sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Feliz 2011




Uma flor do nosso jardim
era uma vez um blog
e eu aqui, grogue,
a escrever o último poema do ano.
era uma vez um texto
e o meu lado humano
meio palavra, meio pretexto.
agora é que são elas,
a hora h de coisas belas
que desejo, quero e vou conseguir
seja todo prosa, seja todo poesia...
a palavra é o dom de iludir.
2011 vêm com a magia
que sobrecarrega o futuro,
o futuro que é meu presente
e que me deixa mais osso duro.
não se entristeça nem se apoquente
com a sua vida.
seja valente. Vale a ilusão,
o verso e sua rima preferida.
seu caminho, agora, é caminhão.
no ano novo, muita coisa cabe.
grave no seu coração a felicidade.


2011 é nóis !!!!!!!




quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Cair e levantar


Fidel caiu de "demais" de maduro
 Beber, cair e levantar. Coisa de bebum. Mas não é preciso estar bêbado pra cair. Tombo combina com vexame. Vexame precisa de público. Por acaso, alguma vez quando você contou pra alguém que levou um tombo, já te perguntaram se alguém viu? Tombo combina também com humor. “Quando você cai, sua moral cai junto”, sentenciou Millôr Fernandes. As imagens de uma queda sempre têm lá a sua graça. Mas a vida ensina que para cada seis tombos deve haver sete levantadas. Boto fé nisso. 

“Fulano fincou e virou...” Conheço essa expressão desde bem pequenito. Não tenho certeza se é destas bandas, mas cai bem pro sotaque cuiabano. “Despencou, abriu asa... joeiô (de ajoelhou)”, são outros jeitos regionais de zombar da queda alheia. “Tá lá o corpo estendido no chão” é coisa do cancioneiro popular.br. Um tropicão, uma casca de banana e aquelas placas que sinalizam banheiros, shoppings, hotéis etc., sugerindo um piso escorregadio fazem parte da simbologia do “ir ao chão”. Os nocautes da vida podem estar em cada esquina ou fração de segundos. O perigo é maior, lógico, para quem já avançou na idade, já que os riscos de quebrar a bacia se multiplicam.


Naomi caiu do salto "demais de alto"

Tombo aqui, tombo acolá, não nos esqueçamos que as quedas existem para ser superadas. Você acha que a gente ia postar aqui um texto pra baixo? Sai dessa ô meu. O negócio aqui no Tyrannus é pra cima. E nem vamos entrar nas metáforas que se apropriam de expressões como tombo ou queda, porque se não a gente ia acabar capotando aqui.


Caê caiu "demais" de baiano

Uma vez, no comecinho dos anos 70, aqui em Cuiabá, fui num tal do jantar dançante no clube Dom Bosco. Eu era adolescente e estava na entrada do baile, observando as pessoas chegando pro lance. De repente, de lá pra cá, vinha descendo uma das garotas mais cobiçadas da época. Ela se embananou com seu salto alto e despencou escada abaixo. Um amigo que estava por ali ainda tentou aparar a guria, mas não logrou êxito. Foi constrangedor. E engraçado.


Lady caiu "demais" de gagá

Então é isso. Hoje fica por conta do tombo nosso de cada dia. Ops, de cada semana, mês ou ano, dependendo de cada um. Dizem que quanto maior, maior o tombo. Também acredito. Gente grande assim que nem eu tem menos equilíbrio e vai mais ao solo. Nesta quarta (28), por exemplo, acordei cedo. Dez horas da manhã. Um despertar precoce demais pra estes dias que ficam entre o natal e o ano novo. Como a pressão tem andado meio alta, resolvi ir até o mercadinho mais próximo pra comprar um chuchu. Com essa de almoço saudável na cachola, ao sair, finquei e virei bem na porta de casa. Ralei o joelho e ao confessar o acontecido pra Fátima, como uma bomba veio a pergunta: alguém viu? Não... Respondi.


Lorenzo caiu "Ademais" ninguém viu


terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Yes, We Can


Yes, We Can
Não pergunte, não fale... finalmente caiu! A promessa do ”Yes, We Can” foi cumprida. Após a revogação da lei “don’t ask, don't tell”, Barack deu boas-vindas aos soldados gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros ao exército americano e disse: “Seu país precisa de você, seu país quer você, e teremos a honra de recebê-lo nas posições dos melhores militares que o mundo já conheceu."  


