Quero isso e aquilo

Quero isso. Quero aquilo. Não sei como conseguia viver antes sem isso! Sem isso não consigo mais viver! Compra pra mim? Eu preciso tanto... Muito difícil encontrar um mortal na Terra que não ouviu uma dessas frases ou/e já não disse uma delas. Estamos falando do consumismo exacerbado que toma conta e se alastra pelo mundo.   

Eaê... o que que vai comprar hoje doutor, e a madame, vai levar o que? Vou levar dois “quês”, um com acento circunflexo e outro sem, porque estou com preguiça de olhar no Google ou em qualquer outro lugar para saber qual é a forma correta, Não tenho tempo pra isso, quero consumir...

Consumição. “Viva Pelé do pé preto, viva Zagallo da cabeça branca... de tanta consumição”. Será que Gilberto Gil, quando compôs “Abra o Olho”, lá pelos anos 60 ou 70, já pensava nessa epidemia que ia virar o verbo consumir?

80 anos...

Consumir combina com descartável, com propaganda, com lixo e com ilusão. Consumir é mais moda do que qualquer outra coisa, Ter é muito mais valioso do que ser. Ora, se você tem, você é. Mas... mas... é o que? Bom, na pior das hipóteses, um babaca. E na melhor das hipóteses, alguém que ainda não chega a valer um pequi roído, em matéria de consciência.   

Bagunçou geral. Quem não tem dinheiro pra consumir, pode “saquear”. Isso, lá em Londres. Mas não é que a juventude londrina vai e saqueia, praticamente, só supérfluos, como televisões, jóias, bebidas e doces. Esse mundo tá mesmo perdido. O aspecto positivo foi a assistente social que arrochou uma televisão, mas, depois, se arrependeu, pesou na consciência e ela se entregou.

Esses dias um programa apresentou um desafio. Uma rede de supermercados pediu às empresas fornecedoras para que desenvolvessem produtos que utilizassem menos água, energia e matéria prima. Tudo coisa que a gente consome desbragadamente. Maravilha, quanta novidade!

Depois, foi a vez de uma marca de refrigerador que repensou todo o processo, desde a produção até o descarte (quando uma nova geladeira é adquirida a empresa pega a embalagem que é reutilizada para outro aparelho) e leva a que foi descartada: uma parte vai para um aterro sanitário e outras partes são reutilizadas na construção civil. Essas iniciativas precisam se alastrar, que nem o consumismo. Mas os produtos ‘limpos’, ecologicamente corretos, também precisam ter um custo mais acessível. Os benefícios em favor do meio ambiente precisam deixar de ser exemplos isolados e restritos a uma parcela muito pequena. Se não, jamais surtiram os efeitos positivos que foram pensados, planejados e que precisam ser executados numa escala industrial.

E a história dos orgânicos. Que bom seria se todos pudessem utilizar produtos orgânicos. O Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no mundo!!! Aqui também é o país que mais desperdiça alimentos. Tanto estrume, tanta bosta de galinha, tanta matéria orgânica desperdiçada. Por que usamos tanto agrotóxico e fertilizante? Na Europa, faz horas que esses venenos foram banidos na produção de alimentos.

Nosotros também consumimos. Aqui em casa, por exemplo, tem uns oito cabos pra carregar celular, uns bons quilômetros de fios, headfones, ventoinhas, monitores que nos espreitam em locais estratégicos, teclados e outros aparelhos desse mundo moderno. Alguns, nem sabemos se chegaram a estragar de fato. Foram descartados e substituídos por outros mais modernos. Meu Deus, e como têm carros na cidade, que tá ficando parada e nós todos idem.  “Pare o mundo que eu quero descer!” Pois é, parou. A situação tá assim: ou dá ou desce.

Nossos sonhos de consumo atuais: Lorenzo: quer arrematar uma viola de cocho, só pra ficar brincando com ela. Negócio bom pra se brincar é a música, coisa boa pra se consumir. Fátima: está procurando uma muda de aroeira, pra botar na calçada (recomendação do Nicolas, Schinus mollis). Já comentamos no Tyrannus que estamos doidos por um minhocário, pra ter húmus, pra fazer uma horta, livre de agrotóxicos. Estamos tentando melhorar a nossa consumição.