quinta-feira, 31 de maio de 2012

Panorama das Artes Mato-grossenses

Casa de porta e janela estilo Cuiabá antiga. Casa Cuiabana. Centro Cultural Casa Cuiabana. Ponto cultural reaberto ao público recentemente, pela... sei lá quantas vezes! Vida longa, que seja bem utilizada e que os artistas da terra a tomem de assalto, no bom sentido. Panorama das Artes Mato-grossenses-PAM. Estávamos no lançamento dessa “parada”, que promete agitar as artes plásticas regionais.

Não sabemos o número exato de artistas participantes. Mais de vinte, certamente. Eles receberam material pra produzir seus trabalhos. Em 45 dias (21/07) apresentarão as obras, com o tema “para dançar de olho fechado/para dançar de olho fechado”. A Casa Cuiabana é cheia de grandes janelas e, ao passar por uma delas, eis que avistamos na janela vizinha Dalva de Barros e Gervane de Paula, duas cobras criadas da força pictórica mato-grossense. Alguns dedinhos de prosa com eles e a noite está ganha.








A presença dos artistas envolvidos tem que garantir qualidade ao evento.  Estamos curiosos imaginando o que virá também das novas gerações das artes plásticas. Porque, conforme nominou Aline Figueiredo em um de seus livros, “Arte aqui é Mato”. E nesse mato tem coelho, daqueles tirados da cartola de mágicos. As cores e a luminosidade destas bandas são mágicas... vai dizer que não sabia!





Mas, a Casa Cuiabana tá que tá. Nem precisa ser um bom fotógrafo pra obter (ou pelo menos tentar) belas imagens. Fotografar o povo com luz pra lá, luz pra cá, vira essa coisa de festival de spots. E a nossa técnica apurada, sem querer (e não querendo), segue as pegadas do mestre Izan Peterlle. Quanta audácia. Mas, olha que bacana, mistura lascada! Um dançarino de siriri, fã incondicional de Alanis Morissette, posa pra gente ao lado da projeção do filme do Wim Wenders sobre Pina Bausch.



Estamos na torcida para que o resultado desse babado frutifique uma bela exposição. Algo contundente e cultural. Os trabalhos produzidos serão expostos, a princípio, em Chapada dos Guimarães, Santo Antônio do Leverger e em Cuiabá. Os agitadores culturais Luis Marchetti, Fernando Baracat, Heleninha Botelho e Larissa Silva Freire coordenam a iniciativa; que ainda conta com a chancela, nada mais nada menos, da professora Marília Beatriz Figueiredo Leite.


A lua foi testemunha...

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Uma palavrinha

Batidinha de limão
Tudo que é pequenininho e bonitinho, é carinhoso? Ledo engano. Essa coisa de usar tudo no diminutivo é um jeito imbecilizante de tratar as pessoas e situações. As crianças, tadinhas, são vítimas desse movimento de idiotização. Não confie em ninguém com mais de trinta anos que insiste em usar o grau diminutivo para tudo, principalmente para amenizar suas ou nossas cagadinhas! Pode crer, tem algo de podre. Cheira falsidade!

A ambiguidade é uma parceira valiosa e cabível para descobrir o exato sentido das palavras nessa forma. Contextualizar é preciso diante disso. Na dúvida, vá além e recontextualize. E se permanecer o impasse, peça a ajuda aos universitários, caso não tenha como se socorrer com nenhum doutor em língua portuguesa.

Essa caipirinha é das boas, se ligue nela!

Tenho certeza de que você, já passou por isto. Numa mesa, roda de amigos, um agradável estabelecimento que explora o “dolce far niente”. O garçom gentilíssimo a todo momento aparece do nada e sugere mais uma cervejinha ou chopinho, após checar o copo e a garrafa da mesa. E complementa sugestões como um salaminho, uma pizza a palito (por trás disso quer dizer picadinha), um tiragostinho... O intuito de toda essa solicitude é nos confundir, embebedar e empurrar o frango a passarinho, escondinhos, caipirinhas e o escambau.




O tratamento vai que vai, mas, eis que de repente chega a hora: “O senhor quer a continha?”. E o espanto da ao ver a dolorosa não é sufocado: O quê, que merda é essa???? Como já tomou todas e tá se achando um homenzarrão... Mas o bom senso prevalece, mesmo meio êpa, tira da carteira o pobre coitado do cartão de creditozinho. E você pensa: “Ah, se eu tivesse ido dar uma mijadinha...”.