Promessas... Todo ano novo começamos com nossas velhas promessas, a maioria pra nós mesmos: vou emagrecer, vou malhar, vou parar de beber, ou melhor, moderar na bebida, não vou fumar, vou estudar mais, vou..., vou... Se contabilizarmos as cumpridas, creio que serão poucas, pois voltamos a repetir quase que as mesmas todos os anos. Então porque fazemos se sabemos que não serão cumpridas? Fazemos os mesmos votos todos os anos por falta de sonhos e desejos que mereçam a nossa crença, esforço e investimento em cumpri-los. Na verdade temos muitos desejos, mas acreditamos serem inacessíveis e às vezes que não somos merecedores. Preferimos apostar naqueles que não serão levados a sério. Como diz o profeta baiano “gente nasceu pra brilhar não pra morrer de fome”, e é verdade, tudo é possível. Por isso desejamos um “Yes, We Can” ou “verdade, nóis pode”, em 2011.

Sim, as mulheres podem chegar lá 
O ano ainda não acabou, mas está por um triz. E a gente lança essa conversa de promessas de fim de ano. Pra você ir pensando em algo que vai prometer a si mesmo para os doze meses que vem. Se você vai cumprir, ou não, o problema é seu. Mas também tem a ver com as pessoas mais próximas que o circundam. Imagino que quem é mais determinado e cumpre o que prometeu é mais feliz e mais apropriado para convivências. Só imagino. Não tenho estatísticas sobre isso.


Agora, lembre-se bem: essa história de prometer e não cumprir combina mais com os políticos. No Brasil, então, vixi... É o que há. Políticos devendo promessas não cumpridas. Além de dever outras coisas também. Por exemplo: um pouco mais de vergonha na cara para si próprio. O aumento salarial que nossos representantes aprovaram lá em Brasília foi de doer. De doer no bolso da gente... Porque no deles...

Sim, no foreves
E voltemos ao começo. Frisando o tamanho da encrenca que o presidente americano encarou ao abrir o exército americano para todos, independente das preferências sexuais. Obama foi corajoso. Fico pensando nas forças conservadoras da sociedade americana, especialmente os oficiais daquele exército que deve ser o que mais mata e mais participa de guerras no mundo inteiro. E torço para que o ingresso no exército dos EUA desses jovens que sempre foram discriminados também provoque mudanças no tratamento injusto e incorreto que o governo americano vem dando à algumas questões delicadas da geopolítica internacional.   




domingo, 26 de dezembro de 2010

Natal... até que deu um rock!

Natal é fogo, na certa
Nem Natal, nem ano novo. Entre os dois e aquela preguiça lascada. Ter um livro pra ler e não lê-lo. Uma visita pra fazer e falhar. Um texto pr’escrever e necas. Só a louça... Essa tem que ser lavada, porque mais comida... nhã... nhã... nhã... precisa ser feita.


Cada vez acredito mais que esses dias que ficam entre o Natal e a passagem de ano foram feitos pra encher a pança e morgar. “Se como, me dá sono, se durmo, me dá fome”. E se pegar uns quilinhos extras, tem o início do ano pra realizar os desejos deixados para todas as “segundas-feiras eu começo”. Dá-se um jeito.

Vida dura: comer e dormir

Natal totalmente família. Chester com cuz cuz marroquino e saladinha esperta no dia 24, no dia 25 uma reciclagem desse mesmo cardápio – algo mais do que o ‘restodontê’, com direito a uma farofa com os miúdos da ave gigante, com a qual e vinha sonhando faz horas. E neste domingo um risoto de funghi porchini com bracholas. Mais frutas, doces, cerveja e vinho, religiosamente. Por falar nisso, perdemos a Missa do Galo. Na verdade esquecemos e que Deus nos perdoe.

Abusamos da televisão nos dias em que passamos em casa. Mas a programação da TV paga tava o ó. Salvos pelos filmes, musicais, documentários e shows gravados: “Mistérios e Paixões”, filme doido de David Cronenberg, baseado em romance do doidão William Burroughs, aquele beatnik americano. Pegou legal. Pra complementar o documentário de Leonard Cohen, Amy Winehouse, Franz & Ferdinand, Ray Charles, Ária e outros. Fora isso os filmes assistíeis que rolaram pela Sky e que a gente viu foram “Soldado Anônimo”, dirigido por Sam Mendes, e “Gandhi”, ganhador de oito Oscars, sob a direção de Richard Attenborough e o imperdível "Noviça Rebelde", de Robert Wise e outras baboseiras.


Jack Gyllenhaal em Soldado Anônimo
Julie Andrews, em Noviça Rebelde 


Biscoito de Gengibre em Natal de Sherek
Sempre achei o Natal uma festa que não é nenhum show de animação. Nesse sentido nunca foi nada de especial. Será que é porque não acredito em Papai Noel, ou será que faltou uma lareira aqui em casa? Natal, numa visão mais crua e cruel é mesmo aquela sengraceira e nem adianta querer inventar moda. Sinto de saudades dos natais com as crianças ainda pequenas. Cheguei até a vestir de Papai Noel, pra eles e os sobrinhos. Aí sim, o natal parecia ter sentido.

