terça-feira, 30 de novembro de 2010

Escola de Fotografia




Com toda essa tecnologia disponível, cada um de nós é um fotógrafo. Potencialmente falando. Um dos grandes lances de uma foto é a perpetuação do momento. O instante que fica gravado. Cravado. Que vontade que dá sair por aí fotografando tudo que a vista alcança. Técnica e sorte contam para que uma foto vingue. Estar diante do flagrante e conseguir manipular a câmera com a precisão cirúrgica ajuda muito. Conhecimento nunca se despreza. Quanto à sorte, a gente tem que estar sempre disponível pra ela.

Para se aprofundar nessa história toda, o fotógrafo Walter Firmo chegou a Cuiabá na última sexta (26/11) e compartilhou seus conhecimentos com um seleto grupo de 18 fotógrafos locais. De sexta até segunda-feira (29/11), uma carga horária animal, com teoria, prática e, acima de tudo, muita disposição. Essa armação foi do Zé  Medeiros, entenda-se José Medeiros Imagem, pessoa física/jurídica. E para 2011 vem novidade por aí: uma Escola de Fotografia, com atividades ao longo do ano inteiro.

Walter Firmo, uma referência em matéria de fotografia, conhecido especialmente pelo seu trabalho com a cor, chegou sexta de manhã e foi comer peixe em Bonsucesso, onde se emocionou. Ele viveu parte da sua infância em Corumbá e é conhecedor das delícias e imagens que uma beira de rio em região pantaneira ostenta. Depois de uma peixada, um descanso. O sol baixou, é hora de arrebanhar os alunos e falar um pouco sobre o tripé ‘ladrão, arquiteto e o invisível’. Não, não é um nome de filme. São estilos: o ladrão é aquele que rouba a imagem, o arquiteto prepara sua imagem e o invisível é uma mistura dos dois. Sem alongar muito, é isso.

Sábado de manhã a trupe de fotógrafos zarpou para o Centro Histórico de Cuiabá, em busca do movimento da cidade. À tarde, um pouco de teoria com foco no universo e na criatividade em torno da cor. Domingo, na feira livre do CPA, foi a hora de colocar a teoria em prática. Firmo, que já é um senhor, deu a maior canseira na gurizada, mostrando que fotografia é, sim senhor, trabalho físico também. Durante a tarde, uma paradinha pra olhar as fotos da feira e avaliar.

Segunda de manhã teve uma espécie de aula extra. Parte da galera tocou pra Chapada em busca de mais experimentos práticos. Lá a equipe foi reforçada por Izan Petterle, fotógrafo renomado, com um pé em São Paulo e outro aqui mesmo em Chapada. E pronto. Ponto final. A gente registra aqui os nomes dos fotógrafos que investiram nesse final de semana que não foi bem pra descansar: Anderson, André, Biro, Cristina, Duflair, Elisa, Gabriel, Jana, Juliana, Júnior, Lucas, Luis, Márcia, Márcio, Marcos, Marcus, Rafael e Rai. Ao longo deste texto, algumas fotos que surgiram ao longo do curso, sem comentários, legendas ou créditos... É só uma pequena mostra do que é a fotografia com qualidade.



segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Fechei os olhos, o leite derramou!

Chico Buarque e a sinuca de bico da hora
Lá se vão quase 20 dias que foi criada na internet uma petição online que deseja a devolução do Prêmio Jabuti de Livro de Ficção do Ano, faturado pelo escritor, compositor e cantor Chico Buarque, com o seu “Leite Derramado”. O motivo do abaixo-assinado, que já reúne mais de dez mil assinaturas, faz sentido, se for seguido um raciocínio lógico. Ora, “Leite Derramado” ficou em segundo lugar na categoria Romance, e em primeiro ficou “Se Eu Fechar os Olhos Agora”, de Edney Silvestre, jornalista, estreante em literatura. É estranho que, depois de ficar em segundo, numa subcategoria, o livro pule para o primeiro lugar na categoria principal.

Uma das argumentações para a petição é a de que a premiação de Chico tem um caráter político e não literário. Pelo que andei lendo a respeito, questões mercadológicas também pontuaram, ou seja: Chico, com toda a sua fama, que, digamos, supera seu talento inquestionável, ‘vende’ mais. O assunto é polêmico, mas saudável. Quando um prêmio como o Jabuti, o mais tradicional da literatura brasileira, torna-se alvo desse tipo de discussão, é sinal que o público leitor, ou supostamente leitor, está antenado. 

Depois da pendenga como será que vai ficar a cara do Jabuti?

