quinta-feira, 24 de maio de 2012

;

"aquilo que as palavras fazem e não dizem" (Meschonnic)
Inúmeras vezes relatamos a nossa maneira de trabalhar os assuntos ou temas para escrever os posts de cada dia. Às vezes a coisa vem quase pronta, bem estruturadinha na cabeça, e na hora desanda em algo que não imaginávamos. Outras vêm completamente livres, leves e soltas e... também descambam. Descambar é uma liberdade que nos surpreende. Divertimos, rimos muito nessa lida.  

Mas nem tudo é um mar de rosas. Temos uma diferença que nos distingue ao escrever que, vez por outra, dá atritos. Faíscas. Tem a ver com o ritmo de cada um.  Gosto de explicar, detalhar, esmiuçar e amontoar palavras e palavras com vírgulas e mais vírgulas. Enquanto ele (ele sou eu) é mais seco, conciso e conclusivo. Lasca de pronto um ponto. Por isso, deduzimos que as mulheres são de vírgula e os homens são de ponto.

"o livro pode valer pelo muito que nele não deveu caber" (Rosa)

Saramago, linguagens subversivas

É da natureza feminina não gostar de terminar um assunto, sem mais nem menos. Gosta de tudo bem explicadinho, nos seus mínimos detalhes. O pensamento delas parece um rio cheio de meandros. Vai lá longe e volta e faz uma volta grande e volta, quase que pro mesmo lugar. Os homens são práticos, de poucas palavras. Cartesianos por excelência adotam a máxima de que a menor distância entre dois pontos continua sendo uma reta.  

"o desconhecido para uma língua que se desconhece" (Lispector)
Mulher também gosta de reticências e de aspas, porque elas destacam. Adoram as exclamações e as interrogações, usadas não somente para as intermináveis perguntas, mas também para as dúvidas, que sempre são muitas. Homens já gostam de travessão e hífen, porque se assemelham a símbolos fálicos. E adoram, claro, os dois pontos. Há controvérsias.

Ousamos dizer que, na transposição da oralidade falada para escrita, o texto tem seu caráter rítmico adulterado pelo uso lógico da pontuação. E a poesia é a linguagem mais subversiva contra dogmas arcaicos.

 “Fazemos pausas na conversa que na leitura da prosa se não podem fazer.” (Pessoa)


"as pessoas precisam ler escritos que não compreendem" (Lacan)

Nenhum comentário:

Postar um comentário