Papai Noel e Vitor

Os pequenos...
Puxando pela memória, me recordo de um cartão que minha mãe e minha irmã enviaram lá pelo início dos anos 80. Na capa: “sabe quem Papai Noel pegou andando com seus viadinhos?” Abrindo o cartão tava lá manuscrito com a letra da mama ou da mana: “Lorenzo e sua turma”. Que coisa. Deve ser porque nunca primei pela boa companhia, segundo os conceitos mais demasiados politicamente corretos.

Mas a queda da tarde domingueira neste dia 26 me puxou a orelha. Postar um textinho aqui no Tyrannus e preparar o espírito e o corpo para a última semana do ano. Até mais... Parece que ainda tem uma latinha de cerveja na geladeira. Vou lá. Fui!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Aniversário

Edição extraordinária: Niver Lorenzo

Família Tyrannus, faltou a Bibi


A marvada

Balangando o champagne

Viva!!!!!

Deu bolo

Convidado atrasado

Convidada animada

Presentes e jabás

Editor de Cultura recebe cada jabá, meu. Coisa de fazer inveja pra qualquer um. É livro, é CD, DVD... O que mais? CD, DVD..., livro. Até cartão de natal a gente recebe nesta época do ano. Coisa de louco. Ganhei até um uísque. Marca ‘rivas’. Na dúvida entre beber, ou não, acabei bebendo e esqueci. Esqueci o que? Ah, esqueci do que estava falando. Da presentaiada que editor de cultura recebe.


Presentes do Lorenzo
 Na quarta-feira à tarde recebi uma caixa respeitável pelo correio. Mas não era jabá. Apenas uns presentes que minha mamã enviou do Rio de Janeiro. Por causa disso, me chamaram de filhinho da mamãe. Claro que o sou. Na encomenda que Rosinha...(Rosinha é a minha mãe, não confundir com o rústico repórter policial do Diário de Cuiabá, que é outro)... Pois é, vieram entre outras cositas, um chapéu Panamá zero bala, que me vai proteger dos malefícios solares desta cidade e também massagear meu ego. Cê sabe, o chapéu também tem a ver com a vaidade masculina).

 Agora, por favor, como dizem os caras lá do Rock Gol da MTV: tirem as crianças da frente da tela do computador, porque vou falar da obra conhecida como ‘catecismo brasileiro’: Quadrinhos Sacanas. Uma coleção contendo 4 livros em quadrinhos, que nos remetem a Carlos Zéfiro, o pseudônimo de um sujeito besteirento que, entre os anos 50 e 70, vendia que nem água essas historinhas nada cristãs. Acho que é desse tempo a máxima de que masturbação fazia crescer pelos nas mãos, a nóia dos de adolescentes da época.

By Carlos Zéfiro
Os mais jovens, talvez, tenham como melhor referência sobre Carlos Zéfiro o trabalho gráfico de um dos primeiros CDs da Marisa Monte (Barulhinho Bom), assinado por Gringo Cardia.
Bom, Alcides Aguiar Caminha (seria ele aparentado do Pero Vaz, aquele da carta?) vulgo Carlos Zéfiro, nasceu em 1921 e morreu em 1992. No Rio de Janeiro. As pessoas da minha faixa etária (mais os homens) devem se lembrar do nome Carlos Zéfiro, ou da alcunha ‘catecismo’, que tentava mascarar essa pouca vergonha vendida nas bancas de revista.


Toca aqui


A editora Peixe Grande acaba de lançar a segunda coleçãoda série Quadrinhos Sacanas, apresentando novos trabalhos dos discípulos de Zéfiro. São 14 historias libidinosas que, digamos, não combinam muito com o espírito natalino, segundo a tradição cristã. Eu que já tinha a primeira coleção e agora tenho a segunda. E recomendo. Um traço simples e enredo mais que direto, nada complexo. Um entretenimento assim safadinho. Fez sucesso em outras épocas e não há registros de que o ‘catecismo’ tenha causado danos sociais ou morais.

Interessados podem comprar ou obter mais informações no site da editora – www.editorapeixegrande.com.br. Se vira mano. E adquira o seu, porque esses que aparecem aqui na foto têm dono.


