sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Caixeiro viajante

Ney Latorraca, como Quequé

Sair por aí vendendo produtos de tudo quanto é tipo. Mas, antes, é preciso traçar uma rota que contemple o sucesso econômico do empreendedor. Onde comprar, onde vender, qual o melhor caminho a ser percorrido. É só colocar na ponta do lápis essas variáveis (ou seriam constantes?), planejar meticulosamente, e depois botar em prática o plano. Tem tudo pra dar certo. Ou melhor, tinha tudo pra dar certo em outros tempos, e dava. Se não desse certo, no google, guru desta era moderna, não estaria registrado que neste primeiro de setembro comemora-se o "Dia do Caixeiro Viajante". 

Não se pode dizer que é uma profissão de futuro. Tá muiiiiito mais, pra coisa do passado. Não sabemos ao certo como definir com rigor as características que, cientificamente, constatam o que é ser (ou ter sido) esse tal caixeiro. Cremos que mascate seja um bom sinônimo. Minha mãe, que viveu a infância em área rural em Livramento, lembra-se de um sujeito de olhos claros que passava pelo sítio de meu finado avô, vendendo um mundaréu de troços. Henrique Dicke era o nome do cara. Curiosamente, era pai de Ricardo Dicke, reconhecido literato de MT. 

Caixeiro Viajante, acreditamos que tenha sido uma profissão que teve grandes e importantes tempos. Não conheço a história e nem sei como o personagem título se encaixa (encaixa, caixeiro... ops) no enredo. Só sei que "A morte do caixeiro viajante", do dramaturgo americano Arthur Miller, foi uma peça que o catapultou para  a fama. 

Arthur 

Será que o casamento com MM ajudou?
Vamos combinar: Caixeiro Viajante é uma dupla de palavras que merece respeito. E, mesmo com um significado que talvez não caiba mais neste milênio, ainda vem gerando problemas, literalmente: PCV = problema do caixeiro viajante. Não se sabe direito quando, e sobre a autoria da nominação, as dúvidas parecem impossíveis de esclarecimentos. Mas "problema do caixeiro viajante", uma grande questão científica, da área das exatas, já vinha sendo estudada desde o século IXX. No século XX, em Princeton e em Harvard foi formulada uma possível equação para desvendar esse mistério, entre algorítimos e elementos heurísticos.   



A questão é de uma complexidade inalienável. Seu enunciado, entretanto, parece simples. O PCV, na verdade, significa a busca de uma trajetória que tenha a menor distância, começando por uma cidade qualquer, entre muitas outras, que passe por todas uma única vez e depois retorne ao ponto de partida. 

Nova montagem estreou em NY em junho/2012
 sob a direção de Mike Nichols


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Poucas palavras


Não vamos dar conta do recado. Tem que ser coisa rápida... vamos de bilhete. Uma mensagem curta, escrita em linguagem simples. Parece que caíram em desuso, né?  Mas volta e meia ressurgem reveladores. Caem na boca do povo ou ocupam espaço de destaque na mídia. 

Este final de mês dois momentos de impacto no noticiário traziam bilhetes. Um triste: o suicídio do cineasta Tony Scott. O bilhete que foi encontrado em seu carro, segundo a polícia de Los Angeles, em nada contribuiu para  elucidar o motivo de tal ato. O outro manuscrito, este de espanto, é da lavra da nossa mandatária maior, a presidente Dilma. É que ela foi a última a saber do acordo feito pela comissão especial mista que analisa a medida provisória do Código Florestal. A chefia não titubeou e mandou um bilhetinho para suas ministras. Devolveu a saia justa que recebeu. Por falar em saia...

Tony Scott "top gun"  


O romance começou depois de muitos "dois pra lá, dois pra cá"
 ao som de Besame mucho!
"Essa sua saia curta está deliciosa". Bilhetinho safado do Bernardo Cabral, ex-ministro da Justiça, na era Collor, endereçado à sua colega de esplanada Zélia Cardoso de Melo, durante uma reunião ministerial!!!!!  Bilhetes curtos como esse do Cabral podem ser chamados de torpedos. Sim, acredite. Os torpedos já existiam antes mesmo de toda essa tecnologia da informação que aí está.

