sábado, 31 de março de 2012

Aos costumes

Os belos Jessica e Ben Barnes
Com a mão coçando pra escrever sobre mentiras, ou mesmo mentir. Mentira. Não estamos nem aí pro primeiro de abril. Ele vai passar e de nossa parte só aquelas mentirinhas simples e cotidianas, que nem precisam abastecer o texto de hoje. O cinema e seu eterno retorno no Tyrannus é quando rola um filme interessante, segundo o nosso ponto de vista, ele vem parar aqui. E o mesmo vale pra outros produtos culturais.

Procedimento típico do blog, que se assume como consumidor das artes e, assim sendo, o cinema faz parte dos nossos bons costumes. Ops... olha o nome do filme de hoje aí gente: “Bons Costumes” (2008). O velho e bom humor inglês predomina nesta produção originária do Reino Unido/Canadá, com bons atores, sob a direção do australiano Stephen Elliott (“Priscila, a Rainha do Deserto” e “Um Tira da Pesada”). Adaptado a partir de um texto literário, esta comédia romântica não tem nada a ver com aqueles filmes pasteurizados americanos que chegam semanalmente ao Brasil. Não, Julia Roberts não está no elenco. Nem Sandra Bullock.



O título do filme é irônico. Vamos combinar que basta que um padrão moral de determinada época seja catalogado de acordo com os códigos sociais, para que ele comece seu processo de decadência. A história de Bons Costumes se passa entre os anos 20 e 30 em algum lugar do Reino Unido, e tem seu início a partir do momento em que o filho de uma aristocrática família (falida) lá daquela região do Velho Mundo, retorna dos Estados Unidos para seu seio familiar. E casado com uma modernosa – e assim, um pouco audaciosa – americana.


Pose é o que não falta


Uma sogra hipocritamente polida


Claro que sua mãe e irmãs não morrerão de amores pela nova agregada, embora o pai se mostre mais compreensivo. A figura paterna é um personagem ao melhor estilo “carta fora do baralho”. E aí a história vai se desenrolando numa perfeita reconstituição de época, acompanhada por fotografia impecável e ótima trilha sonora. Cole Porter é sempre exuberante. Colin Firth, Kristin Scott Thomas e Jessica Biel dão um show de interpretação, mas praticamente todo o elenco se sai muito bem.


Aviso as navegantes: ele morre!
Confesso que meu olhar sobre o filme foi meio enviesado do princípio ao fim. Estava querendo não gostar e procurava de tudo quanto é jeito achar defeitos. Defeitos, segundo a nossa opinião, que fique claro. E o filme foi passando, passando... e de repente acabou. E fiquei a ver navios em termos de mencionar com exatidão qual foi o problema, se é que houve. Sobrou a possibilidade de que em Bons Costumes está tudo certinho demais e, não sei por que, esse certinho tem algo de suspeito.      

Fim

sexta-feira, 30 de março de 2012

Expansões abdominais

"Seo" Barriga
Você ainda vai ter a sua. Ou melhor, já tem. Pode ser que se orgulhe ou se envergonhe. Depende da sua vaidade e também do que faz para mantê-la nos padrões estéticos (que mudam e “são” aceitáveis à medida que a idade avança). Estamos falando de barriga! Vamos deixar de fora aqui a barriga  relacionada com a procriação. Porque neste planeta interno aquoso, habitado por apenas um cidadão (às vezes mais), onde fomos soberanos, é outra história. Esse curto período onde vivemos submersos infere ou define muito do que viremos a ser. Deixa pra depois um post sobre isso, que vai requerer viagens pra compreendermos melhor a nossa Atlântida particular. Vamos dar uma barrigada nesse papo.

São vários tipos de barrigas que deparamos em nossas vidas, mas, pra simplificar, vamos com dois deles. O mais cobiçado é o “tanquinho”. Quem tem barriga assim não se avexa nada na hora de tirar a camisa e adora usar trajes de banho. E a barriga mais desprezada é aquela que se avoluma, rompe botões das camisas, estica as camisetas, impede a calça de ser abotoada e se impõe de frente, de perfil, deitado, sentado...



