sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Cartas a Nora


Passarinheiros: Estamos migrando para o site www.tyrannusmelancholicus.com.br. Esperamos encontrá-los por lá. Gratíssimos pela companhia! Bjos

Foto registrada no dia do casamento (PopperfotoGetty)
“Cartas a Nora”, considerada uma das grandes obras eróticas da literatura universal, traz a correspondência entre James Joyce e sua esposa Nora Barnacle. A tradução das “cartas” foi publicada pela Iluminuras e lançada neste mês, revelando um Joyce pouco erudito e um tanto quanto vulgar...

A tradução e organização ficou por conta dos professores de teoria literária e de artes cênicas da UFSC, Sérgio Medeiros e Dirce Waltrick do Amarante. O casal de escritores e poetas acalenta o projeto de traduzir para o português as mais importantes obras da literatura mundial.

“Primeiro eu leio tudo para poder entender aquela linguagem. Aí tento transpor para o português”, conta Dirce. “A gente tenta manter a complexidade ou a simplicidade de Joyce”, diz Sérgio, lembrando que a ciência, porém, não é exata — toda tradução é uma interpretação.


Sérgio Medeiros e Dirce Waltrick 
Para evitar uma nova traição (Joyce no início do relacionamento com Nora transmitiu-lhe uma doença venérea), o casal combinou que quando estivessem distantes se incentivariam a escrever cartas eróticas. O resultado é um conjunto de correspondências que trata de todos os aspectos de um relacionamento. Desde o cotidiano, afazeres, viagens e compras, até sexo e desejo.



As cartas registram o primeiro recado trocado, depois que se conheceram caminhando pelas ruas de Dublin, na Irlanda, e seguem acompanhando seu relacionamento, sempre movimentado, e que influenciou intensamente obras de Joyce como Ulisses e Finnegans Wake, ambas consideradas entre as mais inovadoras e radicais do século 20 — além de as mais difíceis de ler.
Nesses momentos Joyce escrevia o que lhe vinha na cabeça, então, não tem correção. Muito diferente do Joyce escritor que reescrevia muitas vezes seus romances.






Trechos:
"Como eu gostaria de te surpreender dormindo agora! Tem um lugar em você que eu gostaria de beijar agora, um lugar estranho, Nora. Não nos lábios, Nora. Você sabe onde?" (Joyce).

"Parece que eu estou sempre na tua companhia sob todas as variedades de circunstâncias possíveis falando contigo caminhando contigo te encontrando de repente em diferentes lugares até que eu me pergunto se o meu espírito não deixou meu corpo no sono e saiu te buscando" (Nora).



quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Torcida Boca Suja.


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Eita domingão bonito...
Depois de muitos e muitos anos sem pensar em adentrar novamente ao local, aqui estou. Sim, voltei ao Dutrinha, o acanhado Estádio Eurico Gaspar Dutra, bem ali no tradicional bairro do Porto.

Fui pra rever os amigos que um dia... (ah, deixa pra lá!). Na verdade, pintou um convite de velhos camaradas, que prefiro não citar o nome. Pra crônica ficar chique, usarei um estilo já praticado pelo elegante crítico gastronômico Apicius, que arrasava nos anos 70. Chamarei os demais personagens que compartilharam os mais de 90 minutos comigo de Senhor 'uma letra'. Senhor E e Senhor R me convidaram e fui... engrossar o caldo da torcida do mixtense.

Era partida clássica: matar ou morrer! Uma decisão de campeonato. O time cuiabano enfrentava o União de Rondonópolis. Era a partida de volta, pois, na semana anterior, empataram em Rondonópolis em 1 a 1. Ou seja: 0 a 0 classificava o Mixtão.




Mais um casal de amigos que convidei também compareceu. O Senhor H e a Senhora N. Ah... isto não dá pra deixar de falar. Um nobilíssimo escritor moderno, incensado no mundo inteiro, em seu livro "O Castelo", também se refere aos seus personagens como Senhor 'uma letra' e Senhor 'outra letra'. Franz Kafka. "Chique no úrtimo", conforme diria Jeca Gay, personagem inesqueível de Moacir Franco.