Caixa 1


Caixa 2



terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Entrevista com Luiz Ruffato



Escritablog

O jornalismo cultural possibilita que a gente conheça e se aproxime dos artistas. O jornalista que atua nessa área e realmente é interessado, evolui, aprende muito e também tem o privilégio de fazer amizades com pessoas mais sensíveis e inteligentes. Não é pecado rotular artistas dessa forma. Foi assim que conheci o mineiro de Cataguazes, Luiz Ruffato, escritor expoente da nova geração literária brasileira. Quer dizer, primeiro, li alguns de seus livros e gostei muito.

Em 2008, um amigo jornalista, o Pitolé, me procurou para armar uma entrevista com Ruffato. Pitolé foi colega de classe de Ruffato há muitos anos, lá nas Gerais. Minha conversação com Ruffato está reeditada aqui nesta postagem, mais abaixo. Vale a pena dar uma olhada.

Nesta terça (21/12), dando uma conferida nos mails, eis que registro um do Ruffato, solicitando apoio a uma revista literária, criada por Wladyr Náder, um dos principais responsáveis pelo chamado boom da literatura brasileira na década de 1970. Náder tocou a revista chamada Escrita e chegou a perder patrimônio pessoal para alimentar o sonho de abrir espaço para os novos. “Foi assim naquela época (entre 1976 e 1988, com interrupções) e... continua assim até hoje... Agora, ele está à frente da versão eletrônica da revista Escrita... Convido você a visitá-la, divulgá-la, colaborar com ela...”, escreveu Ruffato em seu mail. O endereço da revista é http://escritablog.blogspot.com/   


Última capa da versão impressa

Revista literária de prestígio, disposta a descobrir talentos, oferece suas páginas a  escritores imaginosos  e de fino estilo. Não é preciso ser bonito ou  bonita, ter dinheiro ou vestir-se com bom gosto. Capricho só no texto. Poetas e ficcionistas são bem-vindos, sem distinção.”  Esse texto está na página inicial do blog e também era o lema da revista impressa. Vai lá e manda bala. Sei que muitos amigos escritores passeiam pelo Tyrannus e garanto que isto é assunto do nosso interesse, especialmente, já que é um espaço literário coletivo, inclusive, para novos talentos.  


ENTREVISTA
Escritor de carteirinha

Mineiro de Cataguazes, o escritor Luiz Ruffato é uma das mais gratas revelações recentes da literatura brasileira. Dono de um estilo próprio, onde experimenta inovações na narrativa, e demonstrando um pleno domínio de texto, o autor vem conquistando alguns dos mais importantes prêmios literários brasileiros. Bom de conversa, como costumam ser os mineiros, Ruffato respondeu com sinceridade as questões que lhe encaminhamos, via e-mail.

Diário de Cuiabá - Ruffato, sua biografia registra uma origem humilde onde a acessibilidade a uma formação cultural que desencadeie o surgimento de um escritor sofisticado não tende a ser comum, embora essa colocação cheire ao preconceito. Sei lá. Mas, fale-me de como a literatura surgiu em sua vida e de como seu pai (pipoqueiro) e sua mãe (lavadeira) influenciaram na sua opção profissional.

Luiz Ruffato - Nasci numa família sem nenhuma cultura formal. Meu pai era semi-analfabeto, minha mãe analfabeta. Em minha casa não tínhamos, obviamente, livros, a não ser a Bíblia, já que meu pai, numa altura da vida, converteu-se, tornou-se crente, como se dizia, ou se diz, e acabou diácono de uma igreja pentecostal, a Maranata. No entanto, meus pais tinham absoluta certeza de que a única maneira de nós, os filhos, conseguirmos alguma coisa na vida seria através dos estudos. E nunca mediram esforços para que estudássemos. Então, através de nossos esforços, eu e meu irmão nos formamos no Senai, em tornearia-mecânica. Infelizmente, meu irmão morreu moço, com 26 anos. Minha irmã, como era praxe naquela época, abandonou logo os estudos, casou... Eu continuei batendo cabeça, fui pra Juiz de Fora trabalhar, acabei me interessando em continuar os estudos, fiz Comunicação na Universidade Federal de Juiz de Fora...

DC - O engajamento social dos artistas costuma retumbar numa patrulha ideológica implacável. Mas há exemplos de criadores geniais, cuja biografia, nem sempre se pauta no politicamente correto. Você tem uma opinião formada sobre essa questão?

LR - Não me importo em ser politicamente correto ou não. Importo-me em deixar claro de que lado estou. O problema é que hoje os escritores preferem não ter opinião a respeito de nada. Prefiro conversar com um sujeito conservador, que se declara conservador, do que com um sujeito que não sei o que pensa. Se é que pensa. O que fica, sem dúvida, é a obra do escritor. Mas o escritor também é um cidadão. E enquanto ele é vivo, penso, tem um compromisso com seu tempo, a que não pode furtar.

