segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Finados

jogando com a morte em "O Sétimo Selo"
Uma bicha devia cinquenta pratas para outra amiga e não pagava. A outra bicha é claro que queria receber. E esta, um dia, saiu de casa e espreitou a amiga caloteira próxima da casa dela. Quando a devedora saiu de casa, percebeu a amiga, disfarçou um pouco e tentou despistar. Mas não conseguia. Entrava numa loja, em outra e logo via a cobradora que se aproximava. Por vários minutos foi assim. Num lampejo de criatividade, a bicha caloteira resolveu entrar numa funerária e acomodou-se num caixão, fechando-se. Pois não é que a outra bicha percebeu, acercou-se do caixão e destampou-o?! “Sua bicha caloteira”, disse zangada, ao que a outra respondeu: “Estou morta... Morta de vergonha”. 

Não chega a ser uma piada excepcional, mas cabe para este Dia de Finados, com todo o respeito. A morte é uma grande dúvida e também uma certeza absoluta que todos temos. Não sabemos para onde vamos, cientificamente falando, mas é certo que vamos morrer. Não padeço de nenhum medo espetacular da morte e procuro ritualizar de alguma forma a passagem de pessoas queridas e próximas. Sei bem do sentimento que fica, uma saudade lascada. É próprio derramar lágrimas nessas ocasiões. A gente está botando pra fora algo que precisava sair. Talvez, por praticar essa postura lúcida e até certo ponto fria, diante dessas perdas, sei amparar com delicadeza as pessoas sofrem nessas situações indesejadas.


Conheço gente que foge de cerimônias como velórios e enterros. Tem gente que aguenta, no máximo, uma missa de sétimo dia. Questiono um pouco esse tipo de comportamento, porque acho que é de grande valia estar presente nessas despedidas, quando a dor pode abrandar um pouquinho diante de um abraço ou um beijo comovido e sincero.


o cinema que sugere um ponto de vista
Orações, palavras bonitas, silêncios, velas, flores, lágrimas... Tudo vale num Dia de Finados. Conforme já disse, gosto da ritualização. Faz parte da nossa cultura e faz bem. Não sei como os ausentes se portam diante disso e sei que de religião para religião isso muda um pouco. O que me vem à cabeça agora é o título de um filme brasileiro bastante curioso: “Nós que aqui estamos, por vós esperamos”, de Marcelo Masagão. O título foi chupado do letreiro de um cemitério na cidade de Paraibuna (SP).


Dois de Novembro é a data memorialista para a morte. Um tema recorrente na vida real e na imaginária. E fecho minhas palavras com uma bela poesia de Manuel Bandeira. “Preparação para a Morte”: A vida é um milagre./Cada flor,/Com sua forma, sua cor, seu aroma,/Cada flor é um milagre./Cada pássaro,/Com sua plumagem, seu vôo, seu canto,/Cada pássaro é um milagre./O espaço, infinito,/O espaço é um milagre./O tempo, infinito,/O tempo é um milagre./A memória é um milagre./A consciência é um milagre./Tudo é milagre./Tudo, menos a morte./Bendita a morte,/Que é o fim de todos os milagres!.  

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