar assim meio indecisos. Ao final nos rendemos, inebriados de amor. Os amores juvenis são o tema desta trama, que lembra o poema Quadrilha, do Drummond.


A história se passa no ambiente de uma comunidade escolar. Junie, não se preocupe se não achá-la linda de momento. Ela com uma carinha estranha e um arzinho “blasé” vai te conquistando até você deixar se abater e reconhecer que ela tem uma beleza estonteante. Desse mesmo jeito ela conquista alguns de seus colegas, até seus professores. Pode não ser muito recomendável, mas, professor(a) se apaixonar por uma aluna(o) é fato comum em qualquer lugar do mundo.  Um pouquinho de ingenuidade aqui, fofocas pra lá e pra cá, homossexualismo recôndito, amores correspondidos e/ou não. É assim que vai rolando o aprendizado nessa nada discreta escola onde Junie  chegou para abalar as estruturas. 


Louis Garrel

Léa Seydoux


Ela não é vilã, longe disso. Às vezes se mostra até madura demais, retraída em seus sentimentos, porque parece saber dos estragos que sua beleza pode causar. Na verdade o filme é um desfile de gente bonita. São jovens e a beleza é uma condição desta etapa de vida.  O ator que faz o professor de italiano,  filho do diretor Philippe Garrel, contracena com a bela e é um dos mais bonitos rostos da atualidade. 


Christophe Honoré


Sim Junie e Nemour, são demais de lindos. Os personagens deste romance/drama vão se mostrando e crescendo no enredo que ganha corpo e prende o espectador. Com uma fotografia sóbria e aquele estilo de trilha sonora francesa com aquelas músicas que beiram o que chamaríamos de brega aqui no Brasil, o jovem cineasta conduz seu filme com segurança.  




"A bela Junie" é inspirado livremente em "La Princesse de Clèves", de Madame de La Fayette, escritora que viveu no século XVII.   A obra é considerada a primeira novela genuinamente francesa, cujo texto é apontado como o protótipo da novela psicológica. Por falar em ficção psicológica, lembramo-nos de Hitchcock, com suas aparições incidentais em seus filmes, o que torna cabível aqui mencionar a rapidíssima participação neste filme da bela Chiara Mastroianni. 
  
Madame de La Fayette

quarta-feira, 25 de julho de 2012

A grande família


Entendi que era gente quando botaram na minha cabeça, nas salas de aula, que a família é a célula mater da sociedade. E fazendo aquela carinha de interesse no assunto, viajava, divagava... Imaginava uma família de pai, mãe, filhos, irmãos, tios, sobrinhos, primos, cunhados, avós paternos e maternos; encontrando com outra família e passando a viver juntas. Aí aparecia outra que se juntava a outra... O filho de uma família casava com a prima da outra ... e assim uma nova família começava, com cargas e heranças genéticas e culturais, com peculiaridades que iam se misturando, embolando...


Viver junto é bom, é ruim, é conveniente. Pessoas juntas se fortaleceram, produziram mais, defenderam melhor, saquearam com mais sucesso... desse jeito teriam se formado as sociedades? E nos meus pensamentos de criança, não é que tava certo? 


Mas fizemos parte de uma geração que combateu tudo e todos. Do "contra tudo", da contracultura e principalmente daquilo que significasse "establishment". E... a família era a representação mais próxima, mais resistente e acomodada a situação. Diferente do nosso pensamento naquelas épocas, a família é a estrutura social mais flexível que existe, porque a amálgama que a une, na maioria absoluta, é o amor aos descendentes e ascendentes. A família do século XXI é bem diferente da tradicional papai, mamãe, filhos... Hoje são vários arranjos e versões... que bom!


Família Corlenone

Inesquecível Família Trapo




Mas... família é família. Dramas, tramas, chantagens... E sai debaixo! Quando convivemos muito tempo com um grupo de pessoas, nas horas de emoção nos referimos a ele como "família". Isso quer dizer que rola amor, mas também rola muito sentimento e atos de baixo calão. A literatura, teatro, cinema e TV têm na família uma grande fonte de inspiração. Tanto para tragédias, como para comédias, passando pelo drama.  