Gulliver na terra dos pequeninos
Há menos peixinhos a nadar no mar/do que os beijinhos que eu darei na sua boca”. A bossa nova, que surgiu na virada dos anos 50 para os 60, favoreceu nas letras das músicas de então essa informalidade. Esse jeitinho, digamos, carinhoso, de prover a poética musical. Música, entretanto, é música. Expressão da arte que combina com poesia e toda a licenciosidade que exige o direito ao verso. Ou o versinho, tudo bem. Ainda mais se o “poetinha” estiver por trás disso. E o barquinho vai, a tardinha cai!


O poetinha e Mr. Buk(ovski)

É curioso como algumas palavras, quando lançadas ao diminutivo, radicalizam na alteração do sentido. “Filho, com qual camisa você quer ir nessa festa?”, indaga a mãe ao mancebo que acaba de completar 19. Ela sabe que o filho nem vai responder e que ela apenas puxou assunto. E complementa: “Vou deixar umas camisinhas sobre a sua cama”.
Filminho e timinho. Diminutivos que pedem complementos. Ou, pelo menos, entonação. Agora, se no filminho aparecer um mocinho... melhor ficar do lado dele, porque a maior parte dos filmes tem final feliz. Estamos quase no finalzinho. Então, a mulher disse pro marido: “Seu pinto é tão pequinininho...”. Ele responde: “Eu sei. É por isso que eu moro aqui em Cuiabá. Se eu morasse num lugar frio, nem sei como iria encontrar ele na hora de dar uma mijadinha”.


Toquinho

terça-feira, 29 de maio de 2012

Rola bosta

Macacos me mordam! Este assunto é deveras uma armadilha. Claro, o tema trata da maior casta existente no nosso planeta. A Classe Insecta, esses bichos esquisitos que, diferente dos outros, possuem o esqueleto do lado de fora. Uma armadura. Outra característica da maioria é a metamorfose. Numa fase da vida, são feios e asquerosos, de repente dão um sumiço e do nada aparecem feito um destaque de escola de samba. Lindo, maravilhoso. Na primeira fase só pensam em comer, na segunda, abstêm-se de comidas, pois só pensam naquilo... reprodução.   

É tanta variedade dentro de uma só espécie que os cientistas, ao longo desse tempo todo, admitem que estudos e pesquisas em torno deles ainda vão dar muito pano pra manga. Graças a Deus, entretanto, eles são pequenos. Mas um só é capaz de levar uma pessoa sã à loucura. Não facilite com eles. Você sabe estrago que um mosquito da dengue pode fazer... Brinca pra ver!

Naqueles bate-bocas rasteiros que estão por um quero pra o nível baixar de vez e quem sabe até alguém pregar a mão na cara do outro, tempos atrás, havia um provocação que significava altivez de quem a proferisse, colocando o oponente no rés do chão: “O que vem de baixo não me atinge”. E trataram logo de descobrir uma respostada à altura: “Senta num formigueiro”.



O pior lugar do mundo pra achar um percevejo é na cozinha. Hoje tive que matar um que estava no teto do nosso laboratório gastronômico. Coitado. Mas tive que assassiná-lo, porque me lembrei de um louva-deus nesse mesmo local e não sei por que resolvemos deixá-lo por ali. E ele foi ficando. E não é que o gafanhoto hierático achou de nhapar um percevejo, que por vingança, infestou o ambiente. Descobrimos que o louva-deus é um predador voraz. Aquelas patinhas em forma de louvação... só enganação. Informação científica: percevejo, é quando é macho. Quando é fêmea, é maria fedida. Pra um gafanhoto mal só uma gafanhota que, após um sexo bem gostoso, devora-lhe a cabeça. Essa sim é feroz!

As baratas acreditam no grande barato!

Em minhas lembranças de quando era criança pequena em Livramento, no sítio do “Seu Bento”, nunca temi animais de grande porte, nem mesmo serpentes. Mas uma formiga, a tal da tucanguira, pretona e grande, que até chia quando molestada... essa exige respeito sim senhor. Sua picada pode causar febre, vômito e muito mal estar. Outra bichinha braba é a formiga novato. Vermelha, queima como fogo e vive numa árvore chamada novateiro. Tem muito lá no pantanal. Afaste-se dos novateiros e não terá problemas.