O modelo “tanquinho” está intrinsicamente associado ao ano de produção. Mantê-lo é pauleira. Academia e dedicação, e mais os malditos abdominais. Esses exercícios que em outros tempos eram dolorosos e ainda havia o risco de, se mal feitos, e eram; adquirir uma lesão na coluna. Hoje, são muito mais simples e eficazes. Já o estilo barrigão, tem até serventia. Ajuda a identificar proprietário: “é aquele barrigudo ali, ó!”. Para se chegar nele, o desleixo é o melhor caminho. Muito fácil e simples de conseguir e garantimos, com excelentes resultados! Combina com comilanças e cervejas. E se o protagonista levar uma vida sedentária, aí tudo está perfeito para essa expansão abdominal.

"Barriguda"
Barriga é também uma expressão usada no jornalismo. Para cometer uma “barriga” no jornalismo, serve apenas o desleixo. A preguiça de checar uma informação. Sintetizando, é uma notícia ou informação falsa. Se rolar por desleixo, o pecado é menor. Mas o problema é que existem barrigas originadas pela má fé ou pela desonestidade. Aí, não tem lipoaspiração que resolva.




Atletas ou profissões que requerem atividade física intensa são os que precisam de mais controle pra evitar a pança. Vide o caso Ronaldo Nazário, antes de pendurar as chuteiras. Por conta das sequências de paradas apresentava uma protuberância que prevista para crescer, e muito! Mas um jogador paraguaio muito bom de bola, o Cabañas, cultuava uma barriga avantajada e nem por isso sua performance em campo era prejudicada. Coisas da vida!    




A medida da circunferência de seu abdome é um indicador da situação de risco ou não de seu coração. E nada de gracinhas, tipo: “se você pensa que isso é uma barriga de cerveja, está enganado. Isso é um tanque de combustível de uma máquina de fazer sexo!” Chequem: homens com mais de 100 cm e mulheres acima de 88 cm de circunferência estão na faixa de risco. Cuidem-se. O bobo agradece.

Se cuida...

quarta-feira, 28 de março de 2012

Peg pag

"Gigante" filme de Adrián Biniez
O supermercado, definitivamente, não é um local que aprecio. Na hora das malditas compras, a vontade que tenho é a de me tornar o The Flash, o super herói de impressionante velocidade que otimiza seu tempo e nunca/jamais vasculha as prateleiras em vão. Sabe tudo que quer e onde tudo está. Consegue descobrir o caixa mais vazio na hora feroz da somatória final, e onde se encontra a moça mais rápida nessa matemática cotidiana.

Basta ser intimado para ir às compras, que o humor vai ladeira abaixo. Dirigir, procurar uma vaga no estacionamento, entrar, guiar o carrinho, pesquisar e comprar. Depois entrar na fila do caixa, pagar e assistir o empacotamento das compras, voltar pro carro e alojar produtos ensacados. E você sabe que não acabou...



Chegar em casa, descer as compras e guardá-las em seus devidos lugares. Todo esse procedimento me enerva. Em qualquer ida ao supermercado, por menor que seja a compra, sei que na próxima hora, se não mais do que isso, estarei envolvido com esse afazer. Um saco.  Invejo as pessoas que têm mais paciência nessa função. O que costuma salvar nessas ocasiões são os encontros inesperados com pessoas amigas, algumas que há tempos não via.  Isso é bom e curioso. Quando vou às compras, imagino com quem encontrarei dessa vez. E esses encontros fortuitos me obrigam a, pelo menos, fingir que não estou mal humorado.