O que me preocupa é essa questão mercadológica que está cada vez mais presente na produção cultural, especificamente em produtos de arte como livros e filmes. Se eles não vendem, se não chegam ao grande público, não interessam ao mercado. E aí fica tudo nivelado e vai pras cucuias questões como a vanguarda, os experimentalismos e as linguagens estéticas do porvir. Isso é perigoso e tende a estagnar o surgimento do novo. Artistas ousados, inovadores, quebradores de paradigmas e descobridores de universos criativos mais arrojados são os grandes perdedores nesse processo. E o público também, claro.

Não conheço a obra de Chico. Só li Budapeste e gostei. Mas o estilo do autor, falando dessa obra, em particular, não me pareceu nenhum esplendor literário. Tampouco conheço “Se Eu Fechar os Olhos Agora”, de Edney Silvestre, embora tema que sua narrativa seja jornalística. Há uma enxurrada de obras escritas por autores que são jornalistas e que têm ganhado cada vez mais visibilidade. E são mais vendidas também. Acho isso perigoso, até certo ponto.

A literatura é muito algo mais do que uma narrativa jornalística. Ela precisa transcender a simplicidade do texto jornalístico e se aventurar por diferentes formas de expressão. E tem mais... Literatura não carece de ser fiel à realidade. Sendo arte, não pode e não deve se submeter às regras de uma linguagem presa a padrões e mesmices. E o público leitor tem que ter acesso a essas aventuras da linguagem escrita, com sempre aconteceu em todos os tempos.

O título da obra em questão, reconheçamos, tem tudo a ver 

Não é o mercado quem deve ditar regras para direcionar a literatura. É o artista. Esse ser visionário que escreve movido por motivos às vezes inexplicáveis.  Ser autoral e escrever tendo a liberdade como grande parceira é a sina do verdadeiro escritor. E o mercado, de uma forma geral, deve reservar-se, numa partezinha, que seja, para dissipar as inquietações dos mais autênticos artistas da palavra escrita.

domingo, 28 de novembro de 2010

Lucinda Persona

Lucinda Persona em foto d'além mar
Lucinda Persona é uma poeta primorosa, que se radicou em Cuiabá, vinda de Arapongas (PR). Sua ligação afetiva com esta cidade está acima de qualquer suspeita Ela respondeu as perguntas do Tyrannus, nesta segunda entrevista que a gente emplaca. Faz horas que ela já goza de reconhecimento em nível nacional. Seus livros “Por imenso gosto” (1995) e “Sopa escaldante” (2001) ganharam o Prêmio Cecília Meireles da União Brasileira do Escritores. Além de poeta, Lucinda é também professora universitária. E vamos logo à entrevista...


Que pergunta nunca foi feita e que você gostaria de responder?
Isso é o que se pode chamar de entrada triunfal. Você caprichou nessa questão que, a propósito, nunca me foi apresentada. O problema é que o mais difícil é a pergunta e não a resposta. Por isso, vou pular, mas deixo um lembrete de Mario Quintana: “A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas”.

A Cuiabá de hoje é uma cidade que parece sofrer muito com o desenvolvimento desordenado. Tem gente que é pessimista em relação a isso e acha que a vida por aqui vai só piorando cada vez mais. Você pensa assim?
Nenhuma cidade, com posição geográfica e política importante permanece a mesma. Sim, temos uma Cuiabá nova que brotou e se alastrou no coração da Cuiabá antiga. Isso trouxe problemas inumeráveis, alarmantes, comprovados no dia a dia. Só não se pode pensar que não exista nada a fazer. Acredito muito na consciência humana e na sua força. Acredito no diálogo, tanto com nossos semelhantes quanto com a natureza, a paisagem, a cidade em si, para render resultados positivos.

Como você avalia a qualidade dos políticos e governantes brasileiros e mato-grossenses? Se diria otimista, ou pessimista, após tantos anos exercendo a obrigatoriedade do voto?
De um modo geral, existem bons políticos e maus políticos (sendo que esses, infelizmente, predominam). As muitas crises sucedidas, as patologias sociais e econômicas que se arrastam e se agravam, são elementos que comprovam a pouca eficiência e pouca ação dos governantes. Entretanto, embora tenhamos um quadro preocupante e muitas vezes decepcionante, prefiro ser otimista. Se há algo que não abro mão é a esperança.

Você veio do Paraná para Mato Grosso há muitos anos. A poesia veio com você ou floriu na sua vida aqui?
Costumo dizer nesse caso que a poesia veio comigo desde muito antes do nascimento. Veio de tempos remotos, viajando na espiral genética dos meus antepassados.

Poetas, num determinado momento da vida, são como que picados pelo verso e não conseguem mais fugir deles. Com você foi assim que aconteceu?
Exatamente isso. E esse momento para mim, do ponto de vista cronológico, deu-se bem cedo. Escrevo poemas desde menina e sempre quis ser escritora. É sabido que a poesia pertence ao lado simbólico e mágico do ser humano, um lado que em mim cala bem fundo.