Os rappers Chris Brown e Drake saíram pra porrada por causa do conteúdo “caliente”, além de revelador, de uma mensagem. O Chris enviou uma garrafa de champanhe para a mesa do Drake, que não gostou e devolveu o presente com um bilhetinho: ”Estou fazendo sexo com o amor da sua vida. Aceite”. Até o fechamento desta edição não tínhamos conseguido confirmar, porém, tudo leva a crer que a terceira pessoa do singular neste triângulo amoroso teria sido a Rhianna. E o pau comeu solto.

Por causa da Rhiana? Francamente, é muita areia
pro caminhãozinho...
Na música brasileira o bilhete é assunto recorrente. A nossa geração não se esquece de dois bilhetes famosos: O bilhetinho apaixonado da Katia Cilene:”dentro do meu livro de leitura encontrei um bilhetinho que você me escreveu. Era um bilhetinho apaixonado que dizia estar gamado só por mim e mais ninguém”. E o recado, que aqui passaria por bilhete, do Arnesto (aquele que era chegado do Adoniran Barbosa) pra sua turma: “Ói, turma, num deu pra esperá. Aduvido que isso, num faz mar, num tem importância. Assinado em cruz porque não sei escrever.”

Katia Cilene

O "Arnesto" diz não se lembrar...

de nenhum compromisso com Adoniram
Mas bilhete não é só um papelzinho à toa onde as palavras se encontram nos improvisos da vida. Existem vários outros tipos de bilhetes, como o bilhete de loteria, bilhete de ônibus, metrô, de cinema, teatro... e outros. Bilhete premiado é o nosso preferido, mas, não temos nenhum desses... 

Bilhete encontrado pela polícia com receita de "simpatia"

Bilhete encontrado depois de 35 anos 

Nina Boesch faz sua arte com bilhetes de metrô


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Célebro



A mão coçando diante do teclado do computer... a fim de escrever uma palavra de forma errada, propositalmente, no título de matéria editada nesta quarta-feira, sobre atividades que exercitam a nossa massa cinzenta. A vontade era escrever "célebro", em vez de cérebro. Deslize que pinta de vez em quando em nossos cotidianos. Sofro dessas molecagens, apesar de não estar mais na idade dessas coisas. 

Mas, só de pensar nos possíveis desdobramentos que um erro grafado e flagrante num título de reportagem poderia provocar, há um bocado de diversão. Imagino um juiz de direito, ou um catedrático de língua portuguesa limpando meticulosamente as lentes dos óculos ou alisando mansamente a barba. A vermelhidão lhe subindo a face e o comentário na ponta da língua... "esse mundo está perdido mesmo"; ou qualquer coisa assim.

Não o fiz. Talvez porque tenha me lembrado de um professor que me socorria nos tempos do ensino médio. "Refreai vossos ímpetos", costumava dizer o professor Omar Rodrigues de Almeida.

Pois é. Fiquemos com cérebro mesmo. A parte mais “cabeça” do nosso corpo. O que já lemos e o que já esquecemos sobre esse órgão, que se parece muito com uma noz, não é coisa deste mundo. Particularmente, lembro-me bem de quando fiquei sabendo que a inteligência humana está relacionada com o tamanho do nosso cérebro. Grande, se comparado, proporcionalmente, ao dos outros animais. Disso nunca mais me esqueci.


É importante ser cabeçudo, pra abrigar vasta massa cinzenta. O polvo, por exemplo, é um bicho cabeçudo e seu cérebro é grande, de fato. Não por acaso, é conhecido como o intelectual dos mares. Olha, o polvo, além de todos aqueles tentáculos com ventosas ou coisa assim, ainda tem como  estratégia de fuga o jato de tinta negra (dizem que é matéria prima do nanquim) que turva as águas pra ele dar nos pés. Inteligente. Teve um, na Alemanha, que adivinhava resultados dos jogos da Copa do Mundo. A Espanha interessou pelo seu passe, sem sucesso. Logo depois Paul faleceu... rolou um papo de que a Fifa teria providenciado seu assassinato, mas não é bom comentar isso agora.  Chega de levar pé na bunda.


Hipotálamo. Tenho uma fixação por essa palavra, acho que desde a primeira vez que ouvi. E quem disse que consegui gravar o seu significado? E o resultado é que apesar de adorar “hipotálamo”, não posso sair usando a bel prazer, porque é um saco ficar, entra dia, sai dia, consultando o significado de uma mesma palavra.  Acho que vou participar desse babado de ginástica cerebral, porque quem sabe lá eles me ensinam a decorar o que significa hipotálamo. 