Hoje foi dia de supermercado e um contratempo extra. Com a proximidade da Páscoa, acontece uma revolução na ambiência. Com a nova decoração, bem num local onde é impossível não transitar, instalaram uma espécie de caramanchão com ovos de páscoa pendurados. Por causa da minha estatura acima do normal, tive que andar quase que dobrado. Um detalhe insignificante, mas, para quem padece de “neurose de supermercado”, é uma merda.    

Saco cheio

Na maioria das vezes indagamos um pro outro se tem algo, em mente, pra escrever. É comum a cabeça vazia, oca... cansados, exaustos dos afazeres do dia. Aí vai rolando uma descontração básica. Conversa vai, conversa vem e definimos o assunto, que contumazmente descamba, bacana...

Essa de supermercado pegou maus. Não houve tempo para um preparo psicológico. Não é um tema, que se basta com apenas uma nota. Pois não é ele que todos os meses surrupia meu parco soldo e assalta o cheque especial, quando não, o cartão de crédito?






Adoro o cheiro, as cores e o sabor das frutas; o frescor das hortaliças; a robustez dos tubérculos, o calor dos temperos; o brilho dos óleos e azeites; a bioquímica dinâmica dos queijos; o sono dos grãos; a textura das farinhas e açucares, os segredos das latas e embalagens invioláveis, as inovações tecnológicas dos panos de limpeza, o designer dos rodos e vassouras, a neblina que escapa dos freezers, o silencio dos vinhos, sopesar com os olhos, deslizar as mãos com malemolência nas bananas maduras, beliscar disfarçadamente as uvas, apertar os tomates maduros e desejar a lagosta alheia... E de algumas pessoas. E gosto muito da minha performance pra dirigir o carrinho abarrotado, tirando finas e me esgueirando pelos corredores escorregadios. Quase Ayrton Sena!  

terça-feira, 27 de março de 2012

Ninguém 2012!

Zé Bolo Flor, poeta popular, carregava um santo pra se proteger
 dos prefeitos de Cuiabá!
Nos tempos antigos, Cuiabá era uma mocinha fogosa. Uma moça de “rim quente”, conforme se dizia, principalmente quando era época de eleições... Naqueles tempos as eleições brasileiras eram bipolares. Uma disputa acirrada entre dois partidos políticos: o Partido Social Democrático (PSD) e a União Democrática Nacional (UDN).

Em Cuiabá já foi comum identificar famílias e/ou pessoas como correligionárias desse ou daquele partido. As disputas e embates, nos bastidores, eram brabas. A oratória era uma arma fatal e o carisma favorecia ou não as plêiades. Mas... muito chumbo grosso rolava. Não tinha essa de bala perdida não. Aqui as balas tinham endereço certo. E... olha a faca!!!   

Nas ruas, a baixaria movida a paixão, bebida, pavio curto e muita verborragia fazia o ambiente pegar fogo. Bate boca era comum em bares e lares na época de eleição. Tinha até hora marcada pra começar, nunca pra terminar! As pessoas, independente da classe social, acreditavam nos políticos e defendiam seus candidatos com unhas, dentes e línguas. Línguas ferinas, diga-se de passagem, que eram usadas para colocar o, ou a moral do candidato oponente, abaixo de cu de cachorro.





Nós, que chegamos a Cuiabá no começo dos anos 70, acompanhamos esse tipo de fazer política e ainda tinha o que era bom de se ter na política da época : palanque, preleção, povo, paixão, promessas, putaria... Pouco depois vimos a decadência do processo eleitoral com a chegada dos marqueteiros, dos showmícios, as mídias envolvidas, brindes, compra de votos, gente fazendo campanha por 50 pilas por dia e político endinheirado e sem DNA.  

Os correligionários pagos são engraçados. Na hora do rush balançam as bandeiras de seus candidatos. Quando enfraquece o movimento usam as bandeiras pra se “escorar” e batem longos papos com os correligionários do outro candidato. Na verdade mal sabem o nome do candidato pra quem estão trabalhando. Fazem jus aos candidatos que, muitas vezes, nem sabem o nome por extenso de seu partido.