Fale de escritores e poetas, em geral, que te marcaram ou te influenciaram em diferentes épocas da sua vida.
Na infância e adolescência fiquei impressionada com vários autores e obras. Desde “Alice no país das maravilhas” de Lewis Carrol, passando pelos romances de Machado de Assis, José de Alencar, Érico Veríssimo, incluindo Euclides da Cunha com “Os sertões” e Vítor Hugo com “Os miseráveis”. Eu lia mais prosa, mas o que nela havia de poesia tinha grande efeito em meu espírito. Dessa época, cito Cecília Meireles e Luís de Camões (muito usado pelos professores nas aulas de português). Para ser fiel, andei lendo até “A divina comédia”, por volta dos 14 anos. Já na vida adulta, fui gradativa e profundamente conquistada pelos poetas: Fernando Pessoa, Pablo Neruda, Carlos Drummond de Andrade, Manoel de Barros, Adélia Prado. Na prosa: Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Julio Cortázar, Albert Camus.

Para fazer versos, alguns poetas precisam de inquietações, de emoções, do experimento de outras artes como a música ou de manifestações do próprio inconsciente. No seu caso, existe um padrão ou situação que te conduz à inspiração?
Creio que a inquietação é um componente que me diz respeito e opera como um ponto de partida. Inquietação com a finitude da vida, com as coisas do mundo, principalmente as comuns. As rotinas me incomodam, tenho uma necessidade de elevar a extraordinário o que é ordinário.

Além de poeta, você tem uma história muito forte como bióloga, pesquisadora e professora. Onde a biologia e poesia se encontram, se é que se encontram? A espermatogênese do tatu peludo pode gerar versos?
Biologia e poesia, em mim, sempre estiveram vinculadas, enquanto destino, proposta de vida e ação propriamente dita. Sim, elas se encontram e formam uma combinação muito grata. Uma ajuda a outra. A biologia permitiu-me o conhecimento dos seres vivos e uma maior penetração nas tramas da história natural. É uma rica fonte de poesia. A julgar pela minha temática (pombos, besouros, libélulas, caracóis) não será difícil surgir algum verso com o tatu.

A internet influencia e está alterando aspectos comportamentais e culturais das pessoas. E o mundo parece estar cada vez mais audiovisual, com toda uma parafernália tecnológica. Tem gente que acha que a literatura – e a poesia, principalmente, - vem perdendo leitores. O que você diz sobre esse fenômeno?
Por um lado, é fato que o universo digital ganha terreno a olhos vistos. Mas, ainda não é possível prever os seus efeitos na literatura. Não creio que a poesia esteja perdendo leitores, ela sempre teve poucos leitores. Além disso, quando vou às livrarias, daqui e de além-mar, vejo a profusão de livros, montanhas de livros, um mar de livros. Isso não morrerá nunca.

Você fez uma viagem à Europa recentemente. O Tyrannus surgiu com uma viagem que a gente também fez com esse destino. O que você trouxe na sua bagagem e quer compartilhar?
Surgindo como surgiu, o Tyrannus faz todo o sentido e se converte num presente para os leitores. Toda viagem é uma aula prática de conhecimentos gerais, desperta ideias e ações. Há pouco tempo, percorrendo Portugal e Espanha, pude comprovar o imenso volume de informações e como é surpreendente este mundo. Tanta coisa na bagagem. Uma delas que compartilho, vem de José Saramago: “O que mais há na terra, é paisagem. Por muito que do resto lhe falte, a paisagem sempre sobrou, abundância que só por milagre infatigável se explica, porquanto a paisagem é sem dúvida anterior ao homem, e apesar disso, de tanto existir, não se acabou ainda”.

Pra encerrar: o que você está lendo ou acabou de ler que recomendaria aos nossos internautas?
Acabei de ler: o romance “Ribamar” de José Castello (e até fiz uma resenha); também li “Em alguma parte alguma” de Ferreira Gullar, trazendo belíssimos poemas. “A duração do dia” de Adélia Prado é outro imperdível. E “Máscaras” de Luiza Volpato.
Estou lendo: “Felicidade demais”, contos da canadense Alice Munro (bom demais) e “Os olhos amarelos dos crocodilos” de Katherine Pancol (esse romance eu trouxe da viagem, entre os vários livros comprados, para aflição do Walter, sempre que provoco esses excessos de peso).

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Camerata UFMT: Música contemporânea

Assistir um concerto de música contemporânea não é o tipo de programa onde a disputa por uma cadeira, poltrona, banquinho, ou sei lá o que vai ser acirrada. Pergunte a um produtor cultural o que ele acha de viabilizar essa cena, comercialmente. Mas, o lançamento do livro e do CD de Teresinha Prada foi prestigiado.  