DC - Sua escrita apresenta características inovadoras. Você tem se mostrado um autor libertário, propenso a burlar convenções e quebrar regras narrativas. A tipologia e outros aspectos gráficos, gramaticais etc, são tratados sem muita cerimônia em sua literatura. Por quê isso? É algo mais racional ou apenas um fluxo de consciência estiloso?

LR - Eu escrevo racionalmente. Todas as minhas decisões são baseadas em opções pensadas e pesadas. Evidentemente, alguma coisa sempre foge ao modelo, senão eu não seria humano, mas máquina. Mas escrever é trabalhar. E trabalhar com afinco. Não acredito em inspiração.

DC - Sua produção literária registra experiência no terreno da poesia. Isso é coisa do passado, ou podemos esperar novos versos de Ruffato futuramente?

LR - O meu livro de poemas, As máscaras singulares, embora publicado em 2002, é anterior a Histórias de remorsos e rancores, editado em 1998. Ocorre que, num determinado momento, percebi que a poesia que buscava poderia ser absorvida na prosa. O que tento hoje é fazer uma prosa de ficção que tem um pé enterrado na poesia. Agora, é claro, há coisas que nem mesmo essa maneira de escrever prosa dá conta... Portanto, quem sabe, num futuro distante, posso pensar em poesia novamente...

DC - Você, imagino, lê bastante. Tem preferências? Vai mais de ficção, filosofia, poesia etc?

LR - Eu tenho sempre um livro na cabeceira da minha cama - pra hora de dormir - e um outro no escritório, pra quando preciso dar uma parada para descansar... Leio de tudo, mas minhas preferências sempre recaem sobre poesia, história, filosofia, ensaios literários e prosa de ficção. Mas gosto muito de ler sobre física, geografia...


DC - Luiz Ruffato é um escritor bastante premiado. Que ganhou prêmios importantes na literatura nacional. É até traduzido para outros idiomas. Imagino que, por conta disso, você fatura pelo menos uma ‘merrequinha’ em nível de direitos autorais. Ou será que você engrossa a fileira dos escritores que dizem que é impossível viver apenas de literatura?

LR - Em abril completam-se cinco anos que eu deixei o jornalismo pela literatura. E não me arrependo. Eu vivo de literatura, tenho casa, mulher, filhos, gatos e gastos... Tudo quem paga é a literatura. Não os direitos autorais, mas tudo o que existe em torno dos livros, palestras, festivais, prefácios, orelhas, leituras críticas, etc. Tenho muito orgulho disso, de ser um escritor profissional num país como o Brasil.

DC - E o futuro do Brasil, politicamente falando. Você acredita em algo ou alguém que possa reverter a nossa sorte?

LR - O Brasil existe apesar dos políticos, apesar da classe dirigente, apesar da nossa burguesia predatória, apesar de tudo...


DC - Última pergunta: Quando você ouve falar de Mato Grosso, de Cuiabá, qual ou quais são as primeiras coisas que lhe vêm à cabeça?

LR - Calor. E um desejo muito grande de conhecê-la.




Ruffato rufando


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Cefaléia


Humberto Spíndola: Boi da cara branca
Segunda-feira sempre foi dia ‘bão’. Sair por aí inventando moda num início de semana é coisa pra gente ‘não lugar comum’. E o Tyrannus tava que tava nesta segundona, preparadíssimo pra checar a abertura da exposição e lançamento do livro “Animação cultural e inventário do acervo do Museu de Arte e Cultura Popular da UFMT”, organizado por Aline Figueiredo e Humberto Espíndola (Editora Entrelinhas). Afinal de contas, somos como que seguidores desse passo a passo que resultou num constante movimento de arte, se cristalizou e é, notoriamente, tipo exportação. Ou seja: as artes plásticas made in MT, faz horas, estão presentes, são conhecidas e reconhecidas noutros cantos do planeta.


Flores de e para Adir Sodré
Então, aconteceu que a gente não teve como ir. Uma dor de cabeça desalmada nos ausentou da parada. Ficamos em casa curtindo um documentário sobre Leonard Cohen e pensando como contornar a falta. A Aline disse que ia fazer chamada... Putz. Mas um atestado médico acho que quebra o protocolo da mancada de nossa parte, se para tanto, nos ajudar engenho e arte.
Fátima queria porque queria ir e eu também. Ela tomou remédio, deitou, cochilou, mas a enxaqueca não deu trégua. Deu bode, chabu físico-químico, asperezas no hipotálamo e aí não teve como... Ficamos. Sair de casa ‘malzão’ não é recomendável. Quem sai, quem cai na noite, tem que estar bem gente. E gente é pra brilhar, não pra morrer de fome ou de dor de cabeça.
Baixei o veredito: “com você assim, não vamos mesmo”. E valorizamos essa história de sermos seguidores da trajetória plástica das artes de Mato Grosso. Em nossa casa as paredes são impregnadas por trabalhos de boa parte desses artistas que enriquecem o acervo do Macp – Museu de Arte e Cultura Popular da UFMT. A maior parte do nosso acervo particular descende, resguardadas as proporções, das artes do Macp. E estão aqui nesta postagem.