Grande família: problemas!



Agostinho briga com Bebel na vida real e esquenta o clima em "A Grande Família". É assim que funciona esse pequeno grupo de pessoas que "almoça junto todo dia/nunca perde essa mania". Há esse registro na história das animações, desde a pedra lascada, com os Flintstones e seus quiprocós diários, até as calhordices inusitadas e verdadeiras e escancaradas em "Os Simpsons". 



Por que tenho 3 filhos e nenhum dinheiro?
Eu não poderia ter 3 dinheiros e nenhum filho? (Homer Simpson) 




Família é assim, nunca sai de moda, não nega fogo na hora de precisão (mesmo a contragosto, resmungando, falando que avisou etc e tal), mas nos socorre. Cada família tem seu jeito de tratar, de viver... algumas muito simples outras complexas como as retratadas pelo Nelson Rodrigues. Uma coisa é verdade, é inegável: quem conhece os segredos de família, é a barata!
As baratas ainda acreditam no grande barato!

terça-feira, 24 de julho de 2012

Escritor


Tá no DNA

Deitar a letra no papel e fazer correr a tinta. Hábito que vai caindo em desuso. Abrir um arquivo de texto novo no seu monitor e castigar o teclado. Essa é a prática nos dias atuais. E usar e abusar da honestidade. Para consigo mesmo e para com os outros. O Brasil comemora neste 25 de julho o Dia do Escritor.  Nós também. E vamos de palavras, mas, com um pouco mais de cuidado, ou carinho, por causa da data.


Essa conversa de definir o que é e o que não é literatura é briga pra cachorro grande. Nosso mundo é cão, mas somos de pequeno porte. Esse negócio de bater no peito e dizer: "sou escritor", é só quando não dá pra fugir mesmo. Livros publicados, elogios e até alguns prêmios literários nada garantem. "La garantia soy yo". Confessar-se um escritor é algo que pode soar meio afetado.


Em todo caso, vale o registro de que o Dia do Escritor, que é comemorado nesta quarta-feira, está acontecendo pela quinquagésima segunda vez. A data nasceu em 1960. Foi instituicionalizado com a realização do I Festival do Escritor Brasileiro, promovido pela UBE - União Brasileira dos Escritores que, naqueles tempos, tinha como vice-presidente, Jorge Amado. Não citar o presidente pode ser um pecado mortal. Tudo bem, presidia a UBE, João Peregrino Júnior. Deus nos livre de ser execrados por essa entidade.






O Zé Carioca, aquele mesmo do Walt Disney, nos tempos em que eu lia gibi, abriu uma de suas histórias batendo no peito e o "balão" anunciava: "Tenho dezessete livros, todos inéditos". Escrever, por mais simples ou mínimo que seja o que você tem a dizer, é sempre aquele procedimento. Você tem a ideia e fica achando que transpô-la ao papel é fácil. Chega na hora, cadê que as palavras surgem? As malditas palavras, o problema delas, é que elas são insubordinadas. E se a maior parte das pessoas enfrenta esse dramalhão pra escrever um único parágrafo, imaginem os coitados dos escritores.


Escritor de 17 livros inéditos




E podes crer, muitos escritores escrevem por causa das suas inquietações. Sentem na carne e na alma os efeitos de alguma carga volátil, mas com o peso de uma bigorna, que os obriga a botar algo pra fora. E se vingam, ou tentam se vingar, ou sei lá o quê; agrupando letras, palavras, frases, sentenças, parágrafos, páginas, capítulos... e os malditos livros. Esse objeto de papel que persegue a humanidade desde que a liguagem extrapolou a oralidade.