A Senhora N e o Senhor H chegaram atrasados. Ela, a Senhora N, me confidenciou depois que ao chegar ao Dutrinha, praticamente lotado, percebeu que do outro lado das arquibancadas estava mais vazio e manifestou que preferiria estar lá. Levou uma leve chamada seguida de uma (também leve) chinchada do esposo: "Lá está a torcida do União". A conversa foi percebida pelos que estavam em volta, todos mixtenses. Mas ficou por aí mesmo, apenas um clima estranho no ar. A torcida do Mixto, apesar de ser “boca suja”, não costuma se utilizar de práticas violentas.


Eu e os senhores R e E, chegamos antes e sentamos na arquibancada bem atrás de um garotinho que estava munido de uma buzina que enche o saco. "Olha onde nós fomos sentar", disse o Senhor R. Enquanto isso, o Senhor E nãos e desgrudava do seu celular. Talvez a patroa, talvez algum problema particular o levassem a essa relação tão intensa com o aparelho telefônico. Pode ser, ainda, que estivesse nervoso com a proximidade da partida, cujo vencedor, estaria qualificado para representar Mato Grosso na Copa do Brasil no ano que vem.

O pequeno Dutrinha devia estar com duas mil ou duas mil e quinhentas pessoas. E mais gente chegando. Na preliminar, o futebol feminino entre Mixto e Tangará da Serra. Injustiça colocar as moças, correndo atrás da bola, num solão brabo. 
Futebol e machismo são coisas que ainda combinam e esse entrelaçamento me pos a pensar feito um “porco chauvinista”: depois de correr feito loucas, quando chegar em casa ainda vão fazer a janta pro marido e lavar roupa e limpar a casa etc.



Começa a partida. Um jogo duro, osso duro! Duro também de assistir. O nervosismo dos 22 atletas não permitia que as equipes acertassem mais de três passes em seguida. Chutões para tudo quanto é lado... parece que a bola tá quente! Daquelas que queima os pés. A torcida implacável, faz jus à nominação de Boca Suja. Até o velho placar do Dutrinha ostentava uma faixa da tal torcida. O Senhor H revelou-me, dias depois, que ficou injuriado, atrapalhado com os impropérios e vitupérios absurdos que ouvia na arquibancada, ao lado da esposa, a Senhora N.

"Shua mãe tá aqui comigo seu banderinha ladrão". "Shua mãe tem coco, banderinha". "Ocê entrou agora, disgramado, corre fio da puta". "Ocês vai vortá tudo de a pé pra Rondonópolis". Um palavreado típico de estádio de futebol e carregado no sotaque cuiabano.

No intervalo do jogo, aproveito para comprar pipoca. Vão juntos o Senhor H e a Senhora N. A maior muvuca nas imediações do pipoqueiro. Ele e seu ajudante quase não dão conta de atender a todos. Consigo pegar minha pipoca e... uma pimentinha vai bem. Parece entupida a boca do frasco de pimenta. Sacudo e em seguida aperto com força. Uma golfada salta do frasco e se esparrama generosamente pela camisa de um garoto bem à minha frente. Algumas gotas caem também na sua perna. Reajo, percebendo que ele não viu o estrago na camisa e só sentiu o respingar na perna. "Puxa, me desculpe... caiu um pouco na sua perna", disse-lhe antes da retirada estratégica.

É o Abadio, na torcida mixtense
Voltamos ao nosso local na arquibancada. No segundo tempo, o Mixtão mostra-se superior ao União. Num dos únicos lances realmente bonito da partida, Igor atacante do Mixto dribla dois, entra na área e manda pro fundo das redes desviando do goleiro. Nem percebo que o Senhor E e Senhor R a muito se distanciaram. Sim, estou vendo... estão lá com a diretoria! Gente fina é outra coisa!