Ah... e por falar em hipotálamo, confesso que tenho dúvidas em relação a epistemologia e etimologia. Mas, quando leio, faço de conta que sei e mando a leitura pra frente. Quando me perguntam pelo significado, aí sim, é barra. Uso de toda a criatividade para encobrir a minha ignorância.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Indiferença

Não se pode escrever nada com indiferença.
 (Simone de Beauvoir)

Não fede e nem cheira. Se alguém se referir a você dessa forma, podes crer que ofendeu. Doeu doído, demais! Há sério risco de estabelecer certa animosidade que pode ser pelo amigo, parente, colega, chefe ou seja lá quem for... É uma ofensa comparada aos tempos do grupo escolar - hoje ensino fundamental, quando alguém xingava a sua mãe. Nada pior do que ser tratado com indiferença.

Quando alguém "faz a diferença" é porque arrasou, de alguma forma. Fazer a diferença não é pra qualquer um. A distância entre fazer a diferença e ser indiferente é grande. Tem gente que se toca, reage, interage etc. Tem gente que se mostra apática e insensível; mesmo que o mundo esteja vindo abaixo. Você não precisa ser isso ou aquilo. Pode ser intermediário. Mediano. Preste atenção: mediano não medíocre. 


O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença.
(Érico Veríssimo)
Na matemática, a loucura do raciocínio, segundo Clarice, há um sinal para o que é diferente. O que não é igual. Aquelas duas barras deitadas e paralelas cortada por uma barra inclinada. E quando as barras não estão cortadas, quer dizer que é igual. É igual, mas não indiferente, já que não é dado à matemática as possibilidades subjetivas. Indiferente, então, deve ser pior do que igual.



Uma pergunta não respondida, um cumprimento não correspondido. E a nossa autoestima entra em queda vertiginosa. A indiferença que nos destinam, muitas vezes, é proposital. É uma artimanha de alguém muito maquiavélico que quer fazer a diferença. Essa indiferença, pensando bem, é aceitável. Já que de verdade não há indiferença nenhuma. Encena-se a poderosa arma da indiferença para ferir alguém que não lhe é indiferente. 

Todos nós, quase que diariamente, praticamos a “indiferença teatral”. Quer ver? Quando se depara com um mendigo ou pedinte, vai dizer que nunca desviou o olhar e se portou com indiferença? A indiferença como arma diante de diferenças sociais. É um tiro nos pés. 



E tem aquela indiferença com a qual somos vitimados, mas que é espontânea e não maldosa. Quem a demonstra não o faz de forma premeditada, mas sim, porque simplesmente não reparou em você. Nesses casos resta a esperança de que a pessoa que lhe dirigiu esse tratamento indesejado seja avoada, desligadona, cega ou tonta. Deve ser difícil, muito difícil, uma pessoa tímida que não consegue se declarar, apaixonar-se por outrem que seja daquele tipo que vive no mundo da lua. 


A indiferença é maneira mais polida de se desprezar alguém.
(Mário Quintana)
Escritores, filósofos e outros tipos pensadores referem-se à indiferença com singularidades.  Muitos cunharam frases próprias e de efeito para encaixar o vernáculo com certa pompa. Uns com mais humor, outros de forma mais dramática ou trágica mesmo. Mas a maior parte deles reconhece o significado forte dessa expressão. E suas consequências devastadoras. Numa frase, numa sentença ou até mesmo num parágrafo inteiro; não são raras as vezes em que a indiferença torna-se a palavra que rouba a cena.


Mas a filosofia hoje me auxilia
a viver indiferente assim
nessa prontidão sem fim
vou fingindo que sou rico
pra ninguém zombar de mim.
(Filosofia, Noel Rosa)



segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Hail! Hail! Rock'n'roll


Country + blues + gospel + folk. Faça versos simples, de preferência com apelo juvenil. Misture bem e mande bala. Essa foi a fórmula utilizada por Chuck Berry, cantor, compositor e guitarrista, considerado um dos pioneiros do gênero rock, esse estilo de música que tanto amamos e que é um capítulo da história da música universal. "Hail! Hail! Rock'n'roll" é um documentário musical que resulta de show organizado por Keith Richards, em 1986, para comemorar os 60 anos de Chuck, seu ídolo.