Aos poucos o povo foi broxando e perdendo a credulidade nos candidatos e depois, nos que votaram, naquele que ganhou e no próprio voto. Esvaziaram-se as urnas, praças, ágoras... E agora?!

“Ideologia”. Assim mesmo, entre aspas. As eleições de antigamente tinham uma pegada “ideológica”, às vezes torta, mas tinha. As aspas são necessárias, porque não é correto afirmar que a população brasileira, em geral, está ou esteve habilitada para discutir ideologia política. Nem nós, claro.


Padre Pombo, claro que à esquerda, era pra ganhar! 
A última campanha que fez o circo pegar fogo, que ousamos registrar aqui em Cuiabá, foi a disputa entre Julio Campos e Padre Pombo para governo do Estado. Foi em 1984. Não podemos negar o nosso envolvimento nesse pleito. O povo vibrava nos comícios do Pe. Pombo! Num deles, o eclesiástico referiu-se ao seu oponente como “o rapazinho saltitante lá da Várzea Grande”. Julio Campos também não deixava pra menos e mandava fogo nos seus comícios. Todo mundo apostava na vitória do Pombo. Pombas! Ganhou porra nenhuma! E até hoje comenta-se a boca de todos os tamanhos, que teve tetra, mas fomos recomendados pela nossa equipe de advogados associados e consultores, a não entrar em detalhes em relação a isso.


"O homem é um animal político" (Aristóteles)

O que nos motivou a fazer este “post” foi essa inércia, pasmaceira, nhaca que virou o processo eleitoral. Que marasmo, “sengraceira”, um enorme vazio. Nunca vimos nada igual (tanto o povo como os candidatos)! Por isso estamos vendo que o candidato que corre o risco de ter o nosso voto e de uma parcela da população é o Ninguém. Sua Campanha está lançada: Em 2012, Vote em Ninguém!

segunda-feira, 26 de março de 2012

A noiva do vento

A noiva do vento (Kokoschka)
O programa “Clássicos”, da TV Cultura, oferece periodicamente o mais fino biscoito da televisão brasileira, em matéria de música. Não temos informações a respeito de sua audiência, mas fica aqui a sugestão: assistam! As obras apresentadas dificilmente você verá em outro veículo.
Mais factível, escutá-las.

Além de apresentações de peças com as mais renomadas orquestras, grupos, solistas, regentes... do mundo, às vezes vem em formato de documentários sobre o processo de composição e aspectos da vida de grandes músicos.  

Assistimos despretensiosamente o documentário “5ª. Sinfonia de Mahler”, abordando o período em que ele compôs essa obra, a romântica trilha musical do filme “Morte em Veneza”, de Luchinno Visconti. A musa inspiradora foi sua esposa Alma Mahler. Recorremos ao no nosso alfarrábio (mister Google), como diria o Achilles Tenuta, para conhecer melhor aquela que provavelmente foi a grande femme fatale do século XX. Alma. Só Alma, porque todos nós a temos, mas esta aqui é diferente.


Nascida Schindler, filha de Emil Schindler, artista plástico vienense, que reunia expoentes das artes e da sociedade em sua casa. E Alma cresceu nesse ambiente de efervescência cultural. Coitada. Não sabemos bem se coitada dela, ou coitados dos homens que viveram com ela. Coitada... coitados? Por quê????


Gropius, fundador da Bauhaus


Alma nasceu em 1879, em Viena, e faleceu em Nova York, em 1964. Dizem que o seu primeiro beijo foi de Gustav Klimt. Ela estraçalhou o coração de outro pintor Oskar Kokoschka, conhecido no início do século XX, como o enfant terrible da arte austríaca. Este, abandonado por Alma, criou uma boneca em tamanho natural (sua nova alma), e andava com ela pra cima e pra baixo. Essa vienense de paixões efêmeras e casos ardentes, segundo registros mais discretos, enamorou-se até de um poderoso eclesiástico daqueles tempos.