Conhecimento é pra compartilhar
 O auditório do Instituto de Linguagens da UFMT estava lotado. Professores e alunos que estudam música estavam lá. O Tyrannus ficou meio estranho no ninho. Parecíamos as únicas pessoas que não pertenciam à comunidade musical da UFMT. E daí? Nenhum problema. Na verdade, curtimos muita música dodecafônica desde os anos 80, aqui mesmo em Cuiabá, no vinilzão.


Teresinha discursou sobre Gilberto Mendes, grande músico brasileiro, coroão, vanguardista cultural e politicamente falando, influenciador do trabalho da musicista. Ele nasceu em 1922, portanto, parente próximo da Semana da Arte Moderna, e do Partido Comunista, embrionário naqueles tempos. Ela explicou mais algumas coisas co-relatas. Depois mandou ver com seu violão.
A violonista, doutora, tocou as músicas do CD para a plateia que curtiu atenta. Alguns jovens compositores, outros mais experientes, viram suas peças executadas com emoção e técnica apurada.


O semeador

Música contemporânea me faz lembrar pelo menos duas frases do Chacrinha: “Eu vim pra complicar, não pra simplificar” e “Quem não se comunica, se trumbica”. Não sei se as expressões estão reproduzidas aqui ao pé da letra, mas deu pra entender... Não deu?
Mais uma experiência musical inovadora. Por mais que sejamos familiarizados, com as artes musicais que vem de um Schoenberg ou de um Stockhausen, ouvir música contemporânea tocada e composta por gente que mora na mesma cidade que tem cururu, siriri, rasqueado, lambadão etc; soa diferente... Muito diferente. E diferente é bom!

A jovem Camerata da UFMT, regida por Murilo Alves, apresentou uma peça de Roberto Victório, com solo de Teresinha Prada. Victório era pura emoção. No final, bravo!

Camerata UFMT dando seu recado
 A parte ruim da história, a única, fica por conta do auditório inadequado (na verdade, não se trata de um auditório), cadeiras de plástico, climatização imprópria, ruídos externos (da Fernando Correa) e até uma coluna de concreto bem no meio da plateia, atrapalhando a visão. Pô, os artistas e estudiosos que estavam ali, mereceriam um lugar bem mais decente pra apresentar essa produção cultural: música refinada que esta Cuiabá calorenta também produz.


Murilo Alves na boca de cena


quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Música em Cuiaba

Muita coisa acontecendo por aí e a música predomina com opções super variadas, a partir desta quinta (25) até o domingão (28). A música, aliás, tem sido a arte mais serelepe e novidadeira por estas bandas. Ando muito de ônibus e tenho, então, tempo para reparar nas pessoas que andam pelas ruas. Vejo quase sempre jovens com algum tipo de instrumento musical à tiracolo. E neste final de semana, três vertentes fortes da musicalidade regional estarão na vitrine.
Comecemos pela música contemporânea. Uma nobre desconhecida, praticamente. Mas dá o que falar, tocar e mexer com as cabeças das pessoas. Cuiabá é hoje um reduto desse gênero musical (seria mesmo um gênero?), principalmente porque o maestro e compositor carioca, Roberto Victório, aqui se fixou há uns 15 anos. Um estudioso da arte, reconhecido por prêmios internacionais. Hoje, Victório tem seguidores em Cuiabá, uma nova geração de músicos. Isso é bom.

Prada e Mendes, velhos tempos!
 (Foto www.musimid.mus.br/fotos_DIVERSAS.htm)
Nos últimos anos o maestro ganhou uma aliada de peso, Teresinha Prada, que lança nesta quinta, às 19h, no auditório do Instituto de Linguagens (IL/UFMT) o CD “Obras para Violão” e o livro “Gilberto Mendes: Vanguarda e Utopia nos Mares do Sul”, da editora Terceira Imagem. No mês que vem ela repete a dose em São Paulo, na descolada Livraria da Vila. Gilberto Mendes é o cara, vale uma busca na web.

 Minha mente ta em ebulição pra enveredar na pujança da música indie, que também germina braba em Cuiabá e vai invadir alguns points da cidade com o Festival Calango. Algumas dezenas de bandas já estão no ponto para subir nos palcos e botar pra quebrar. São de Minas, Rio, São Paulo, DF, Goiás, Paraíba, Paraná, Argentina além das bandas daqui. E essa galera passeia livremente por vários ritmos e batidas. Tem de tudo.