O mundo dos insetos volta e meia é explorado pela ficção. O exemplo mais notável de todos é “Homens de preto”, filme que acaba de ter lançado seu terceiro episódio. Acreditou, né? Claro que não. “A Metamorfose”, de Franz Kafka, é o que há. Literatura de qualidade é daqueles livros que prendem o leitor. Muito mais interessante do que o filme mencionado acima são pelo menos dois filmes do canadense David Cronenberg: “A Mosca” (1986) e o inenarrável “Mistérios e Paixões” (1991), baseado no livro autobiográfico do escritor americano William Burroughs, “Naked Lunch”.




Outro cineasta doido e bom, David Linch, surgiu certa vez com um estranho personagem, pervertido sexual, que colocava baratas dentro da cueca para se excitar. Pelo amor de Deus, gente boa que lê o Tyrannus: não tentem fazer isso em casa.

O músico russo Rimsky Korsakov também viajou na classe insecta. Numa de suas óperas inseriu a composição “O voo do besouro”, que simula com requinte a atmosfera de um coleóptero sobrevoante. E nossa imaginação voa.   

(Nikel Náusea de Gonsales)
   

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Caverna dos sonhos perdidos

“Há mais mistério entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia”. Não subestime, porém, os segredos, os cacos da história, que estão entre o magma e a superfície do nosso planeta. O ambiente cavernícola exerce uma atração irresistível em algumas pessoas que não se poupam em se arrastar e espremer-se entre minúsculas passagens, em meio a escuridão amorfa, rumo ao desconhecido. Terror e pavor para os claustrofóbicos, um prato cheio para os freudianos. As grutas e cavernas calcárias formam nas reentrâncias e aderências, ambientes semelhantes ao uterino. A perda do calor corporal que ali dentro acontece dá a sensação de que acima, de onde se está, será encravada sua lápide.

Desde que o mundo é mundo, supomos, existem cavernas. O homem tinha nas cavernas um local para se abrigar e, por ali, sentindo-se seguro, exercitava a representação do figurativo. Há registros de pinturas rupestres de algumas dezenas de milhares de anos. Vi um menininho de dois ou três anos, daqueles bem sapecas, munido de uma caneta porosa outro dia. Sob o olhar questionador dos pais, aplicou sua arte rupestre nas paredes da sala. Desenhar é legal demais. E não é de hoje que o ser humano faz isso.


Herzog durante as filmagens da "Caverna dos sonhos perdidos"

Um documentário do cineasta alemão Werner Herzog, idolatrado desde os anos 80, sobre o sítio arqueológico Chauvet-Pont d’Arc, na França, que guarda inscrições datadas de cerca de 36 mil anos, instigou-nos. Além das pinturas, algumas com traços muito sofisticados, os pesquisadores acharam ossadas de vários animais (nenhum humano) e artefatos. Não possuímos conhecimento de espeleologia, arqueologia, paleontologia etc. Sabemos que esses estudos trazem muita luz para conhecer a história da humanidade.

Desde a descoberta “de Chauvet” a França tratou o local como joia preciosa. Incentivou os maiores exploradores do mundo a desenvolverem suas pesquisas e logo pretende reproduzir o local para visitação pública. Chamou atenção ao longo do documentário um sujeito especialista em identificar odores, perfumes. O personagem procurava detectar cavernas com seu apurado faro em busca de um odor que pudesse remeter ao passado. Para isso, enfiava seu nariz em fendas ou coisas semelhantes nas formações rochosas.    

Simultaneamente ao tal documentário, nos chegou a notícia da descoberta de novo sítio arqueológico, também na França – Abri Castanet, este, anterior aos 37 mil anos. Tanto em Chauvet, quanto em Castanet, foram encontrados registros dos aurinhacenses, os primeiros homens modernos que partiram da África para a Europa, há mais ou menos 45 mil anos.