Começa a corrida contra o relógio e o União não parece muito ter forças pra reagir. Faltando uns cinco minutos para o encerramento do tempo regulamentar, saio de fininho pra não pegar o engarrafado após o apito final. Entrando no carro, ouço a massa mixtense comemorando o final da partida. Que venha a Copa do Brasil.


sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Show de bola


Eric Cantona, um gênio imperfeito. Frase emblemática proferida num filme que mandou pra longe o sono na noite de quinta pra sexta. Futebol, cinema e vicissitudes da vida estão em "À procura de Eric" (2009), filme do inglês Ken Loach, supostamente uma comédia. Nós, que adoramos o humor imbatível da filmografia britânica, fomos muito mais impactados pelo caráter dramático e humanitarista desta beleza de filme/história.

Um carteiro inglês, fã incondicional de Cantona, jogador de futebol francês que colocou o Manchester United nos píncaros da glória nos anos 90, é o personagem central desta trama que está habilitada a conquistar qualquer pessoa, mesmo que ela odeie o futebol.


Cada qual com seus problemas. O ídolo e fã, este, uma pessoa afortunada com problemas pessoais, familiares e sociais. Um sujeito cometedor de erros, como qualquer pessoa, mas que não consegue dar a volta por cima... consertar os erros do passado. Para essa super missão: Cantona, um personagem imaginário, o próprio futebolista notável, interpretado por ele mesmo (Cantona), surge de forma recorrente ao longo da história para ratificar que somos imperfeitos.

Lances e gols da trajetória vitoriosa de Eric Cantona, jogadas de impressionante plástica, aparecem ao longo do filme. Para o outro Eric, o Bishop, ele é um conselheiro infalível, mesmo que sempre sugira frases e ditados manjados. Cantona, aliás, apesar de tanta glorificação e talento, tem sua história muito associada a uma “voadora”' que aplicou num torcedor de outro time, que lhe rendeu uma suspensão de nove meses fora dos gramados.

A famosa voadora
Os conselhos que Cantona aplica ao seu fã são ponderados, retilíneos e óbvios, até certo ponto. E indicam caminhos para resgatar a felicidade em sua vida. Diferentes da explicação que deu em entrevista coletiva após o violento golpe no torcedor, que deixou os jornalistas atônitos: "Quando as gaivotas seguem o barco dos pescadores, é porque pensam que sardinhas serão atiradas ao mar".


Esta produção que envolve o Reino Unido, França, Bélgica, Espanha e Itália é show de bola. Direção, roteiro e atuação de elenco exemplares. Fica a impressão que se a fotografia ou a trilha sonora também fossem tão certinhas, algo ficaria sobrando. Lembra aquela conversa do “se melhorar, estraga”'.

Cantona e Loach

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Dançarinos entre nós



O livro "Dancers among us" ou Dançarinos entre nós, do fotografo Jordan Matter está na lista dos mais vendidos do New York Times.
Matter conta que teve a ideia de produzir o livro quando brincava com o filho. "Eu achei que seria interessante criar fotografias que celebrassem a alegria da vida cotidiana, vendo o mundo como se fosse pelos olhos de uma criança", disse à BBC.
Fotógrafo e bailarinos passearam pelas cidades em busca de locais que combinassem com os movimentos. Ele disse que não sabia que movimentos iriam fazer. A inspiração, criação e produção foram de muita cumplicidade e variedade do B-Boy, Hip-Hop, balé clássico e moderno, crianças, estudantes, pequenas companhias de dança e profissionais consagrados.




O resultado final são imagens belíssimas que registram movimentos de dança emlocais inusitados. É a arte que invade espaços urbanos e contracena com o cotidiano. Que ninguém duvide que o mundo fica mais bonito assim.


Confira no site abaixo mais imagens e informações sobre o livro:
http://www.dancersamongus.com/photos/Towson-MD-Rachel-Bell

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Mormaço

O homem vem ai...