Na quinta rola som na Zoom Zoom Bar Disco. Na Casa Fora do Eixo, quinta, sexta e sábado. De sexta a domingo, o Caverna’s recebe os sons mais pesados. Domingo, no Garage, o som eletrônico cede e divide espaço para o Vanguart, Macaco Bong e o DJ Farinha, claro. Nesses locais, o ingresso é pago e o preço varia. O grande lance do Calango 2010 começa na sexta e vai até domingo, na Praça das Bandeiras, das 17 à meia noite, de grátis! O Calango ano passado teve um dia nas Bandeiras. Fui e gostei muito da formatação. Então é isso e vamos ‘dar no coro’ agora. Mas antes, vai aqui o link pra quem quiser conferir a programação completa do Calango: http://festivalcalango.com.br/2010/programacao/


Gatos em teto de zinco quente 
Aí, rapeize... Dar no coro que eu quis dizer é o Alma de Gato, grupo de vozes masculinas que, com talento, mistura teatro, humor e música. Eles emplacam a quinta temporada do show MPBregas (o nome já diz tudo) sábado e domingo, a partir das 20 horas, no Teatro da UFMT. Mais de seis mil pessoas já assistiram esta apresentação e, como se diz... o pessoal não tem reclamado. Informações pelo telefone 8401 2126.

Até o fechamento desta edição ainda não havia despencado em minha caixa de correio a programação de cinema do Pantanal Shopping. No Três Américas, constam duas novidades que, sinceramente, não recomendaria: “Demônio”, que tem roteiro e produção do misterioso M. Night Shyamalan, e “Megamente”, uma animação meio comédia e aventura, que rendeu a baba de 15 milhões de dólares ao Brad Pitt, só pra dublar o personagem principal. Eu faria bem mais barato...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Lisboa, doce deleite



Centrão de Lisboa

Deleite puro... o encontro com o amigo Mauricio Leite em Lisboa, foi tudo. Apresentou-nos a cidade e gente gentil e muito boa. A princípio pareceu-nos feia, sem graça, perto de outras cidades europeias. Mas, aos poucos foi nos seduzindo. Ela tem várias caras que você tem que ir descobrindo. O pedaço do centro que conhecemos é sem rococós. Ruas, prédios e janelas retas.  

Também eu quero
Já lá na Feira da Ladra, subidas e descidas dezenas de vezes.Calçadas e ruas lotadas de azulejos, de pedaços de vidas passadas e presentes, roupas velhas fedidas, sapatos amassados, discos, brinquedos, jóias, louças desemparedadas e trincadas, móveis e tudo mais que você pensar... Adoro fuçar caixas e montes grandes de roupas velhas, puxar as peças e olhar detalhadamente, procurando cruzar a nossa energia, pra sentir se vai ser minha, agora! A Feira da Ladra, funciona a 800 anos, imagina só. Entretidos vimos que era hora de almoçar.
Feira da Ladra e o rei da quinquilharia


Pedaços de Portugal

Muda o parágrafo e opinião. Respeito e acho curiosos esses paraísos de quinquilharias, mas isso não é bem minha praia. Enquanto os outros se esbaldam com essa coisarada véia (para ricos, são antiguidades), cá com meus botões, fui empacando nas abancas de CDs. Fiquei uma pá de tempo escutando, CDs de tango romeno... escolhendo, escolhendo e me interessando. Finalmente saí de lá com o último CD do Santana...   


Depois da Feira da Ladra, vielas abaixo, desviando dos bondes e ônibus elétricos, nos vimos em Alfama. Sobradinhos colados, coloridos, janelas e sacadas com varais abarrotadas de lençóis, calças, camisas, panos voando. Senhoras tipicamente portuguesas tagarelando das janelas e até cães olhando pela janela que nem gente. Mais adiante e em várias partes da cidade, as oliveiras, um caso de amor a parte. É lindo.

Nossas roupas comuns dependuradas... aqui e lá

Oliveira e escada

Alfama é tudo
Chega!!!!!

A noite fomos com Mauricio curtir o centrão e Chiado Alto, rapaziada peregrinando, esperando a hora das centenas de bares, enfim, abrirem. Enquanto isso, toma-lhe bebida trazida de outras paragens. Depois a beberagem se alastra.
Vestidos para matar...

Tá meio embaçado...

Continua embaçado...
A Lisboa moderna é show, arquitetura de primeira. Metrô bacana. As estações são temáticas, aguçam as cabeças pensantes. Nosso guia espiritual e turístico, Maurício, mora em Cais Cais, um lugar assim meio Miami. Gente fina, rica, tranqüilidade, pertinho da Boca do Inferno, onde  Fernando Pessoa ajudou um poeta apaixonado, na tentativa de conquistar uma mulher, mas deu com os burros n’água.


Saindo do gibi

Na Boca do Inferno
 Lisboa é mar. Melhor, é sereia que seduz. Ah, sim Mauricio tá super bem, vive bem, feliz e manda lembranças. As fotos comprovam.  


