quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Sangria desatada


Sangue de barata, sangue de Jesus tem poder, sanguessuga, sangue bão... São vários os tipos de sangue e é bom saber qual é o seu. Vai que precisa. O assunto hoje tem cor, é vermelho. Há uma certa incapacidade da nossa parte em abordar muito seriamente um tema. Mas essa conversa de privatizar o Hemocentro de Mato Grosso tá meio atravessada em nossas cabeças. Aí, né, a gente optou por esta conversação que tende para o encarnado. 


Doar sangue é um gesto de intenso humanitarismo.


Quem procura um hemocentro e oferece seu sangue demonstra uma das qualidades mais nobres do ser humano: a solidariedade. Quem doa não sabe quem será o receptor, mas tem a certeza de que irá ajudar alguém a restabelecer a saúde. E doa, simplesmente. O ato de doar (gratuitamente) algo tão íntimo e vital, numa situação onde não interessam a identificação do doador, informações sobre sua origem, status social, descendência; e que pode ser feito por parte significativa da população, é algo individual, único. E quem doa estabelece com quem o coleta uma relação de respeito e confiança mútua. 




Seguindo o raciocínio desse conceito humanitário, aflora um questionamento em torno da proposta do Executivo deste Estado, que quer transferir a administração do Hemocentro para outra instituição. Por quê? Se existe uma tradição na realização desse serviço pelo Estado, se há profissionais altamente qualificados e capacitados, se a qualidade do atendimento e da relação doador/receptor tem se mantido. 


Um gosto de sangue: 1º filme dos Coen

Há toda a sorte de argumentações nessa de privatização de serviços. Há concordância que alguns podem ser terceirizados, ou coisa parecida. Não aqueles que asseguram a dignidade da vida humana, como saúde, educação e segurança. O cidadão, na melhor das intenções, doa seu sangue, isso é o que chamamos de dar sangue - de graça, e aí uma instituição, entidade, organização, passa a explorar esse serviço, apesar de a administração pública ter condições de fazê-lo de forma satisfatória. 


Tônia Carrero e Francisco Cuoco em Sangue do meu sangue


Sei lá... mas tem uma pulga atrás da orelha que leva a alguma desconfiança... A de que alguém, que não a população, vai sair ganhando nessa história. Muito estranho. O povo desta terra não tem mais como ser sugado e até o sangue, pode virar objeto do desejo de sei lá quem. Sanguessuga, saúde pública em MT... Minha memória não tá lá grande coisa.




Talvez estejamos sendo simplistas, ignorantes, precipitados etc. Não somos grandes conhecedores em matéria de gestão pública de saúde. E o pior de tudo é ser ignorante, e querer partir pras vias de fato. O sangue nos sobe à cabeça e ficamos rubros de raiva. Descer a porrada é comportamento de quem está a um passo de se tornar um sanguinário, sanguinolento. E ainda corre o risco de ficar todo ensanguentado.






O primeiro hemocentro do qual se tem notícia no mundo surgiu na Espanha, por conta da terrível Guerra Civil. Espanhóis têm fama de sangue quente. Às vezes é preciso ter sangue quente. Noutras, o sangue frio cai melhor.  Se não entendes, se não sabe em que hora ter sangue quente ou frio, calma. Senta-te num bar e pede algo pra clarear sua ideia. Não, não vá pedindo campary logo de cara, só porque é uma bebida vermelha. Vá de bloody mary. Agora, se quiser beber com mais volume, tipo encharcar-se, vai de sangria. Hummm... tá duro, a situação financeira não está nada fácil. Pede um sangue de boi e aguenta o tranco depois. Se for dirigir, nada disso. Vá de refresco de groselha, bem vermelhinho. E mostre que você é mesmo sangue bão!





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