Quando se casou com Mahler, que era vinte anos mais velha que ela, abriu mão de seu talento, pois ele exigiu que ela se dedicasse totalmente à genialidade da sua música (a de Mahler). Após a perda de uma das filhas e crises depressivas ela partiu para em busca de novos amores. Foi demais para o coração de Mahler. Ele morreu logo em seguida, apesar de tentar reaver sua grande paixão. Segundo Manuel Bandeira, quando se trata de amor, os corpos se entendem, mas as almas não. Talvez assim fosse a alma...

Alma e Mahler, nos bons tempos...

Nosso relato extrapola a vida e arte de alguns de seus célebres amantes, como Walter Gropius, arquiteto fundador da Bauhaus; e o maravilhoso Gustav Klimt. Mahler, por causa de Alma, que o trocara por Gropius, consultou-se com Sigmund Freud. Freud, segundo o documentário, desfiou o seu rosário psicanalítico atendendo pacientemente Mahler. Mas, pela natureza do caso, a poesia de Menotti del Picchia, Juca Mulato, surge naturalmente em nossas memórias, pois nela está ensinado que para curar o mal do amor, o remédio, que é esquecer, dói mais do que a própria doença.
Quando Mahler compunha o resto era silêncio

domingo, 25 de março de 2012

Xilindró geral

                                                     
Deu na Folha de SP: para cada    262 brasileiros adultos há um na prisão! O 
que  representam esses dados? O que nos dizem? Que temos uma polícia e um sistema judiciário que funcionam? Ou que não temos uma política educacional e as oportunidades são discriminatórias?

Se pensarmos que a maioria é de homens, entre 19 e 30 anos; com 1 filho e 1/2,  há quantas famílias desestruturadas? Se excluirmos o percentual dos menores de idade, que não vão pra cadeia, concluímos que um índice muito significativo da nossa população está encarcerado. Fora os ricos, os políticos, empresários etc que, mesmo quando cometem crimes hediondos, não costumam pegar xilindró porque têm dinheiro e um bom advogado faz milagres. Dizem por aí que até corretagem de sentenças é coisa que existe.



Então, estamos numa roubada. Porque é sabido que presos custam caro à máquina pública. Sem contar que recebem uma espécie de pensão, em dinheiro, que varia de acordo com o número de filhos que têm. Será? Resumindo, ficar na cadeia, aparentemente, pode ser um bom negócio. Aparentemente, porque as perspectivas de recuperação e reintegração dessas pessoas, não precisa nem ser um estatístico pra saber, é nula!  


Graciliano Ramos aproveitou a estadia "por conta"
 e escreveu Memórias do Cárcere

Dostoiévski, condenado a trabalhos forçados,
escreveu Recordações da Casa dos Mortos 

E os que estão fora?
Vivemos em condições quase que semelhantes, uma vez que temos nossa liberdade cerceada. Vivemos temerosos, neuróticos, trancados em nossas casas, com cercas elétricas, concertinas, câmeras, guardas de segurança privados, alarmes, trancas, cadeados, correntes, cães adestrados, seguros e o escambau; também somos prisioneiros. Prisioneiros de um sistema social falido e fudido, o qual, não temos sido capazes de mudar.



Mas tudo na vida tem seu lado cômico e essa cena eu vi. Certa vez, fomos cantar num presídio feminino, no Pascoal Ramos. Lá chegamos, como bons samaritanos para soltar a voz! O oficial responsável nos recebeu de uma forma, vamos dizer estranha. Demonstrou certa incapacidade com as palavras e tascou “aqui dentro, só Deus sabe o que pode acontecer com vocês”. Claro que a partir desse momento, os sopranos, contraltos, tenores, baixos e a maestra, ficaram com o tal “cu na mão”.


