segunda-feira, 23 de julho de 2012

Olhos azuis


David Rasche e Irandhir Santos
"Olhos azuis" (2009), produção brasileira com direção de José Joffily, causou um certo incomodo assistir. Tudo bem, era essa a intenção. Foi premiado no Festival de Paulínia (SP), está na safra das melhores produções recentes, onde a qualidade tem sido marca registrada, mas o que mais nos chama a atenção é a grande diversidade de temas, linguagens e narrativas. 




Temos visto documentários brasileiros e, na maioria das vezes, gostamos muito do que vem sendo produzido. E é fato, o Brasil é bom de documentários. Já a ficção não ocorre de acessarmos com tal frequência. Algumas decepcionam, mas temos uma boa lista daqueles que agradaram muitíssimo. 




No caso de "Olhos azuis" a exploração do tema, que é a discriminação étnica, boa parte da história se passa num aeroporto estadunidense, onde um grupo de estrangeiros, todos de países terceiromundistas, passam por intensa humilhação orquestrada por um chefe alfandegário, no seu último dia de trabalho antes da aposentadoria compulsória. Um sujeito decadente, bebum e de olhos azuis. Gente de Cuba, da Argentina, de Honduras e do Brasil estão nesse desfile de personagens que serão tripudiados pelo canalha.



José Joffily no comando






O trabalho dos atores é arrasador. O ponto alto do filme. Segundo o cineasta Joffily, o filme se baseia num episódio verídico que aconteceu com um conhecido dele. Para este humilde blogueiro, assistir "Olhos azuis" teve uma pegada muito pessoal. É que sempre odiei essa história de ter que tirar visto e toda essa burocracia para entrar nos Estados Unidos. Fico, não sei porque, me imaginando numa situação complicada para ingressar na terra do Tio Sam. Daí, que como nunca tive a chance de ir aos Estados Unidos, prefiro dizer que não me apetece conhecer esse país. Só que me dói um pouco Nova York... O fato de não conhecê-la.    









Deixemos dessa conversa fiada e voltemos ao filme. A história também se passa no Brasil, quando o fdp dos olhos azuis quer se redimir e vem pagar seus pecados em território brasileiro. E lá no nordeste. Do litoral, segue para Petrolina em busca de uma menina, como que na tentativa de reparar o tamanho da cagada que fez.  Assessorado por uma prostituta de luxo - sim, porque puta que fala inglês e dirige caminhonete descolada, não é qualquer uma - se embrenha pela árida paisagem nordestina. Sempre tomando todas.


Cristina Lago, melhor atriz






Algumas passagens de "Olhos azuis" parecem um pouquinho forçadas e alguém pode achar que a verossimilhança fica comprometida. Não no meu caso, porque acho que quase todos os filmes são cheios de pequenas imperfeições. Ora, a vida também é assim. Não conheço bem o povo estadunidense, mas fiquei com a impressão que os personagens americanos, suas posturas profissionais, seus vícios trabalhistas, comentários e seus próprios dramas existenciais; segundo construiu Joffily, são lugares comuns, parecidos com qualquer safado que abusa do poder. Abusar do poder é uma grande tentação em qualquer lugar do mundo.









Depois de escrever o post, me passou pela cabeça uma dúvida. "Ué, será que não gostei do filme?". Sei lá, entende. A verdade é que fiquei grudadinho na tela acompanhando atentamente o filme. 


o gringo quase foi salvo por um anjo torto...



Um comentário:

  1. Assisti o filme. Realmente, prende a atenção do começo ao fim. Gostei. Retrata bem a intolerância e soberba dos americanos.

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