Desde o final dos anos 80, quando fazíamos uma revista de vídeo - Thriller, que bombava nas locadoras locais, nós torcíamos por um reencontro com esse documentário. Há poucos dias ele foi exibido e gravamos. Faz parte de nosso acervo (é o tipo de musical que você tem que ter em algum aparato tecnológico). Histórico. Tá mandando vê cá em casa. Os famosos riffs dão o tempero agitado do rock. Mas uma única balada que rola é um dos  momentos mais belos do filme.
São muitas as peripécias desse músico genial que, neste doc, aparece cantando, tocando e dançando; além de figuraças de diferentes gerações do rock, como o próprio Keith, Julian Lenon, Eric Clapton, Bruce Springsteen, Etta James, Robert Cray, Johnnie Johnson, Little Richards e Jerry Lee Lewis, entre outros. O pai, a mãe e os irmãos de Chuck também aparecem dando rápidos depoimentos a respeito de artista. 




A direção é do escolado Taylor Hackford, diretor de outra bela biografia musical, "Ray" (2004). Chuck Berry teve influências de Nat King Cole, Louis Jordan e Muddy Watters. É acusado de ser o cara que soube fazer o rock funcionar, inclusive, comercialmente. Tipo botou ordem na casa e mostrou o caminho, porque quem sabe, sabe.



Entre as passagens mais interessantes estão as falas do próprio Chuck e Richards, produtor do evento. Tipo dois bicudos, ou vale um fã rebelde ao lado o ídolo doido. A certa altura, depois de sucessivos ensaios e já em cena durante o show, Berry se aproxima de Keith e diz que não vai fazer o que ensaiaram. Problemas... E o homenageado, realmente, burla o ensaio. Os demais músicos olham com cara de "o que fazer agora" para Keith, o organizador da parada. E este ordena: improvisem.  


Quanto vigor, quanta criatividade. Esse é Chuck Berry, do qual nada sabemos ultimamente, apenas que caminha para os seus 90 anos. Em 2008 e 2009 passou pelo Brasil fazendo shows em várias cidades.    
  

domingo, 26 de agosto de 2012

Vamos descombinar


“Ah, se mamãe me pega agora, de anágua e de combinação”. Letra de música nem tão antiga assim, apesar de usar palavras que muita gente nem sabe mais o que são. Peças do vestuário feminino de outros tempos. Anágua, combinação?! Underwear, você sabe, né? Bom, anágua, achamos que caiu em desuso junto com o bidê, aquele “trono paralelo” que ficava no banheiro e esguichava uma aguinha. E combinação... Olha, combinação não combina mais. Só cabe em filmes de época, ou, quem sabe, em instituições religiosas femininas.



Enveredamos numa conversa sobre cores de meias que se ajustam a esta ou aquela roupa. E parece que liberou geral. Não tem mais essa. Use meias conforme lhe convir. Nada a declarar/apoiar, entretanto, sobre usar sandálias com meias sociais. Isso merece certa atenção. Já meias, sapatos e calças sociais devem combinar entre si, menos com bermudas, embora, paradigmas existam para ser quebrados.



Xadrez com listrado agora é aceitável. E se assim estivesse trajado um cabra com bigodinho a oscilar entre o ridículo e o cretino, é natural se concluir que o sujeito estava paramentado para as tais festas juninas ou julinas. E saiba como agir, se você quer ser rei um dia: se tiver caspa, tá fácil. Use sempre camisas ou camisetas pretas que logo há de se tornar o “rei da caspa”. Cá estamos a escrever muito a vontade sobre indumentárias, acessórios e situações; expondo com garbo nossas análises combinatórias. Sim, porque além de sermos fashions, também entendemos um bocado de matemática moderna. Aquela de antigamente, sacou?!



Mas, as descombinações, claro que não ficam apenas no terreno da moda. Tem coisa que descombina tanto com outra, que hoje em dia pode dar até cadeia. Bebida com direção. Péssimo exemplo. Menos em Cuiabá, cidade onde o uso do bafômetro para fiscalizar motoristas infratores parece ser algo de ano bissexto. Só rola muito de vez em quando, e bota de vez em quando nisso. Pois é, que bafão. Bafão combina com bafômetro.



Um parente muito próximo há décadas mantém-se fiel a uma idiossincrasia do paladar. Aprecia pizza com arroz. Na área da gastronomia, aliás, esse papo de o que combina ou não combina com isto e aquilo dá muito pano pra manga (com leite, por exemplo). Puxando pela memória, ao máximo, vem um caquinho associado a uma primeira dama de país sulamericano que gostava de melancia com manteiga. Outra estranheza. Feijão, pra nós, brasileiros, combina com quase tudo. Mas há exageros. Um amigo adora mandar um feijão gelado, geralmente, de madrugada. Sei não... Tô desconfiado que esse cara bebe, fica brocado e com preguiça de esquentar o rango.