Tonhão, presidiária interpretada por "La Raia"
Mas, qual nada. Não houve a menor agressividade para conosco entre as detentas. O que aconteceu, o tal fato cômico, foi ouvir de uma das prisioneiras em alto e bom tom, quando preparávamos pra cantar: “Nesse coral aí só umas duas ou três dá pra encarar”!

sábado, 24 de março de 2012

querido diário

A deusa de gelo
Fazer o Tyrannus cabe direitinho na auto-descrição de Rubem Braga: “Sempre escrevi para ser publicado no dia seguinte. Como o marido que tem que dormir com a esposa: pode estar achando gostoso, mas é uma obrigação. Sou uma máquina de escrever com algum uso, mas em bom estado de funcionamento.” É só uma forma de tentar explicar como os posts são paridos por estas bandas.

Pensamos nos cronistas brasileiros, Rubem Braga, Rubem Fonseca, Dalton Trevisan, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Machado de Assis e Nelson Rodrigues (outros, aqui poupados), que fizeram da prática de escrever e publicar em jornais, a produção industrial, a firmação de um gênero. Ou seria um estilo?




A crônica ainda não é um gênero literário. Alguns a consideram “um conto menor”. Em nossas rápidas incursões no Google vimos que a origem da palavra crônica é latina, chronica, que significa relato de acontecimento em ordem cronológica. Era, até 1799, quando foi publicada pela primeira vez, no Journal de Débats, na França, um registro de eventos.

As várias faces de Rubem Braga 
No Brasil, esse gênero/estilo saiu das redações dos jornais e ganhou as prateleiras das livrarias e caiu no gosto popular, como uma produção literária de alto nível. Perguntaram a Rubem Fonseca, certa vez, o que era uma crônica. Ele disse: “Reparem bem: se não é aguda, é crônica”. Em relação aos contos, Machado de Assis não titubeou: “O conto é tudo isso, sem ser bem isso.”


Cronicamente, Rubem Fonseca

Uma indagação: porque esses escritores (de crônicas), atentíssimos aos eventos do cotidiano, costumam ser tão avessos à mídia, à exposição pública? Por quê?



Por que, então, o tímido Carlos Drummond de Andrade, se expos ao publicar, em 1955, a crônica “Garbo: novidades”, discorrendo sobre uma suposta visita secreta da atriz, a mais enigmática mulher do mundo, a Belo Horizonte, onde teria tido, inclusive, um romance circunstancial? E esse texto tomou dimensões tão grandes que pouco depois, pacato cidadão de Itabira precisou, macunaimicamente, declarar-se mentiroso.  

O mentiroso de Itabira


Pra produzir diariamente não é possível ter amarras ou poitas... A liberdade deve ser absoluta. Assim, Drummond definiu: “é o ofício de rabiscar sobre as coisas do tempo”. Seguimos as pegadas e os vestígios dos grandes mestres preparando a dose diária do Tyrannus. Não se trata de uma comparação com esses escritores consagrados. Não há pretensão.    

O que acontece, pra ser verdadeiros, é que a intenção inicial, hoje, era discorrer sobre os fugitivos da mídia. Os artistas que sempre refugaram os holofotes e exposição midiática. Fugiu do nosso controle, tomou outro rumo, e atracou em outros portos. Tudo bem!

Como sou ignorante, meu Deus!

E ai tá gostando do “Desgracida”?
- Tô, só que o Dalton tá escrevendo poesia...

Depois de um tempo (não sei se horas ou dias), a constatação: Como sou ignorante, meu Deus! Não era poesia é um conto...

Deixa de bobagem. Dalton é uma pacoteira, completa...

 “O monstro”
"- Pai, a mãe mandou chamar o monstro do pai que o almoço tá na mesa.  
- Ei, que história essa de...
- É pro monstro do pai vir logo senão a comida esfria.”
                                                                                                                          (D. T.)

sexta-feira, 23 de março de 2012

Cinemundo

Park Ji-a com muito e Chen Chang com pouco fôlego 
“Fôlego” (2007) e “O homem de seus sonhos” (2010), dois filmes que assistimos e nos conquistaram nesses dias. Um sul-coreano e o outro britânico. Escolas de cinema bem diferentes, mas a globalização não quer nem saber dessas coisas. O que importa, e disso devemos tirar proveito, é que o mundo virou uma grande aldeia e está tudo, ou quase tudo, acessível pra quem quiser.