Intervenção: Mar para Amor 
Mauricio Leite, muiiiito feliz

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Deu Macaco Bong

Subo nesse palco (foto de Daniel Tancredi)

No início de 2008, de férias no Rio, embarcando para uma viagem família, toca meu celular. Era o Pablo Capilé, grande articulador da cena musical cuiabana, informando que o Macaco Bong, banda instrumental cuiabana, estava na capa do Caderno B, a editoria de cultura do extinto JB. Corri até a banca mais próxima e comprei o jornal. Era tudo verdade.
Bruno Kayapy (guitarra), Ynaiã Benthroldo (bateria) e Ney Hugo (baixo) na capa do Caderno B. Ficaram bem na foto, com direito a chamada na capa do saudoso jornal carioca. Os Bongs, como gosto de chamá-los, começaram em 2004 como um quarteto e em 2005 se tornaram um trio. Não sei há quanto tempo deixaram de ser uma promessa da música regional, para se tornar uma realidade incontestável da sonoridade cuiabana (mato-grossense) no cenário internacional.

Ao lado de outra prata da casa, o descolado Vanguart, hoje radicada em São Paulo, Macaco Bong representa a pujança do rock do cerrado, nestes tempos de globalização, quando praticamente todos os sons do mundo podem ser conferidos, graças a democratização que a internet propicia. Mas isso foi em 2008 e lá se vão quase três anos.

Em 2009, a convite do Itaú Cultural, fui conferir a apresentação dos Bongs em SP, então convidados por outro trio instrumental, o Pata de Elefante, gaúchos porretas. Um show, música de excelente qualidade para meus ouvidos. Sei que há um bocado de resistência ao som do Macaco Bong, mas sei que eles estão conseguindo abaixar a guarda, por conta da qualidade do trabalho.

Acompanho com gosto a trajetória desse trio. Converso sempre com o baixista Ney, por telefone ou na trocas de e-mails. Uma característica dos três é a dedicação. Estudam e se preparam muito. Músicos são assim mesmo... antenados, ligados.

A última novidade em relação aos Bongs, noticiei a poucos dias, numa discreta nota no DC, que eles participaram da abertura do Futurível, evento nacional focado na cultura digital, acompanhando Gilberto Gil. 

Afinando... (foto de Daniel Tancredi)

Na primeira hora de folga entrei no youtube, meu canal de televisão preferido, para checar a performance. Está tudo lá. É só digitar Gilberto Gil e Macaco Bong. E também vale a pena checar os dez minutos do Pata de Elefante + os Bongs. Recomendo. Gilberto Gil, vocês sabem, aquela moagem toda pra tocar e cantar, mas não resta dúvidas de que é um dos grandes nomes da MPB. Seja pelas letras, pela musicalidade, pelo suingue, pela negritude etc, um grande artista. Pode até não gostar dele, por mil motivos, mas daí a dizer que o cara é ruim, é outra história.

Bongando com Gil (foto de Pedro Caetano)
Tocar com o cara, acompanhá-lo, repartir o palco, não é pra qualquer um. É isso... Valeu Bruno, Ney e Ynaiã. Tô sempre aqui na torcida por vocês.

domingo, 21 de novembro de 2010

Uma entrevista é sempre momento de troca. Um pergunta, outro responde. O entrevistador tenta e tem que conseguir puxar assunto, comportando-se de maneira a tornar interessante o conteúdo. O entrevistado também segue essa linha, naturalmente.
Nossa primeira incursão nessa história abordou um cidadão cuiabano de tchapa e cruz: Gabriel Novis Neves.
Dr. Gabriel (Foto: SECOMM-UFMT)
Gabriel é uma pessoa de fácil acesso, atende como médico, cronista de mão cheia e é um blogueiro atuante (bar-do-bugre.blogspot.com). É figura conhecida da cuiabania, por ter sido o primeiro reitor da UFMT, pela esmerada educação e respeito pelas pessoas. Por isso é comum ouvir de contemporâneos que ele faz jus ao tratamento de “Magnífico”.  É lembrado com carinho por suas pacientes e pelos milhares de cuiabaninhos e cuiabaninhas que, nas últimas décadas, foram amparados por suas mãos. Lembro-me bem da primeira greve na UFMT, em que ele, procurado para saber o que acontecia, disse: “não sei o que está acontecendo com meus meninos...”