Pont d'Arc

Parna Serra da Capivara

No Brasil, o Parque Nacional da Serra da Capivara, lá no Piauí, a riqueza da pintura rupestre motivou a criação dessa unidade de conservação. Mas o empenho para assegurar esses valiosos sítios, verdade seja dita, é da arqueóloga brasileira Niède Guidon, professora da Sorbone. É um local que todos os brasileiros deviam conhecer.

Registros rupestres são usados nos trabalhos da comunidade
 do entorno do Parna Serra da Capivara  

Aqui em Mato Grosso existem vários sítios onde há registros de povos pré-históricos. E pesquisadores, como Suzana Hirooka e Caia Migliaccio, que conhecemos de longa data, vão à luta. Bem ali, na Avenida Beira Rio, está aberto à visitação o Museu de Pré-história Casa Dom Aquino, com um acervo bem bacana que acrescenta, e muito, informações sobre nossa história.

Gabriela Priante no Museu de Pré-história Dom Aquino

domingo, 27 de maio de 2012

Janelas abertas

Nada na cabeça. Um vazio tão grande que pode provocar, dependendo da força, deslocamentos de ar causando uma tempestade de vento, um tufão...furacão. Tudo cinza. Melhor assim... Como deve ter sofrido a Medusa com aquele monte de cobras dependuradas. Silvando, sibilando em seus ouvidos. Cada cabeça uma sentença.
Nem minhoca, nem piolho nada de seres macroscópicos perambulando nesse planeta seborréico. Tamo numas de mula sem cabeça desembestada soltando fogo pelas ventas!
Mas... mas, falando em cabeça, fuzilou algo. Assim como uma faísca, na memória enevoada. Dois trabalhos musicais que curtimos à beça: “Dança das Cabeças” (Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos) e “Cabeça Dinossauro” (Titãs). E mais duas músicas que fizeram a cabeça da nossa geração: “Bicho de Sete Cabeças” (Geraldo Azevedo) e “Janelas Abertas nº 2” (Chico Buarque).

“Dança das Cabeças” é de 1976, fruto da parceria de Egberto e Naná Vasconcelos que estão entre os melhores instrumentistas brasileiros. O disco, quase todo instrumental, viaja para contar a história de dois rapazes vagando por uma floresta densa, úmida e cheia de insetos. Mantendo 180 passos de distância entre eles. O trabalho catapultou ambos ao estrelato internacional.
Ter ouvido o LP era garantia absoluta que você era um cara cabeça. Imagina possuir! Cabeça era pouco: cult. Status quo garantido! Nessa época tínhamos fissura ou neurose pela palavra cabeça. Era gente cabeça, papo cabeça, filme cabeça e uma fazeção de cabeça... sem fim!



Dez anos depois os Titãs aparecem com o álbum “Cabeça Dinossauro”, que abalou as estruturas, num momento muito propício. Mudanças políticas e sociais pipocavam no Brasil e no mundo. Nosso palpite é que esse foi o melhor trabalho dos Titãs. O grito primordial sem amarras!


E sete anos foram necessários para Itamar Assumpção lançar de pancada Bicho de Sete Cabeças I, II e III. A voz, o suingue e a genialidade do pretobras mais pretobras do Brasil. Cabeça tá mesmo com tudo na música brasileira.


Este post cabeça foi maturado numa pergunta trivial que rolou, quando assuntávamos o assunto domingueiro. “Tem algo pra gente escrever hoje? Tem alguma coisa na cabeça?”. “Nem minhocas...”. A resposta na lata deu nesse papo cabeça.

sábado, 26 de maio de 2012

Morcegão

Os vampiros e suas histórias fascinantes acompanham o imaginário de nossas vidas. São muitos os filmes e, mesmos os mais desprezíveis, costumam apresentar cenas e sequências interessantes, graças à força desse personagem universal sombrio e cercado de mistérios... e de sangue.

Deve ser por isso que, nos tempos em que eu bebia de forma mais irresponsável, sem limites, e acordava “podrão”com aquele mal estar e a dor de cabeça superlativa, para vomitar, desenvolvi um hábito: o de me olhar no espelho logo após o vômito. Gostava de conferir a minha imagem depauperada com os olhos vermelhos e aquela expressão de quem está naquele limiar “morto/vivo”.