Freida Pinto: Ele, Josh Brolin, não é o homem de seus...

Fazemos parte dessa comunidade planetária. Caímos na rede. Estamos plugados e fuçando algo pra curtir, de preferência, que seja uma obra convincente para compartilhar aqui. Mas, os gostos são diversos, e se alguma de nossas recomendações e dicas não lhe agradar e ficar puto pela perda de tempo, aceitamos a devolução. Ou seja: é só mandar um e-mail, será bem vindo e publicado. É legal frisar isso, porque há várias reclamações de que muita gente não consegue postar comentários aqui no Tyrannus.

“Fôlego” é um filme único, impressionante beleza plástica, por sua fotografia ultra elaborada. O cineasta Kim Ki-duk soube dar corpo à interessante história de um criminoso condenado à morte que recebe sucessivas visitas de uma artista, de bom padrão social que combate a tristeza (ou se vinga) da traição do marido montando cenários de liberdade e alegria para o condenado.

Distância gélida

Proximidade cálida
O filme narra com toda a paciência oriental o dia a dia de ambos. Ele, dentro da prisão, no convívio com seus colegas de cela, contando os dias para a execução. Ela, envolta com o marido e a filha, num ambiente frio, muito diferente do cenário e clima que ela cria para o preso. Os encontros entre os dois que acontecem sempre no início das estações do ano, inevitavelmente, desandam para uma relação amorosa e são os pontos especiais da narrativa.



Tudo é acompanhado por um guarda que fiscaliza as visitas e seu superior, que a tudo assiste num sistema de vídeo. Eles vão se tornando cada vez mais permissivos. E a história cresce e floresce dentro de uma bela narrativa. Personagens fortes e bem contextualizados ganham vida em ótimas interpretações do elenco. Um filme redondinho, que precisa ser assistido por todos aqueles que se interessam pelo bom cinema.

“Eu dirijo atrizes como Scarlet Johansson e Naomi Watts, mas quem as beija são os atores dos meus filmes”, disse o velho Woody Allen, cineasta que ainda se mostra muito talentoso. Bom, Woody tem aquela história de muita gente detestá-lo. Muita gente não. Achamos que ele é mais querido do que odiado. Seus filmes são todos parecidos, talvez por causa da inteligência que sobra no roteiro, na edição e na qualidade musical. Também exerce um domínio fascinante sobre os personagens que cria. Seria imperdoável não mencionar o estilo humorado que sempre permeia seus filmes.

Monstros

Uma coisa incrível – e demasiado humana – neste diretor, é que ele nunca exagera na glorificação dos personagens que concebe. Sejam protagonistas ou coadjuvantes, costumam ser pessoas que tem lá sua qualidades positivas e se sobressaem através delas, mas sempre apresentam também um lado canalha. Diríamos que Woody Allen é um profundo conhecedor do ser humano.


Ela (Naomi Watts) pensa que ele (Banderas) é...



Em “O homem de seus sonhos”, se não me falha a memória, o seu quarto filme europeu (andaram dizendo que nos EUA ninguém mais financiava seus filmes, mas, não sei se é verdade), ele dirige atores como Anthony Hopkins, Naomi Watts, Antonio Banderas e Josh Brolin, entre outros. A história é a de sempre. Problemas e brigas extrapolando em relações amorosas e afetivas.

E o filme vai se desenvolvendo e a dupla aqui do Tyrannus com aquela maldita mania de tentar adivinhar como e quando a coisa vai se encerrar. E não é que depois de tantos e tantos anos familiarizados com as coisas de Allen, o final nos pegou de surpresa?     

Kim Ki-duk, filósofo das imagens

Woody, filósofo das neuroses