Não sei e nem pesquisei pra saber de onde foi que saiu aquela conversa que associa escrever um livro, com ter um filho e plantar uma árvore.  Deve ser na mesma seção enciclopédica do tratado da vida que sugere que todos temos um pouco de médico, de louco e de poeta.


Temos nos esforçado muito para escrever coisas que sejam interessantes, e que mereçam a atenção e talvez até a leitura dos visitadores deste blog. Potencialmente, como todas as pessoas, somos escritores. Escrever é difícil. Fácil, é sentir prazer depois de aprontar um texto. Compartilhá-lo, isso sim, é uma das melhores coisas do mundo!


segunda-feira, 23 de julho de 2012

Olhos azuis


David Rasche e Irandhir Santos
"Olhos azuis" (2009), produção brasileira com direção de José Joffily, causou um certo incomodo assistir. Tudo bem, era essa a intenção. Foi premiado no Festival de Paulínia (SP), está na safra das melhores produções recentes, onde a qualidade tem sido marca registrada, mas o que mais nos chama a atenção é a grande diversidade de temas, linguagens e narrativas. 




Temos visto documentários brasileiros e, na maioria das vezes, gostamos muito do que vem sendo produzido. E é fato, o Brasil é bom de documentários. Já a ficção não ocorre de acessarmos com tal frequência. Algumas decepcionam, mas temos uma boa lista daqueles que agradaram muitíssimo. 




No caso de "Olhos azuis" a exploração do tema, que é a discriminação étnica, boa parte da história se passa num aeroporto estadunidense, onde um grupo de estrangeiros, todos de países terceiromundistas, passam por intensa humilhação orquestrada por um chefe alfandegário, no seu último dia de trabalho antes da aposentadoria compulsória. Um sujeito decadente, bebum e de olhos azuis. Gente de Cuba, da Argentina, de Honduras e do Brasil estão nesse desfile de personagens que serão tripudiados pelo canalha.



José Joffily no comando






O trabalho dos atores é arrasador. O ponto alto do filme. Segundo o cineasta Joffily, o filme se baseia num episódio verídico que aconteceu com um conhecido dele. Para este humilde blogueiro, assistir "Olhos azuis" teve uma pegada muito pessoal. É que sempre odiei essa história de ter que tirar visto e toda essa burocracia para entrar nos Estados Unidos. Fico, não sei porque, me imaginando numa situação complicada para ingressar na terra do Tio Sam. Daí, que como nunca tive a chance de ir aos Estados Unidos, prefiro dizer que não me apetece conhecer esse país. Só que me dói um pouco Nova York... O fato de não conhecê-la.    









Deixemos dessa conversa fiada e voltemos ao filme. A história também se passa no Brasil, quando o fdp dos olhos azuis quer se redimir e vem pagar seus pecados em território brasileiro. E lá no nordeste. Do litoral, segue para Petrolina em busca de uma menina, como que na tentativa de reparar o tamanho da cagada que fez.  Assessorado por uma prostituta de luxo - sim, porque puta que fala inglês e dirige caminhonete descolada, não é qualquer uma - se embrenha pela árida paisagem nordestina. Sempre tomando todas.


Cristina Lago, melhor atriz






Algumas passagens de "Olhos azuis" parecem um pouquinho forçadas e alguém pode achar que a verossimilhança fica comprometida. Não no meu caso, porque acho que quase todos os filmes são cheios de pequenas imperfeições. Ora, a vida também é assim. Não conheço bem o povo estadunidense, mas fiquei com a impressão que os personagens americanos, suas posturas profissionais, seus vícios trabalhistas, comentários e seus próprios dramas existenciais; segundo construiu Joffily, são lugares comuns, parecidos com qualquer safado que abusa do poder. Abusar do poder é uma grande tentação em qualquer lugar do mundo.









Depois de escrever o post, me passou pela cabeça uma dúvida. "Ué, será que não gostei do filme?". Sei lá, entende. A verdade é que fiquei grudadinho na tela acompanhando atentamente o filme. 


o gringo quase foi salvo por um anjo torto...