T: Fale um pouquinho dos seus primeiros anos como papa-peixe, e também da sua infância. Quais são suas lembranças mais bonitas e saudosas?
Nasci em casa na Rua de Baixo (Galdino Pimentel), próximo a Praça da República em Cuiabá no dia 06-07-1935. Meus pais eram educadores natos com instrução primária. Olynhto Neves  (Bugre) era dono de bar e Irene Novis - prendas domésticas. Sou o mais velho de nove irmãos, todos nascidos em casa. As lembranças que guardo da minha infância são lembranças simples e singelas, de todo menino do interior. A 1ª comunhão na Catedral, a temporada que morei com o meu avô, onde aprendi a jogar xadrez antes de ser alfabetizado, o 1º dia de aula na Escola Modelo Barão de Melgaço na Praça Ipiranga.  Os passeios a cavalo com o meu avô e de ônibus aberto até o Porto com meus pais. Depois fui crescendo e descobrindo um mundo sem maldades e gostoso de viver. São tantas e boas recordações.

T: Na sua especialidade como médico, já deve ter ‘aparado’ muita gente. Você tem idéia de quantas pessoas ajudou vir ao mundo?
Até completar 10 mil partos eu contei, depois deixei para os estatísticos. A Medicina é uma profissão de difícil definição. O que me atrai é que a Medicina é uma arma de transformação social. Não confundir médico com técnico em doença. A Medicina é exercida por médico.

T: Gabriel conhecemos você desde quando era o Magnífico Reitor, nos anos 70, na UFMT. Hoje você está se tornando um dos principais articulistas da mídia moderna cuiabana. Daquele Gabriel de trinta e poucos anos passados, para o atual, mudou muita coisa?
Mudei e muito para continuar a ser o mesmo.

 T: De lá pra cá, Cuiabá passou de 70 para 700 mil habitantes, malemá. Coisas boas e ruins aconteceram. Eu fico com a impressão que a cidade vai se tornando cada vez pior pra se viver. Você concorda?
A vida é um jogo em que você ganha e perde. O final vitorioso é o nosso objetivo, embora exista o empate que possui dois sabores: sabor vitória e sabor derrota. Não esquecer nunca do placar adverso que é a derrota. Cuiabá mais cresceu que desenvolveu. Como você diz de 70 para cá, crescemos 10 vezes, mas não desenvolvemos com esse mesmo “entusiasmo”. Quando notamos esse desequilíbrio o resultado é de desconforto. É o “pior pra se viver” concordando com você.

T: Essa história de escrever para jornais e internet, de compartilhar suas idéias e ideais, deve estar mexendo contigo. Mas você tem se mostrado um sujeito que não faz muita cerimônia quando quer dizer algo. A gente sabe que quem fala o que quer, ouve o que não quer. Como você transa esse lance?
“Quem fala o que quer, ouve o que não quer” é um dos mandamentos básicos da sabedoria popular. A palavra escrita tem um peso maior que a falada. Às vezes escrevo um texto com um objetivo e a interpretação é outra. Na comunicação oral as mesmas palavras têm outro peso. Dificilmente cito nomes ou pessoas nos meus artigos. Tem é muita gente vestindo a carapuça por aí, como dizia a minha mãe. Recentemente escrevi um pequeno artigo e dei o título de Tiririca. Foi o artigo mais comentado em site. Claro, levei porradas de todos os lados. O meu objetivo era chamar a atenção para o crônico problema do analfabetismo que domina há séculos este país. Muitos me censuraram dizendo que seria melhor se eu escrevesse sobre “Analfabetismo”. Com o que aprendi, seria um artigo que o leitor iria ler o título e passar, tão desiludido com o fracasso institucional nesse assunto. Tiririca me possibilitou a falar sério sobre educação.

 T: E nossa classe política que está hoje ‘por cima’. Ela precisa melhorar? Em que sentido? Que nota você daria ao conjunto dos nossos políticos (MT)?
A classe política que está por cima é a cara do brasileiro. Temos que investir mais na genética da nossa população com permanentes ações de políticas públicas, para melhorar a cara dos políticos. A nota que daria aos nossos políticos é a mesma nota que dou aos investimentos sociais nesta nação: insuficiente.

T: Não quero puxar sua língua para falar mal deste ou daquele político. Mas você bem que poderia mencionar alguns, nos quais você deposita alguma confiança.
Se você me puxar a minha língua, com facilidade examinará a minha garganta... Confiança você não deposita - adquire. Darei créditos aos que investirem no social e no respeito à ética.  Zero a falação dos faladores.

T: Você pode, quer, deve ou não declarar seus votos aqui nesta entrevista?
Após as eleições falar em quem votou não pega. Pertencemos à cultura da lei do Gerson. Hoje todos votaram nos vencedores. Vou responder a sua pergunta dizendo que acertei apenas 2 números na loteria das eleições.

