quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Crumb


"Não... não curto muito histórias de quadrinhos". Essa foi sempre a minha costumeira reação. Talvez porque tenha optado pelos livros deixei de lado ou menosprezei um movimento fortíssimo que acontecia no mundo inteiro. Até poucos dias era ainda a minha argumentação quando uma galera, normalmente mais jovem, tocava no assunto. Bom, essa era a reação, porque mudei. Um puta upgrade acometeu-me. E tudo por causa de um sujeito que vai fazer sessenta e nove (calma, calma, não pensem naquilo) anos no próximo dia 30. 

Robert Crumb é o cara. Figurou em 2007 numa dessas listas bobas que indicam as celebridades mais celebridades: ele ficou em vigésimo lugar entre os gênios vivos. Chegamos ao Crumb pelo cinema de Terry Zwigoff, quando vimos "Mundo Cão", filme aqui comentado e elogiado. O cineasta que despreza a banalização que o business costuma emplacar ao fazer artístico. O estilo de Terry é que nem o de Crumb, nesse sentido. 



Pois é. E não é que lendo sobre o diretor, descobrimos lá na sua pequena filmografia, "Crumb". Pera lá, já ouvimos falar desse cara. As sinapses funcionaram e lá do nosso arquivo mental achamos a velha ficha, que só é encontrada quando estimulado. Ah... e com a pesquisa na web fica fácil, fácil. Encomendamos ao nosso baixador oficial de filmes pela internet o "Crumb", documentário de 1994. Isso é o que chamamos de acertar na mosca. Com um pouco de cara de pau dá pra sair por aí mentindo e inventando sobre quadrinhos, Crumb e a contracultura americana. 



Ele veio de uma família problemática, o pai severo e ditador; a mãe superprotetora e tomadora de bolas com seus cinco filhos: Robert, seus dois irmãos e duas irmãs, passaram por maus bocados. O irmão mais velho, Charles, que se suicidou logo após o término do documentário, vivia à base de remédios tarja preta. Na infância, comandava a irmandade num fictícia e real indústria caseira de quadrinhos. Todos atolados na tal da sociofobia. Mas, não ao ponto de pelo menos um deles, Robert, optar pelo enfrentamento para com a sociedade. 


Com o irmão Charles

Mãozinha boba?
O mais incrível é que o documentário, carregado de realismo (literalmente), explora a presença de Robert quase que o tempo inteiro, suas esposas, filho, filha, os dois irmãos e até a mãe, em rápida aparição. As duas irmãs não quiseram aparecer no filme. Os dramas familiares são expostos através de conversas espontâneas que parecem exorcizar fantasmas, mas são aqueles fantasmas impossíveis de se livrar deles.

Tudo muito espontâneo e real ao extremo. Uma verborragia só. Texto voraz e grandiloquente. Um filme que será muito mais absorvido por aqueles que dispensarem a legenda, portanto, em condições de usufruírem da alta qualidade fílmica oferecida. Arte de primeira, com muita informação. A figura esquálida e estranha de Robert Crumb, com o seu talento extravazante, assume-se como um personagem conquistador. Uma dessas pessoas que tem muito a compartilhar, cuja arte, precisa ser experimentada e conhecida. Imperdível.


Terry e Crumb

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