domingo, 4 de novembro de 2012

Tô me lixando (?)

O Cerrado de Benedito Nunes

Tango tarangotango/pé de carrapicho/joga fulano/na lata do lixo... Uma senhora humilde trabalhava nos serviços gerais de uma empresa e dizia de seu marido - "ele trabalha na coleta". Demorei um pouco a entender que ele era lixeiro. Percorria a cidade pendurado nos caminhões de lixo catando o refugo e a porcariada que as famílias e empresas produzem aos montes. Achei bonito, uma maneira carinhosa de valorizar o trabalho do esposo. Nossa sociedade ainda vê o serviço de coleta e o lixeiro com cara virada e como coisa menor. É... mas vai ficar sem o serviço deles, pra ver o caos que vira!

Quando os caminhões coletores passam deixam um rastro de odor forte e desagradável. Não sei como esse cheiro funciona nos trabalhadores da coleta, que convivem com ele diariamente. Será que ele impregna os pulmões? Será que lhes abrevia a dura vida? Sei não... Imagino, para não dizer que tenho certeza, que esses trabalhadores sofrem males por causa do trabalho, inclusive, psicologicamente.


Aqui em casa, quando passa o caminhão de lixo, instaura-se o terror felino. Nossos três gatos, parece que avisados pela cachorrada da vizinhança que começa a latir, são os primeiros a saber. E eles odeiam a chegada do caminhão, com seus ruídos estrondosos. Procuram seus esconderijos e/ou locais domésticos estratégicos, debaixo de alguma cama, ou sobre algum móvel onde tenham uma visão privilegiada.


Na sua casa deve ter uma ou mais lixeira(s). Aqui em casa tem... Mas tá sumindo aquela conhecida no mundo científico como Curatella americana. Árvore ou arbusto que melhor representa o Cerrado. Por causa de suas folhas ásperas, conquistou o nome popular de 'lixeira' desde tempos imemoriais. Era tão comum por estas bandas, que até nominou um bairro: sim, temos o bairro da Lixeira. 

Ela, essa lixeira, inspirou artistas como o poeta Nicolas Behr: "nem tudo que é torto é errado, veja as pernas do Garrincha e as árvores do cerrado”. E os artistas plásticos Benedito Nunes, Márcio Aurélio. Adão Domiciano...

Poema visual de Augusto de Campos

Lixo é conversa de toneladas. Tem lixo extraordinário, boca do lixo, lixo orgânico, hospitalar, digital, reciclável, doméstico, industrial... 


A lendária "Boca do Lixo" de Sampa
Seu lixo é o que você é. Investigadores, quando precisam coletar provas ou conhecer aspectos da vida, hábitos, consumo e o grau de desperdício, muitas vezes e pelo menos na ficção, vão escarafunchar o lixo dos suspeitos. Pelo lixo muita coisa se descobre. Lixo é entregador.

De volta ao começo, porque, senão, palavras podem sobrar por aqui e não as queremos no lixo. "A lata furou, o lixo derramou".

O lixo extraordinário de 

Vik Muniz

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