T: Uma vez você se ‘manifestou’ como político, pleiteando um cargo eletivo. E para o futuro... Você emprestaria um antigo slogan do Carlos Bezerra, tipo ‘o passado nunca mais’, ou será que ainda pode rolar uma candidatura?
Fui “manifestado” como político em duas eleições majoritárias. Perdi uma ganhei outra. Foi um curso de curta duração - 3 anos, onde aprendi muito. Não me arrependo como não me arrependo de tantas experiências que me apresentaram durante esta caminhada que pretendo ser longa... Imitando o palhaço Didi, política partidária para mim - passou, passou, passou!

T: Da política para a cultura. O que você mais tem apreciado, ultimamente, entre as manifestações da cultura regional?
O retorno com qualidade de tudo que foi plantado - banda, coral, quarteto de corda, escola de samba, orquestra sinfônica, museus, teatro, atelier livre, cine clube, zoológico e a maturidade em entender que para se chegar ao universal, o caminho mais rápido e certo é a valorização e aceitação do regional. Noto que esse momento chegou. Existe hoje em Cuiabá um terreno fértil para manifestações de todo o tipo de cultura regional. Essa bandeira foi hasteada em 1971 quando a esperada Universidade Federal foi batizada de Universidade da Selva. Estava aberta a porteira para a exaltação da cultura regional.

T: Quais obras e autores nas artes, em geral, você diria que influenciaram seu padrão estético e sua forma de encarar o mundo?
Vivo intensamente o presente, procuro sempre caminhar sabendo que para chegar ao futuro não existe caminho e o caminho se faz caminhando. Nunca, porém me esqueço do passado, fonte inesgotável de lições para evitar equívocos. Não sou um erudito nem possuidor de uma estética ou cultura acadêmica disciplinada. Fui influenciado por autores aceitos e não aceitos, sábios e a sabedoria não é propriedade de classe social. A minha paixão sempre foi para o óbvio ululante do Nelson Rodrigues. A minha forma de encarar o mundo é a forma de quem foi educado para a vida.

T: Como você avalia isso que acontece em Mato Grosso, que é a mistura da cultura regional centenária, cristalizada, com as coisas novas que chegam com essa população que veio e ainda vem do Sul do Brasil pra cá?
O que abunda não prejudica é um velho ditado popular. A cultura nossa é pré-colombiana, acrescida da africana, européia e agora com brasileiros de outras regiões de um país da mesma origem. Essa mistura que chamo de encontro - acrescenta.  Não prejudica e o resultado é cultura que sempre foi universal.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010




Dinossauro, da banda original, com as news vocalistas
 Nosso blog passarinho sobrevoou o cover-cult-kitsch Abba na noite de quinta. Munidos com a pequena câmera fotográfica, aquela mesma que levou vários tombos durante a viagem pela Europa e está remendada com um elástico no esfíncter das pilhas.  Foi um show divertido e nada mais do que isso. O estilo pop e carregado de nostalgia da banda sueca, que fez tanto sucesso e ainda convence, na pele de dois remanescentes do velho grupo, bem apoiados por novos músicos substitutos que sabem reproduzir o som do Abba, pairou soberano na sofrível acústica do Centro de Eventos do Pantanal.


Neto e companheira conferindo os jurássicos 
Essa é a minha opinião. O que achei legal é que não estava assim tão abarrotado de gente. Isso possibilitou um trânsito livre pra lá e pra cá e também deu chance pra chegar bem pertinho do palco. Acho que todo mundo que foi se sentiu confortável e seguro, o que já é bastante positivo. É importante dizer que não houve nenhum atraso revoltante, coisa que ninguém gosta.  

Valério e Clauber na noite 

Shows como este são ocasiões para rever amigos e conhecidos, algumas pessoas que a gente não vê faz horas. E também algumas pessoas que a gente vê quase todo dia – gente famosa, freqüentadora da mídia.

Nei e Tânia, especialistas nessas curtições 
Especulei com alguns que foram e ninguém foi muito enfático em elogios ou comentários negativos. Resumindo, o show deu pro gasto. A maior parte do público era de pessoas de balzaquianos pra frente, embora o Abba tenha uma aceitação razoável entre o público mais jovem.

Achei engraçado quando as moças do conjunto sugeriam que a plateia cantasse algumas músicas acompanhando o conjunto . Quando rolou “Fernando”, um dos grandes sucessos, o público até que queria cantar, mas não a versão em inglês, e sim a versão da implacável Perla, em português. Parece que o público cuiabano da faixa etária que ali estava nada sabe de inglês. Dont speak mesmo... Também sou um pouco assim.

Explicando ao Menoti o contexto sonoro do Abba no movimento gay

O repertório, que não chega a ser algo assim pra sacudir o esqueleto pra valer, embalou o público, ao longo de pouco mais de uma hora de show. Ficou claro, mais uma vez, que Cuiabá precisa de um espaço mais digno, mais adequado, para shows que atraem alguns milhares de pessoas. 

O governador é pop...