Luiz Hermano e mitos

Abaixo, sua versão da cefaléia personalizada.
‘Tudo errado, como dois e dois são quatro. Na euforia do dia, na expectativa da noite, esqueci de me alimentar, resultado: enxaqueca. Santa ignorância. Comer é de menos, durante a semana. Ir a restaurantes “serve serve’’, lotados e ingerir um prato com coisas com gosto de nada. Engolir e acabou. Por isso, durante a semana alimentar é insuportável. Mas deixar de fazê-lo tem suas conseqüências e sequelas. Maldita dor de cabeça! Tirando isso, que é praticamente impossível nesse momento,  a noite corre solta lá fora. Daqui de casa posso ouvir o burburinho que vem do Macp: o barulho dos gelos nos copos, dos salgados sendo esmagados pelo chão, do espolcar dos flashs,  da luz forte das TVs, dos perfumes e cheiros doces, agridoces, amadeirados, cítricos, salgados fritos, suor, cerveja... Essa alquimia certamente daria um up na minha cefaléia, descompensada. Nesta terça, no mais tardar,  vamos ver a mostra, tranquilamente. Queria tanto ter ido na segunda, ainda bem que fiquei.’






 


domingo, 19 de dezembro de 2010

40 anos UFMT

João Sebastião Costa (Foto: Anderson Ortiz)
Para finalizar 2010 e as comemorações dos 40 anos da UFMT nada melhor do que exposição e lançamento de livro/catálogo “animação cultural e inventário do acervo do Museu de Arte e Cultura Popular da UFMT”, organizado por Aline Figueiredo e Humberto Spíndola, pela editora Entrelinhas com apoio da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia, que acontece nesta segunda-feira (20/12), a partir das 20 horas, no Macp.


Tudo a ver com a arte mato-grossense, neste caso, artes plásticas; que se manifesta de forma organizada e sistematizada, dando chance ao público de conhecer e/ou rever parte significativa do acervo da UFMT, formado durante 37 anos. Show de bola.

Decifra-me ou devoro-te (Foto Veronica Boskov)

Aline Figueiredo, figura principal dessa história toda, é a autora do livro e curadora da exposição, passou na redação do Diário de Cuiabá há uns dez dias, não me encontrou, mas deixou farto material escrito e ilustrativo sobre o evento. E mais um recadinho que dizia mais ou menos isso: “Lorenzo, quero uma bela matéria de capa e quero você lá no horário... Vou fazer chamada”. É a cara dela. Mulher brava e conhecedora dos saberes e fazeres culturais, escritora, crítica de arte, ativista cultural, cozinheira de mão cheia. Com tantos predicados e tanto conhecimento, vai mexer com ela... Pisa no calo da mulher pra ver o que é bom pra tosse...

Um Papai Noel Cult que nos chega graças à UFMT e ao trabalho de Aline e Humberto que animaram ao longo desses anos as artes plásticas de Mato Grosso e a divulgaram nos mais longínquos rincões do nosso velho planeta. A criação do Macp, em 1973, quando Gabriel Novis Neves era reitor, foi o passo decisivo para o deslanche das artes plásticas e, creio, se isso não tivesse acontecido, a história não teria sido tão próspera.

Oh, my god (1975)

Mostra Inaugural: Nelson Pereira dos Santos Pedro Dorileo

Tyrannus vai estar lá com máquina fotográfica em punho, registrando tudo. E depois de conferida a mostra, reencontrado muitos amigos e conhecidos e, claro, adquirido o livro, vamos emplacar mais um registro desse momento. Curta agora alguns flagrantes que revivem um pouquinho da pujança cultural e das articulações desses quase quarenta anos de mão de obra qualificada em favor da nossa cultura. Bravo Nhanhá!
PS: E todo mundo lá... Como dizia aquela antiga música cretina... ‘everybody macacada’


Dalva de Barros (Foto: Anderson Ortiz)


Miguel Penha



sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Deixa vazar


 Roberto França

Quatro dias sem a TV paga e não agüento assistir o programa Resumo do Dia, com suas bombas, lapadas e o sotaque cuiabano carregado,  me diverte muito. Não chega a ser nenhuma maravilha o programa do Roberto França, mas tem o seu valor. O apelo regional, enfocando os problemas de Cuiabá e o estopim curto do França dão um tempero mais que interessante . Ele é um sujeito que, pelo menos aparentemente, fala o que pensa. E deve ouvir o que não quer. Faz parte do jogo.