A chuva noturna nublou a manhã de segunda-feira. Dá pra sentir a umidade do ar e o calor... bem, nesse horário dá pra aguentar. A caminhada necessária não precisa ser nas primeiras horas matinais. Maravilha. Acordar com obrigação de caminhar é o ó... andar sonolento é ruim. Fica a impressão de um sonho ruim. Um sonho que precisa acabar logo assim como essa caminhada. Andar desperto, num dia tão bonito é reparador e é bom pra reparar as coisas que nos vão nos cercando, nos cercam e vão passando, se distanciam e logo por outras que vão nos envolvendo... durante o percurso.  É outra história.



Pela estrada afora vou percorrendo junto ao muro do condomínio chique vizinho. Não há sol, mas a luminosidade é generosa. E o cerrado... ó bravo cerrado, que resiste nas áreas periféricas da cidade, há de oferecer boas imagens. A máquina fotográfica vai no bolso. Gosto de rota alternativa, ainda pouco usada, sem movimento de veículos, sem asfalto. Costumava andar por ali há poucos anos, mas tornou-se perigoso. O tal do local ermo, useiro e vezeiro dos boletins de ocorrências policiais.

Hoje, não mais. Há movimento, mas também pudera está tudo sendo dominado pela indústria imobiliária, que ainda não detonou com tudo. Cigarras, pequenos insetos e aves e passarinhos se fazem ouvir. A terra está molhada e os poucos carros que passam não levantam poeira. De repente dois calangos se salientam no muro alto da mesma cor deles. Parece não haver problemas de geopolítica de répteis. É outra coisa... Hummm. Fuc fuc... possível ritual de acasalamento. Permitem minha aproximação.

passarinho tímido

Um cruzamento e viro à direita numa estradinha. Continuo beiradeando o muro do condomínio. Quilos e mais quilos e mais quilos e mais quilos de lixo ali jogados nas margens da estrada, “enfeiando” tudo. Porca miséria... Um caminhão caçambeiro passa por mim e faz manobra uns cinquenta metros mais à frente. Desconfio que vai depositar por ali sua carga: lixo. De onde estou, não consigo ver se é isso mesmo. Faço uma foto da provável infração.



No instante seguinte, o caminhão está voltando em minha direção. Me vem à cabeça o filme “Encurralado”, um dos primeiros de Steven Spielberg, onde um sujeito é perseguido por um caminhão. Ele se aproxima, estou com a câmera em punho. Olho pro outro lado da estrada e sou salvo, segundo meu raciocínio imaginador, por um casal de corujas. Seguro a câmera como se fosse um fotógrafo profissional e aponto-a em direção das corujas. Elas parecem fazer pose e colaborar com a minha encenação. O caminhão e seu condutor passam alheios ao meu drama.

É namoro ou

amizade?
Como se fosse um investigador, desses de séries americanas, vou até o local onde o caminhão, possivelmente infrator, fez a sua manobra suspeita. Há lixo e marcas de pneus... Mas, e daí? Lixo e marcas de pneus estão por toda parte por ali. Volto pra casa matutando e já pensando em escrever uma crônica caminhante. Vejo uma pichação que viria a calhar se eu conseguisse, realmente, incriminar o caminhão caçamba! Mais um click!


sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Remédios

Tela de Nilson Pimenta: Remédios Caseiros

Conheço um sujeito que estava numa ressaca braba. Aquela dor de cabeça que parecia que ia explodir e lançar a tampa da cabeça para o espaço. Não conseguia nem levantar da cama, quanto mais falar. Saia de sua boca um grunhido algo ininteligível. Sua esposa não estava em casa e a ajudante do lar, percebendo a situação do patrão, ofereceu ajuda. Pelo menos tentar. Aproximou-se da cama onde estava aquela coisa pós-alcoólico na tentativa de ouvir o que ele dizia. Entrou em pânico, pois ouviu um sussurro que conseguiu entender ser nome de mulher. Será uma amante? Coitada da patroa tão boa... Qual nada... o morto-vivo pedia socorro com a voz empastada:”ne-o-sal-di-na”, pelo amor do Senhor.