A assistimos uma carrada de filmes de vampiros e o desempenho notável de alguns atores como Gary Oldman, em Drácula de Bram Stocker, ou Tom Cruise em “Entrevista com o vampiro”; só para citar alguns filmes não tão antigos. E, em matéria de modernidade vampiresca, que saibamos, ainda está imbatível a produção sueca “Deixa ela entrar”. Melhor não falar aqui da saga “Crepúsculo”. Nada contra o bonitinho Robert Patinson.




Essa história de tempo é invenção humana. Para os vampiros, não interessa. E a sorte deles é que não se refletem no espelho, porque, quanto mais velhos, mais feios. E vamos ao passado para celebrar um grande ator que se notabilizou com esse personagem chupador de sangue. O britânico Christopher Lee que, neste domingo (27), completa 90 anos.




E Lee, também dono de uma bela voz (a conferir em http://www.youtube.com/watch?v=Z93SdirnzTw), segue firme como imortal, ou morto vivo, como queiram, e convém aos vampiros. Para este ano de 2012 o ator veteraníssimo tem participação prevista em quatro filmes. No ano passado fez uma ponta no premiado “Hugo Cabret”, de Martin Scorsese.

Christopher Lee, vamos combinar, é o vampiro mais emblemático de todos os tempos. O Drácula clássico, por assim dizer. Combinando seu talento como ator com o grande número de filmes que gravou na pele desse personagem, assim decidimos. E assim é o Tyrannus, democrático até não mais poder.

Ainda é cedo e o sol vai demorar pra romper a madrugada. Mas...”sinto aquela coisa no meu peito/sinto aquela grande confusão/sei que eu sou um vampiro/que nunca vai ter paz no coração” (Jorge Mautner). E, sendo um vampiro, tenho lá meus poderes. Vou embalançar minha capa e só volto no post de amanhã. No caso de você ter algum sentimento ou ódio secreto contra este pássaro/blog, fique sabendo que temos convênio com as criaturas morcegos. Inté...

quinta-feira, 24 de maio de 2012

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"aquilo que as palavras fazem e não dizem" (Meschonnic)
Inúmeras vezes relatamos a nossa maneira de trabalhar os assuntos ou temas para escrever os posts de cada dia. Às vezes a coisa vem quase pronta, bem estruturadinha na cabeça, e na hora desanda em algo que não imaginávamos. Outras vêm completamente livres, leves e soltas e... também descambam. Descambar é uma liberdade que nos surpreende. Divertimos, rimos muito nessa lida.  

Mas nem tudo é um mar de rosas. Temos uma diferença que nos distingue ao escrever que, vez por outra, dá atritos. Faíscas. Tem a ver com o ritmo de cada um.  Gosto de explicar, detalhar, esmiuçar e amontoar palavras e palavras com vírgulas e mais vírgulas. Enquanto ele (ele sou eu) é mais seco, conciso e conclusivo. Lasca de pronto um ponto. Por isso, deduzimos que as mulheres são de vírgula e os homens são de ponto.

"o livro pode valer pelo muito que nele não deveu caber" (Rosa)

Saramago, linguagens subversivas

É da natureza feminina não gostar de terminar um assunto, sem mais nem menos. Gosta de tudo bem explicadinho, nos seus mínimos detalhes. O pensamento delas parece um rio cheio de meandros. Vai lá longe e volta e faz uma volta grande e volta, quase que pro mesmo lugar. Os homens são práticos, de poucas palavras. Cartesianos por excelência adotam a máxima de que a menor distância entre dois pontos continua sendo uma reta.  

"o desconhecido para uma língua que se desconhece" (Lispector)
Mulher também gosta de reticências e de aspas, porque elas destacam. Adoram as exclamações e as interrogações, usadas não somente para as intermináveis perguntas, mas também para as dúvidas, que sempre são muitas. Homens já gostam de travessão e hífen, porque se assemelham a símbolos fálicos. E adoram, claro, os dois pontos. Há controvérsias.

Ousamos dizer que, na transposição da oralidade falada para escrita, o texto tem seu caráter rítmico adulterado pelo uso lógico da pontuação. E a poesia é a linguagem mais subversiva contra dogmas arcaicos.

 “Fazemos pausas na conversa que na leitura da prosa se não podem fazer.” (Pessoa)


"as pessoas precisam ler escritos que não compreendem" (Lacan)