Fico imaginando o França ligando para a Sky e caindo no maldito auto-atendimento que a empresa de televisão paga oferece. A gravação é uma voz feminina, cheia de trucagens pra conduzir a conversa como se fosse uma amiga de longa data “Ah, então você quer pagar a sua conta com cartão?”  Tecle 1 para sim e 2 para não, aí você digita... Vem a voz cretina. “Então você escolheu o cartão visa?” Que legal. Vai pagar a vista? Tecle 1. Tecle 2 se for parcelado.  Ah!  tá apertado,  não fique chateado muita gente que liga aqui, também ta parcelando. É a crise, dizem.  Em quantas vezes? Tecle o numero de parcelas. “Nossa tudo isso?” Ta feia a coisa, hem?”  E a lenga-lenga vai te enrolando, querendo  te convencer que está conversando com um atendente, num papo assim bem coloquial... Francamente. Eu não agüento. Dá vontade de mandar pra pqp. Essa raiva repentina, que resulta numa explosão inesperada, às vezes grosseira e mal educada, acontece. Mas que adianta, o atendente eletrônico e agradece sempre, antes de pedir sua avaliação: de zero a nove. por favor.

Somos seres humanos e nem sempre toleramos essas babaquices. O serviço de informação por telefonia, Número Certo, que já existe a um punhado de anos e que era ótimo, adotou de uns tempos pra cá um sistema diferenciado. Você diz o nome da empresa que procura a uma voz gravada e quase sempre ela diz “Não entendi”. Só nos resta gritar o nome da empresa novamente. E continuar gritando SIMs e NÃOs como um bobó. Sem distinção desta ou daquela empresa: atendimento eletrônico é o fim. Chato, cretinos, insuportaveis.  

Pessoas mais sujeitas a esse tipo de comportamento instável são aquelas que mais movem o mundo. E os veículos e profissionais da comunicação tendem a gostar mais desse tipo de gente... polêmica. “Polêmica é coisa de jornalista preguiçoso, Lorenzo”, me disse numa entrevista o Gerald Thomas há vários anos.  Um bom ensinamento pra se guardar. E usar, quando for o caso.

Um dos temas mais controvertidos ao longo da história da comunicação tem sido a liberdade de expressão. No auge da contracultura americana, alguém sentenciou uma frase interessante: “A liberdade é uma estátua”. Pano pra manga.

Realmente é apenas uma estátua

Dias atrás postamos aqui um texto falando sobre o Wikileaks, site que atua exclusivamente com o vazamento de informações  públicas mantidas em sigilo. O site foi fechado, aberto, seu responsável (Julian Assange) ficou foragido, se entregou, foi preso, mas parece que está em liberdade ou quase isso. Mas em momento algum, as informações confidenciais que esbarram na delicadeza da geopolítica e da diplomacia internacional, pararam de ser veiculadas.  O assunto continua na crista da onda e a população mundial está sabendo um pouco mais a respeito dos comportamentos de seus governantes. Faz parte do jogo, mas deveria fazer muito mais.


Deixa vazar
Agora, em Cuiabá, um vereador conseguiu que a Câmara aprovasse, na surdina, um projeto de  lei de sua autoria, que burocratiza e ameaça com multas a publicação de comentários, opiniões e desabafos de leitores e internautas em determinadas reportagens. Poxa, até assuntos escabrosos que envolvem a política internacional estão pingando na web e o legislador assume uma postura dessas? Melhor dizendo, os legisladores, porque passou pelo crivo de todos. O projeto depende agora da sanção do Executivo, para ser colocado em prática. 


Não se trata de ser a favor de ataques e xingamentos de forma irresponsável e movidos por motivos escusos. Mas acredito no direito de se expressar livremente e de forma civilizada, assim como, os responsáveis pelos veículos de comunicação devem estar capacitados para detectar o que deve e o que não deve ser publicado, conforme suas linhas editoriais. E depois agüentar o tranco, se for o caso, nas raias da Justiça.


Nessa época de final de trabalhos nos legislativos é perigosa. Muita coisa é votada, diga –se de passagem com voto secreto, no afogadilho e à população só sobra mesmo o direito à perplexidade. Aqui em Cuiabá e em Mato Grosso, de uma forma geral, sempre me assustaram as forças conservadoras da política. Nessas horas os veículos e profissionais da comunicação precisam dar conta do recado e fazer o que tem que ser feito, pela liberdade de expressão. E convenhamos, se o vazamento está na moda, pra que remar contra a maré?  “Nessa casa tem goteira... Pinga no mim”.