Remédio é a tônica da conversa. Não sei direito, mas essa palavra tônica, talvez no meu subconsciente, está associada à água tônica. Refrigerante que pode remediar alguns sintomas, já que tem quinino, usado para a malaria. Se não tiver água tônica, “remedeia co que tem”, expressão carregada pelo nosso sotaque regional, que também é título do livro de Guapo, musicista e pesquisador destas bandas.






Remédios, a bela. Personagem do emblemático livro de García Marques, escritor colombiano, "Cem anos de solidão". Uma obra sem placebos que marcou gerações. Minha memória não consegue registrar nenhum livro que tenha sido tão impactante, pelo menos para as pessoas da minha geração.

Neste mundo, dizem, tem remédio pra tudo. Têm remédios que doem e são traumáticos. Da mesma forma que García Marques ribombou em minha adolescência, outro personagem, este da farmacopeia, me perseguiu na infância. O maldito merthiolate, como ardia aquele danado. Agora tiraram o ardor, e cá pra nos, me parece que perdeu o efeito...


Ensaio fotográfico de Paulo Aureliano da Mata:
Remédios, a bela 
Cibalena, engove, bezetacil, emulsão de scott, vagostesil... Este último me ajudou a acalmar quando enfrentei o meu primeiro vestibular. Hummm... sonrizal, e depois estomazil. Tive um amigo que adorava estomazil. Dizia que tomava desde criança o anti ácido, mas que largaria quando bem quisesse. "Intantil... intantil". Pedia o filho de outro amigo, ainda muito pequeno sem nem saber falar direito. O melhoral infantil fez a cabeça de muita gente pequenina.

Na bela poesia Juca Mulato, de Menotti Del Picchia, o personagem reluta em revelar os motivos da sua dor, até que o faz. "Arrasta contigo essa tortura imensa/que o remédio é pior do que a própria doença,/ pois, pra se curar um amor tal qual esse...". Em resumo, para o mal de amar, o remédio que é esquecer, dói mais do que amar.


Juca Mulato by Portinari

Aqui no nosso estabelecimento doméstico, além daqueles medicamentos que invadem a vida dos cinquentões, tem tido muita saída um remedinho caseiro, natural que passamos tomar quase todos os dias quando migramos da sala pro quarto, do laptop pra TV. Chá de camomila... é pá bosta... derruba mesmo. E dá licença que vou botar água pra ferver!!!

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Obituários


Todo dia a mesma situação. Mentira, têm dias que algo nos cutuca cedo e aí sabemos que quer se evadir. Noutros dias, quando chega a hora, é sempre um momento de tensão. Nas redações dos veículos de comunicação finalizar uma edição é o momento crucial diário. Qual vai ser a manchete principal, o que será que nossos concorrentes vão manchetar, o que vai despertar mais interesse do público leitor... São algumas das questões que passam pela cabeça aflita do editor. Por conta dessa dolorosa realidade, de ter que direcionar suas decisões a aspectos comerciais e à concorrência, ser editor é sofrer.

Ou não. Ele pode simplesmente ligar o piloto automático... Acontecimentos fortuitos, de última hora, podem desencadear um deus nos acuda e a finalização da edição pode sofrer uma reviravolta. É mais ou menos como em alguns setores, onde determinada palavra não se fala; ou nem se pensa em usar determinada cor na estreia e qualquer coisa pode ser uma premonição de que vai dar errado. Quando alguma personalidade famosa está por um fio pra sair fora deste mundo. Sobreaviso é a palavra da hora.


Mas, nessa conversa de morte, nem precisa se chegar à comunicação. Na intimidade, em nossos mundinhos particulares, já vivenciamos isso. Morrer é tabu. A sociedade, pelo menos a ocidental, ainda está longe de encarar os "passamentos" com naturalidade. Um amigo, por sinal já fora de cena, me contou de uma lista com nomes de umas dez pessoas e seus telefones que tinha numa página de caderno arrancada. O cara não tinha agenda. Nunca teve...

