sábado, 28 de julho de 2012

Hanami: Cerejeiras em flor


Anteontem foi mamão com açúcar: beleza, juventude e as agruras do amor. Nesta fase da vida é fácil. Pelo menos parece. Talvez porque já passamos por tudo isso.  O difícil é discorrer sobre algo que é o nosso horizonte: a velhice, a vida a dois, a involuntária separação e um só caminho: a solidão.   


“Hanami: Cerejeiras em flor”(2008), produção franco-alemã, é um filme que retrata a vida de um casal interiorano de uma pequena cidade na Alemanha. Para o diagnóstico avassalador um único remédio: aproveitar o tempo que resta e ser feliz.  A primeira lembrança: os filhos, que têm suas famílias e seus problemas. Hoje são estranhos para o casal e eles estranham a repentina invasão dos velhos pais em suas vidas, quebrando suas rotinas. O incomodo afeta a todos. Quero “voltar para casa, voltar para você”, diz o marido cansado de viajar. 






A morte inesperadamente acomete a esposa. Justamente ela que queria proporcionar dias felizes ao marido condenado pela doença, fura a fila e se manda. E ele sequer sabia da sua situação terminal. A infelicidade agora está completa com a ausência da companheira.




É no luto, na luta com a dor da perda, que ele descobre o quanto ela dedicou sua vida a ele e aos filhos. Seus sonhos ficaram registrados nos postais, em livros, na poesia e na delicadeza e força das expressões que emanam do Butoh. E ele sai para conhecer o mundo que ela tanto sonhou, com a intenção de levá-la nessa viagem de gratidão ao amor. É sua transitoriedade.



Direção de Doris Dorrie




Filme triste e cheio de ensinamentos, que vale a pena ser visto pelo tratamento poético que aflora na edição, com imagens e palavras cheias de uma sutileza do tamanho do mundo.  Passando ferro num lenço, eis que cai uma lágrima do seu olho na pequena peça de tecido delicado. A quentura do ferro de passar, rapidamente, disfarça a reação espontânea do sofrimento.


Butoh

Tadashi Endo




Mas é preciso tocar a vida. Quem sabe, como ela queria, espreitar a celebridade que é o Monte Fuji, que deixa de ser apenas uma montanha a mais, como ele achava e dizia antes à companheira, agora ausente.  


Butoh e reflexo do Monte Fuji

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