quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Na casa da comadre


Obras. Não as obras para a Copa de 2014. Nesta época de seca é quando acontecem as obras domésticas. E obras estão rolando na casa da comadre (coisas tipo reformas, reparos, puxadinhos e elementos vazados) que nos deixam aborrecidos, arrependidos e minam nossas economias. E depois de terminada a obra a raiva passa, o preju é administrado. O que fazer a não ser rir dessas experiências que ficam no limiar entre o amor e o ódio?  Afinal, fazer o que? Passar o resto da vida e mais uma parte da eternidade se remoendo por conta dessas coisinhas estúpidas? No mínimo deveríamos aprender com a lição, mas quá. Logo cairemos em outra fria! 

E que fique bem claro. Não é justo, assim como cheira a preconceito, botar a culpa só no pedreiro. Aquele cidadão que você contratou pra sua empreitada doméstica e que está "esperando, esperando, esperando, esperando o sol, esperando o trem (o VLT?), esperando aumento para o mês que vem, esperando um filho pra esperar também".



Então, tá. A comadre está dando uma ajeitadinha na casa e tratou de contratar (indicados por não sei quem) pedreiro e um possível ajudante. "Dona, vai precisa de uma furadeira pra fazer esse serviço". Despachada que é, emprestou uma furadeira (sei lá de quem) e logo nas primeiras vezes que foi acionada (a furadeira que não era nenhum primor), foi pro pau. E agora, como é que vou entregar essa coisa quebrada? Cara de tacho, quebrar equipamento alheio é ruim, muito ruim. Preju e certamente mais gastos virão... Não é que passando em frente a uma loja de material de construção ela viu uma furadeira novinha em promoção. Só oitenta paus. 

"Furadeira é um troço que de vez em quando a gente usa...". Pensou e o maldito cartão de crédito foi acionado. Uma expressão de felicidade no rosto dos pedreiros quando a comadre chegou com a furadeira novinha da silva. "Agora vai...", também se satisfez ela. E a relação profissional ficou remediada de imediato. Pra usar na obra e investir no lar, tudo bem... 



No dia seguinte, na volta, pro almoço, sonhava com aquela puxadinha de palha depois do rango. Meia horinha que seja. Se lembrou dos pedreiros em casa e o humor azedou um pouco. Abriu o portão e aquela sujeirada toda (já viu obra sem sujeira?). Desceu a rampa pra se adentrar na cozinha e nas dependências da casa e eis que se depara com a furadeira zero bala jogada no chão, no meio de areia, cimento... do lado da argamassa preparada, já endurecendo. Comadre ficou uma fera e passou o maior sabão nos pedreiros. 

O pedreiro é aquele que se não orientar direitinho, faz do seu jeito. E o jeito dele nunca é o que nos agrada. Certa vez fui intrometer num detalhe de uma obra aqui em casa e expliquei o jeito que queria. Sabe o que ele me disse? “do jeito que você quer vai ficar meio escroto”. Fazer o que? Insistir que é  assim e cabô conversa! E fique de olho, porque senão vai sair metade do jeito que você quer e metade do jeito que ele quer! Comadre, como todos aqueles que estão com pedreiro em casa, só quer uma coisa: que a obra termine logo. 

Ela é osso duro. Almoça rápido, tira uma soneca e vai pro trabalho. No caminho, outra loja com promoção, ventiladores em liquidação. Ela não resiste: eles viriam a calhar na varanda externa, o lugar onde reúne a família e os amigos pra tomar aquela cervejinha gelada e jogar uma conversa fora. Comprar? Claro! Quatro ventiladores são suficiente!



Na volta explica aos “oreia seca” que quer instalar os ventiladores na gostosa varanda. O mais experiente recomenda que compre um fio assim assado. É o que ela faz na manhã do dia seguinte. Já tinha esquecido dos episódios envolvendo as furadeiras. Comadre não guarda mágoa. Guarda mais é cervejinha na geladeira. E toma... ô, se não! 

Feliz da vida mostra o rolo de fio que comprou. O mestre, meio que a contragosto, igual a comadre, espera a sorte grande pela loteria, decide confessar: "Olha, a senhora nos desculpe, mas não é do nosso conhecimento esse serviço de eletricidade não, inclusive tenho um medo disgraçado...". Ela dá um suspiro, meio atordoada, e até fica feliz com a honestidade dele. Ela é de boa, tem bom coração. 



Com muito custo arranja um eletricista, tem firma, experiência no assunto. Explica o que ocorreu: comprou quatro ventiladores em promoção e também um rolo de fio. Pode começar a instalação do megaventiladores que vai ser motivo pra chamar os amigos pra tomar uma cerva e espantar o calorão à noite! Olha o fio, tá bem ali, disse já entrando no carro. “Ahhh, dona... esse aí não serve pra fazer esse serviço que a senhora quer."

E esse sofrimento parece não ter fim. Mais quantos “dia seguinte” ainda vai ter? Barulheira desde cedo porque pedreiro é gente que acorda cedo. E chega de manhãzinha na casa em obra. E acorda e incomoda todo mundo, inclusive os vizinhos. Comadre tá de ressaca hoje (culpa da inauguração dos ventiladores), resmunga antes de levantar para receber os “boia fria” e servir um café quentinho. Tem uma aguinha gelada? Coitada de comadre. Deus queira que esta obra termine numa boa pra gente poder curtir a piscina, que tá imunda (cheia de cimento) e sua confortável varanda. Tamos aguardando o final da obra. Acreditamos que muitas outras histórias vão acontecer. E paciência... logo passa! 





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