Era só um papel velho guardado numa gaveta perdida. Eis que um dia ao a saber do falecimento de uma dessas pessoas anotadas. Foi lá e riscou o nome. Passou mais um tempo, outro relacionado também se manda e é riscado da lista. E depois mais um. No espaço de menos de um ano, quatro pessoas da lista subiram ao andar de cima. O que o amigo fez? Foi até a gaveta e pegou a agourenta lista e deu um sumiço absoluto nela.

Lá vai uma chalana...
Lorenzo, morreu o Mario Zan. Em novembro de 2006 fui interpelado com essa curta e forte frase por um colega de redação. Meu eu editor de cultura estava com a edição diária fechadíssima. "Meu caderno não é obituário", sai com essa grosseria. (grosserias são naturais numa redação, já que não há tempo para tratamentos mais afetuosos). A redação riu com gosto da minha respostada.

Nanini e Ney Latorraca em "O Segredo de Irma Vap"

Ontem, anteontem, mas não mais do que tresanteontem, vimos que o grande artista Ney Latorraca está muito debilitado. Pensamos até em escrever algo sobre ele, cujo trabalho teatral apreciamos. "Todos os dias tem artista morrendo". Esfriei a pauta. Hoje, também leio sobre a piora no estado do Oscar Niemeyer. Falar de morte requer lembrar de Deus, porém, neste caso, de forma desconfigurada. É que, graças a Deus (olha ele de novo), nossos escritos e nosso porto digital nadam de braçadas na informalidade.


E o tema me lembra palestra que mediei, sobre jornalismo literário, com o Martinas Suzuki e o Daniel Pizza (ausente, hoje). Matinas, atualmente especialista nesse jornalismo liberadão, mas só pra quem pode, mencionou o sucesso dos obituários que já foram registrados na performance da mídia impressa de Nova York noutros tempos. No Brasil tanto nas rádios como nos jornais era um das páginas mais lidas. Quando as cidades cresceram as referências... Que referências? Acho que deixou de ser. E foram-se as palavras. Este texto morreu.



quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Qual é a música?


Ela se acha velha e louca!!!
Tanto falamos, conversamos, divulgamos e planejamos assistir a palestra de Antonio Cícero em Cuiabá, que não fomos. Questões logísticas e operacionais de nossas vidas profissionais melaram o programa. E a oportunidade de reciclar e turbinar os padrões culturais foi pro espaço! E agora, o que é que vou dizer aqui?

Não sei, mas enquanto flui o texto, alguma coisa vem à memória. Serve a Lady Gaga, que está no Brasil? Sem comentários, mas, até que serviria se ela tivesse sido fotografada com um biquíni de bolinha amarelinho. E que tal o babado lá do Tio Sam? Só sei que a influência das eleições americanas pegou em cheio. No próximo ano estreia nas ruas do Rio o novo bloco carnavalesco: "Os indecisos de Ohio". A turma de Ohio, disseram, foi importante na recondução do presidente que vez por outra inventa de soltar a voz... Nesse caso Obama, you can’t! Yes, we can! Mas muito de vez em quando, para o bem de todos e felicidade geral danação. Ué, danação junto?


Dizem que tá gagá


Obamis???
Já pensou se essa moda pega e chefes de nações decidem cantar? Qual seria a música que a presidenta Dilma cantaria? Não é de se duvidar que em outros tempos ela entoasse Geraldo Vandré. Assim digo, digo, assim escrevo, apenas pra não dizer que não falei das flores. Governar o Brasil envelhece e meio que pira quem tá lá, torto na granja. "Velha e louca", portanto, sucesso recente da Malu Magalhães, serve direitinho pro repertório da Dilma.

