terça-feira, 25 de janeiro de 2011


Quando era criança adorava deitar na varanda de casa com meus irmãos, amigos e às vezes só, para ficar olhando as nuvens no céu. Ficava horas decifrando e dando nome as formas, adorava ver a lenta formação de uma nova nuvem se juntando com outras ou, a partir da perda de partes. Na maioria das vezes rolava um enredinho, bobagens. Ainda hoje folheio e leio sempre que posso, aleatoriamente, o “Guia do Observador de Nuvens” (Gavin Pretor-Piney).
Mais pra frente na minha vida, andei lendo Platão, sem muito compromisso. Uma coisa que nunca me saiu da minha cabeça de nuvem foi quando me deparei com a história do ‘mundo das idéias’, ou a Teoria das Idéias, de Platão. Imaginava as idéias soltas, vagando pelo firmamento como nuvens, acessíveis a qualquer ser. Fácil, só levantar os braços, alcançar e pegar uma. Imagino também que nem sempre se pega o que se quer. Tem que ter um pouco de sorte. 
A era digital me parece algo similar. Onde estão e pra onde vão todas as informações dos grandes arquivos do Google, do Youtube e outros que nem sei? Há tempos discutimos sobre isso. Acho semelhante com o meu pensamento de criança: as nuvens, as idéias, a facilidade em pegar e se apossar. Tá tudo aí. Basta ligar o computador e as informações e idéias estão aí, disponíveis, só pegar. Esse meu pensamento, em parte, é empirimos puro, tabula rasa. Na verdade, as idéias, as idéias com I maiúsculo ainda estão na cabeça dos homens. Na dos pensadores, especialmente. O mundo virtual do “seleciona/copia/corta/cola” não acessa nuvem nenhuma, muito menos nos adentra ao mundo das idéias, de Platão. Ao contrário, exclui. Ou pelo menos não deixa pistas suficientes...

Platão (427-347 a.C.)
Lorenzo disse que quando realizamos, construímos algo, a idéia deixa de existir. O que era ficção, passa a ser como que realidade. Algo assim. O Chico Amorim (personagem lendário da cuiabania inteligente) dizia, àqueles que ficavam desdenhando e criticando obras de arte: “Olha, qualquer idiota pode fazer o que o artista faz, mas só o artista faz...”



Mora na filosofia (1956-2002)
 Nas últimas semanas temos assistido entrevistas incríveis com filósofos pela TV. Mucho loco, men. São programas de dez, quinze minutos, que a gente faz questão de gravar. O impacto que esses falatórios todos têm causado em nossas cabeças parece coisa de outro mundo. O melhor a fazer quando um grande filósofo está falando é ouvir. Fica a impressão que um filósofo em ação, nesta poeirinha do século XXI – tempos da plenitude tecnológica, quando expõe todo o seu conhecimento, sacode a poeira.  
    
Alain Touraine

Slavoz Zizek


Gilles Deleuze (1925-1995)

Cumuloninbus: tempestade de idéias


4 comentários:

  1. Er... Onde vc está vendo essas entrevistas? em algum canal de televisão ou na internet? Passa a fonte pra nós.

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  2. Fátima postei no Twitter o lance das ideias flutuantes, acredito nisso sim. Não creio que nasçam em cérebros iluminados, apesar de crer que estes captem com maior clareza o alcance das ideias sem ao menos saber por que. Vide Einstein com a teoria da relatividade sabia do resultado, antes da conta...

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  3. André,
    Vimos as duas primeiras entrevistas no programa Milenio, na GNT, e a do Gilles, na TV Escola.

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