Já faz alguns anos que desenvolvi a técnica, não muito apreciada por muitos, de tomar cerveja com gelo. É que esse negócio de vira-virou (o copo) não combina comigo. Vou “‘pipinando” com minha cervejinha. De golinho em golinho, daí o gelo pra mantê-la numa boa temperatura, em Cuiabá. E não é que fui descobrindo, aos poucos, que há adeptos.



Mais coisas que descombinam? Chapinha com vaporizador de ambiente, palitos de dente à mesa (deve ser usado somente no banheiro), pimenta com hemorroida, drogas e rock’n’roll com longevidade, Deus e o diabo... Pensando bem, apesar de opostos, deus e o diabo até que combinam, se for na terra do sol, com direito a falta de respeito e educação no trato social. Ave Maria, mãe de Jesus. Fecha a porta e apaga a luz!!!



sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Restaurações


Sexta-feira. Final de semana batendo na nossa porta. Mais um! Dia agitado, com rotina dilacerada bem cedo. É a hora da chegada da diarista a cumprir sua frequência semanal.  Os ruídos na cozinha, o aspirador de pó e parte dos cômodos da casa interditados temporariamente, para serem faxinados, incomodam muita gente e muito bicho. Mas é assim que tem que ser para funcionar. E fim de conversa! Restauramos o dia através das palavras.

A tarde se adentra tranquila e os bichanos que compartilham nosso espaço se espreguiçam como a procurar a pose mais lânguida. "A Minha alegria", filme ucraniano. Quem sabe dá pra improvisar uma sessão vespertina. "Procura aí alguma informação sobre o filme. Ah, você vai gostar. Já assistiu a uns quinze minutos, né?! Pois só faltam duas horas e mais quinze minutos pra terminar". Do computador onde estou focado escuto só um barulho que vem do controle remoto: zzaapp. E a tarde vai passando em flashback. Tá assim. Primeiro o filme, totalmente baseado em fatos reais, depois o roteiro. 

A minha alegria

Com o fim de semana se escancarando, é válido inverter um pouco a ordem natural das coisas.  

"Olha esse filme aí... Torrentes de Paixão. Lembra? Tem uma música que usa essas palavras num verso." A música e o filme são antigos. Marilyn Monroe no elenco interpretando com maestria o papel que parece sua própria vida: uma estonteante mulher, apaixonada pelo cara errado. Como é que ela conseguia manter esse loiríssimo naquela época: muita química braba! E eu que nem sabia que ela não era blondie. Me lembro da Denise Stoklos dizendo sobre sua cor de cabelo preferida: descolorido. Um filme com a Marilyn, mesmo que não seja grande coisa ou esteja fora de contexto na hora, há de merecer nossas eternas reticências... 

Torrentes de paixão

O homem que não vendeu sua alma
Orson Wells na pele de uma autoridade eclesiástica. Gordinho e fofinho? Ah, tá! Muita generosidade, ele tá obeso e lustroso. A zapeação parou em "O homem que não vendeu sua alma". E eu vou zapeando aqui nos sites de minha preferência. Consigo flagrar a imagem mais interessante da sexta-feira, pelo menos até o fechamento dos post. Uma instalação site-specific da artista Kiki Smith, que está numa agitada rua de Nova York. Reparo também na cara da artista e nos óculos que ela está usando. Não consigo conter a pergunta que corta o silêncio da sala no ambiente doméstico: "A gente já escreveu sobre óculos? E porque haveríamos de escrever sobre óculos?”. 

Kiki Smith (Foto: James Ewing)
A livre intervenção de Cecília Gimenez, uma senhora de 81 anos no afresco Ecce Homo, foi o top da semana. Ela restaurou o rosto de Jesus, datado do Século XIX, que se encontra no Santuário da Misericórdia, em Borja na Espanha.  Segundo dona Cecília, o padre sabia de tudo. Oh!!!!!!!! A notícia caiu na rede. Um documento com mais de 11.000 adesões pede para que não alterem o trabalho de Cecília Gimenez, pois, segundo críticos especializados, há uma combinação do expressionismo primitivo de Goya, Munch, Modigliani e o grupo Die Brucke. Uau!

Obra original de Elías García Martínez, a deteriorada e
após a intervenção de Cecília Gimenez

Sucesso de público...

... e crítica!