Pra não dizer que não falei das flores...
E agora qual seria a música para o nosso novo prefeito de Cuiabá. Mauro Mendes, como veio lá "do" Goiás, muito provavelmente vai atacar de música sertaneja ou, pra dar uma de populista, de sertanejo universitário. Olha, nos tempos dele na UFMT em meados dos anos 80, a comunidade universitária goiana aqui, que era grande, curtia muito "Chico Mineiro", "Pé de cedro" e a internacional "Lago de Ypacarai". Você pode escolher qualquer uma dessas, mas não vale a opção todas as respostas, porque ninguém merece ouvir um político cantando três músicas.

É chegado o momento dos 25 condenados do mensalão. O STF determinou que todos entreguem seus passaportes em 24 horas. A decisão surgiu após solicitação da Procuradoria da República, porque já teve réu condenado que "foi bem ali", além das fronteiras nacionais. Mas voltou, voltou pra rever os amigos que um dia...

Passa o passaport...
E nós aqui lançamos a campanha: "ajude um mensaleiro a entregar seu passaporte". É muito importante que os condenados não "viagem" nessa determinação. Vai que algum deles resolve enviar seu passaporte lá do exterior... E a Procuradoria também pediu a prisão imediata dos condenados. Alice no país das maravilhas...

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Nhô Tim

Galeria Adriana Varejão (Foto: Bruno Magalhães)

Na última viagem que fizemos um foi pela TAM e outro pela GOL, sei lá! Acontece que as revistas de bordo das duas empresas apareceram em casa e ambas traziam uma matéria que girava em torno do mesmo assunto ou tema: Inhotim. Após lê-las e ficar babando, imaginamos que no futuro  escreveríamos algo assim: “Inhotim , você ainda vai morrer de inveja porque sua cidade não tem um!” 
Coincidentemente na abertura oficial da exposição de Miguel Penha,  na Casa do Parque,  uma amiga e profissional de mão cheia da área editorial, Maria Tereza Carracedo, perguntou-me: Por que o Parque Mãe Bonifácia não constrói um Museu de Arte Contemporânea? - Assim, como Inhotim????


Zhang Huan

Jardim Botânico

Chris Burden

Inhotim dos meus sonhos, desejos e pesadelos... O Instituto Inhotim localiza-se no município de Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, ocupa uma área de 786 hectares, quase 600 foram destinados à proteção da natureza; 140 hectares uma Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN. E chupa essa manga... abriga um Jardim Botânico, reconhecido em 2010 pela Comissão Nacional de Jardins Botânicos, com 4.300 espécies em cultivo e a maior coleção de palmeira do mundo! Quero morrer!!!!!!! O visitante dispõe de 96 hectares de jardins (planejados por Burle Max), galerias, edificações, e cinco lagos ornamentais.

Inhotim... um nome minerin, pertim de brumadin. Uai, mas não tem a história de um gringo envolvido na origem do nome? Tem sim. O local, no século XIX foi uma mineradora, comandada por um inglês chamado Thimoty, que virou logo senhor Tim, depois nhô Tim e, porque não, inhô Tim?


A bela paisagem de Brumadinho
Do século XIX para o XXI. Em 2004 a antiga mineradora se transformou num espaço para abrigar a coleção de Bernardo Paz, empresário da área de mineração e siderurgia, casado com a artista plástica Adriana Varejão. E o acervo já começou poderoso, mas a princípio, modernista, com obras de Guignard, Portinari e Di Cavalcanti.
Cildo Meireles

Hoje conta com cerca de 500 obras de mais de 100 artistas de 30 diferentes nacionalidades. Com foco na arte contemporânea produzida a partir dos anos 1960 até os nossos dias, o acervo abrange escultura, instalação, pintura, desenho, fotografia, filme e vídeo. Cildo Meireles, Tunga, Vik Muniz, Doug Aitken, Yayoi Kusama, Zhang Huan. E muuuiiito mais. Estão todos lá. Faz jus ao título de o maior centro de arte ao ar livre da América Latina.

Empolgação é um problema... Nós aqui escrevendo e “viajando”... Será que dá pra ir passar o Natal lá?