segunda-feira, 28 de março de 2011


Saudação ao público
Pelo segundo final de semana consecutivo não fico “desconcertado”. Bacana mesmo, que Cuiabá ofereça isso ao seu público. Domingo passado, foi a abertura da temporada da Orquestra do Estado, e neste (27/03), a Orquestra Sinfônica da UFMT fez seu primeiro concerto do ano. Casa cheia nas duas ocasiões, ou seja, não deu pra quem quis. É o que eu tenho dito nos últimos cinco anos: incrível, como a musicalidade ganha espaço nesta terra calorenta. Até em nível de orquestras. Ai daquele que pensa que o cuiabano só gosta de música sertaneja.

Vou para apreciar a boa música e valorizo esse trabalho orquestral, que reúne músicos de formação acadêmica e manda ver. Reparo nos repertórios, na performance dos músicos, do maestro e também no público, na forma como ele se comporta. Acho que ainda falta um pouco de tato, talvez pelo desconhecimento da postura correta quando se está num concerto. Crianças, por exemplo, costumam ser um problema, mas também é covardia, é injusto proibir a presença dessas pequenas criaturas que, normalmente, são até mais sensíveis do que nós, adultos, para com a música. Sei lá. Mas, pelo menos, o público dos concertos não é mal educado como o que vai aos cinemas em Cuiabá. Não me lembro de ter assistido uma única sessão de cinema em Cuiabá, onde um cretino ou uma cretina, deixou seu celular ligado.


A Magnífica Reitora marcou presença

Alguma coisa está acontecendo comigo. Me preocupa, até certo ponto. Do repertório deste domingo, não curti ou não consegui entrar no clima durante a sinfonia nº 1 de Beethoven, a última a ser tocada. Não se trata, tenho certeza, de algo em relação ao desempenho da orquestra. Me diverti e me emocionei com as composições anteriores. A abertura de “Rosamunda”, de Schubert, me encantou com a riqueza do diálogo entre os instrumentos. Achei-a suave a graciosa.


dy Anjos tocando como os anjos

A “Sinfonia Pantaneira”, de Habel dy Anjos, solada pelo próprio com a viola de cocho mexeu comigo. Uma composição que esbanja plasticidade. Começa com uma tristeza bonita de se ouvir e evoca a paisagem pantaneira. Um visual parado e cheio de vida ao mesmo tempo. Depois vai ganhando agilidade e os sons parecem ficar coloridos, com a viola e as cordas mais rápidas. Depois o solista mostra seu virtuosismo e prova que os sons que partem do alaúde pantaneiro (gosto de chamar a viola de cocho assim) registram que esse instrumento regional é mesmo a cara do pantanal. Na parte final da sinfonia fui remetido às sensações do ambiente pantaneiro, com sua alegria e vivacidade. Habel chega a rasquear a viola. Valeu mesmo.

Na sexta-feira liguei pro maestro Fabrício Carvalho para assuntar o concerto e ele me garantiu que eu ia gostar da “Czardas”, de Vitorio Monti, uma composição inspirada na tradicional dança húngara, que eu pensava que não conhecia. Bastou ouvir as primeiras notas para me lembrar. É o tipo de música que basta ouvir uma única vez e depois a gente nunca mais se esquece. Impressionante como a música oscila entre o carinho, a carícia que exige dos intérpretes, para depois lhe cobrar vigor e movimentos mais bruscos. E foi então que pude constatar o raro talento que se chama Yllen Almeida, violinista nascido em Cuiabá e que aos dez anos já tocava na Orquestra da UFMT, e que já rodou pelo Brasil com seus méritos.


Yllen o ex-menino prodígio


Ir a concertos em Cuiabá é um luxo! Nestas duas últimas semanas tivemos um final feliz para os domingos, quase sempre insossos. Infelizmente, pra algumas pessoas, não. Nos dois eventos observei o descontentamento de inúmeras pessoas que não conseguiram assistir às apresentações. Dá uma dor no coração ver o desapontamento em seus rostos. O que será que acontece? Imagino que a divulgação é um dos fatores, agora não sei se porque são bem ou mal divulgados. A temporada é muito pequena, dois dias no concerto da Orquestra Estadual e um dia da Orquestra da UFMT!!!!! De pescoçada, outro dia ouvi uma pessoa entendida comentando que esperava que um teatro, à altura do povo cuiabano, ou melhor, do merecimento do povo cuiabano, deveria estar no planejamento da nova metrópole que será Cuiabá, para receber a Copa 2014. Mas parece que não estão pensando nisso. Ainda dá tempo! Sem dúvida nenhuma, o público aumentou. Então vamos deixar de subestimar. É só ter espetáculos de qualidade que as salas vão ficar lotadas. 

Gosto de ficar reparando os instrumentistas, a maneira de tocar, de sentar, os trejeitos, uns que tocam e deixam transparecer a emoção no rosto, com sorrisos, caretas... outros que acompanham o ritimo com o corpo. Os maestros, além dos solistas, sempre são destaques, impossível não reparar na energia que percorre o seu corpo, puro frênesi, no jeitinho de jogar os cabelos pra trás... poderosos. E, ainda é uma oportunidade de rever velhos amigos. Hoje o especial foi o Osvaldino, funcionário do TU, das antigas, que está na foto abaixo. Voltar para casa depois de um bom espetáculo é voltar feliz, recompensada. Esse é um dos prazeres da vida, melhor se mais socializado.


Osvaldino trampando

Só mais uma coisinha, um pedido pro maestro Fabricio Carvalho... Não dá pra fazer um concerto por mês?


Nós é que agradecemos

Mais um detalhe que não pode passar desapercebido, o Tyrannus quase sempre é pensado e escrito por duas pessoas, então às vezes tem uns desencontros, não trombadas.


 





Um comentário:

  1. Lorenzo e Fátima duas presenças ilustres no concerto. e parabéns pelo artigo nesso blog.... bravo!
    lau medeiros

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