    

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Visão de Barnaby Hall


É bom ficar com um olho no gato e outro no peixe
Andar de ônibus, fora dos horários de pico, tem sido uma diversão, um relax, para mim. Essas viagens urbanas, estão entre minhas fontes de inspiração. Cada percurso é uma crônica em potencial. Acho que é por causa do movimento, da locomoção. A palavra escrita, neste mundão audiovisual, com ação pra tudo quanto é lado, precisa de umas sacolejadas, solavancos e de “um certo” movimento, pra sair.

Gosto de andar de ônibus e de metrô também. É melhor ainda. Mais me sinto assim um pouco tatu – ou jeca tatu mesmo, nesse meio de transporte, que não existe aqui em Cuiabá.

Em Londres é underground o metrô. Acho chique chamá-lo assim (mas que quer dizer a mesma coisa “debaixo do chão”). Em várias outras cidades da Europa ele é conhecido como metro (será que tem a ver com o cumprimento?).  No Rio de Janeiro, há vários anos, com meu filho, fomos tomar o metrô e lá na espera disse pra ele dar sinal pro ‘trem’ parar. Uma senhora que estava ao lado não agüentou e caiu na risada.   Ele, claro, não gostou nada. Não acha graça das  minhas brincadeiras sem graça.


Tango em Lisboa


Pegar o metrô num país aonde você não domina a língua e a moeda é outra requer certo esforço mental. Nem sempre as máquinas de auto-atendimento possibilitam um diálogo claro. Aí é hora de a gente pedir ajuda.  Hora de soltar o “can you help me?’...    Em toda parte por onde andamos pedimos ajuda e sempre formos socorridos, com muita gentileza. Em Paris, já meio tarde da noite,  um jovem que vinha apressado e era a única alma por ali, nos ajudou a comprar as passagens e ainda nos orientou. Agradecemos,  olhou-nos com uma expressão de quem perdoava o tempo que lhe tomamos. E subitamente pulou a catraca.

Janela indiscreta
Outro acontecimento curioso foi numa estação, em Lisboa. Meu cartão, que eu tinha acabado de recarregar, desmagnetizou  bem na hora de passar pela roleta, fiquei meio naquela sem saber o que fazer. A estação também estava vazia, mas eis que surge um sujeito todo descoladão, passa pela catraca e a mantém aberta me chamando para eu também passar.  Um gesto simples, mas que na hora quebrou o maior galho.

Descemos até a plataforma numa conversação solta com Barnaby Hall, um fotógrafo experiente, cujo trabalho ilustra esta postagem .  Disse que se chamava Barnabé, adaptando seu nome para a língua portuguesa. Seguimos viagem com ele dentro do metro. Entramos no site do Barnaby e apreciamos suas belas fotos, lá mesmo em Lisboa. 

É o amor...

 De volta ao Brasil, há poucos dias, mando e-mail pra ele: “Salve Barnaby, na minha memória está cravado o seu socorro aos meus problemas com o metrô de Lisboa. Muito grato. Foram alguns minutos o nosso convívio, mas a conversação foi intensa. Não sei se você se lembra, mas a gente te falou que tocava um blog tyrannusmelancholicus.blogspot.com O tyrannus foi feito para reportar nossa viagem à Europa, mas ele continua firme. A gente faz dele o que quer... E queríamos fazer um post em torno do nosso breve encontro no metrô (underground, métro ou seja lá o que for)... E gostaríamos de ilustrar o texto com as imagens que você faz por aí... Fomos ao seu site e gostamos da sua fotografia. Send this mail after post anything about a brazilian friend that make good pictures... responda lá, mano... nascido em Londres, habitante de NY e das outras partes do mundo... Preciso que você me autorize a usar suas fotos e, se preferir, selecionar algumas e me enviar... abraços do lorenzo e da fátima 
- Ola!
yes - o metro do Lisboa. 
Encontraron seus amigos em Cais Soudre?
Não tem problema de utilisar  imagems, ok?!
Abraços
Barnaby” 
De boa, nos cedeu as foto que estão nesse artigo. O site do cara, para quem quiser ir lá conferir, tem fotos de várias partes do mundo por onde ele já passou, incluindo algumas incríveis do Brasil. O cyber do cara é barnabyhall.com. Um grande abraço ao mister Barnabé e que ele continue clicando por esse mundo vasto mundo.   


É a arte