quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Bloco do Eu Sozinho


Pode uma pessoa entrevistar a si mesma? Porque não?

Lobão entrevista a si mesmo na MTV. O craque Rivaldo, ex-seleção brasileira de futebol, que jogava numa equipe periférica fora do Brasil, retorna e compra um time onde é presidente e jogador. E sai o DVD “Bloco do Eu Sozinho”, do ex-los hermanos Marcelo Camelo. Quer mais? “O Eu Profundo e os Outros Eus”, de Fernando Pessoa, ou a técnica literária ‘monólogo interior’, na qual Clarice Lispector era imbatível. O que tudo isso tem a ver com o Tyrannus? Resposta: tudo eu, eu, eu, eu... Um blog é assim. Coisa meio tirana. Quem decide é quem posta. Meio assim, meio assado, hoje a gente tá mais pra Melancholicus.

Essa relativa tristeza vem do meu cotidiano. Um jornalista, editor, normalmente fica algumas horas de sua jornada diária numa redação. Numa redação gravitam os principais acontecimentos que serão reportados. Esta quarta-feira que está quase terminando enquanto escrevo foi barra. Bang-bang no camelódromo, com morte; uma caminhonete hillux derrubou um baita poste de concreto; e parece que estava rolando uma revolta, com reféns e gente baleada, num dos presídios de Cuiabá. Muita coisa ruim acontecendo. Essa história do presídio, friso, não procurei checar. Só estou mostrando que as pautas, prováveis ou não, que rolaram na redação enquanto eu estava por lá, arrefeceram meu bom humor. Cheguei a fazer uma piada que talvez não deveria. Disse para a repórter que trabalha nessa área: ‘Você vai voltar com seus sapatinhos sujos de sangue’.

Ao chegar em casa nem sabia direito sobre o que escrever. Tomei providências: tirar o tênis e as meias e ficar descalço, lavar a louça e fazer comida. Uma rotina doméstica, no meu caso, ajuda a sedimentar o raciocínio. E a fluir uma energia boa. O lar é sempre o lar. Mas continuei triste...  

Na foto de Rafael Manzutti a poesia e a criançada
Então, me lembrei das felicidades do dia anterior, cheio das poesias. Presenciei o lançamento do livro “Arco-íris”, de poesia infantil, da Rosana Caldas. Lá me emocionei com menininhas entre seis e dez anos declamando versos. Um dos poemas versejava sobre uma lagartixa. E isso me transportou para as várias lagartixas (essas de parede) que existem aqui em casa, e que são espreitadas pela Nikita, a gatinha predadora que coabita no QG do Tyrannus. Então...

Então, minha memória foi mais pra trás, nos tempos em que me mudei aqui para o Recanto dos Pássaros, bairro que habito desde 1986, mais ou menos. As casas foram construídas após toda a área ter sido derrubada indiscriminadamente. O que era pra ser, conforme o nome sugeria, Recanto dos Pássaros, tornou-se uma espécie de Recanto das Moscas. Foi então que recebi um dos presentes mais originais, ao longo da minha discreta existência, que já supera meio século. O compadre Edmar me trouxe, numa caixinha (nem sei se ele se lembra), uma dessas lagartixinhas de parede, comedoras de moscas. De lá pra cá, as moscas foram diminuindo, e a população de lagartixas vai muito bem, obrigado, apesar dos predadores de plantão. Agora estou mais feliz.

"Nikita, predadora e perigosa", parece nome de filme


Essa aqui embaçou, perdeu o rabo, mas não a vida

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