terça-feira, 22 de março de 2011

Clitoria é uma flor

Lea T.
Homens e mulheres são seres complexos. Objetos de pesquisa da maioria das áreas do conhecimento. Do entendimento dessas intricadas mentes, originou uma gama imensa de estudos sobre a psique que começa antes do nascimento e vai até a morte. Além das diferenças inerentes ao sexo a sociedade ocidental ampliou o abismo entre eles, mais sociais do que anatômicas e fisiológicas, principalmente, no que se refere ao prazer que, em decorrência, creio, conduz ao poder. Particularmente, acredito que prazer e poder estão um para o outro, como o outro para um. Sacou a relação?

Como entender a apologia que se desenvolveu em torno do pênis? Registros históricos comprovam que o “falo” era adorado em muitas sociedades antigas como um deus, exemplo? Príapo! Em pleno Século XXI vivemos sob os auspícios da falocracia. O mesmo não se pode dizer do clitóris.

Príapo = fertilidade

O clitóris tem mais terminações nervosas que o pênis. É capaz de intumescer, crescer e até de ejacular.  Enquanto o pênis desempenha funções ligadas à reprodução e ao prazer; o relegado clitóris é única e exclusivamente destinado ao prazer. O “trem” causa tanto temor que, na literatura médica, seu estudo apareceu e desapareceu várias vezes e não se sabe porque. Mesmo hoje são poucas as variações sobre o tema.

A educação ocidental permite ao menino pegar, olhar, manipular o órgão sexual; enquanto à menina a história é carregada de preconceitos sociais e religiosos que o vêem como pecaminoso e sujo e outras coisas. A masturbação masculina é normal e faz parte do processo de aprendizagem, levando os meninos aos primeiros aiaiais, consentidos. A masturbação feminina, tanto na adolescência como na vida adulta, ainda é vista, na verdade não é vista e muito menos falada abertamente. Os nossos aiaiais são silenciosos, pecaminosos e quase criminosos. 


Gênero? Clitoria

Um coisa leva a outra. Penso que, semelhante ao que acontece às mulheres, que são mutiladas na África, fato condenado pela nossa sociedade, a mutilação também acontece aqui: Santa hipocrisia!! O menosprezo que a nossa sociedade falocrata dá ao corpo e ao prazer feminino é uma castração.  O conhecimento do poder do clitóris poderia nos levar a várias viagens de ida e volta, volta e ida... ao paraíso. Acredito, ainda, que isso teria mudado a ordem social ... especulações. Uni-vos siririqueiras!!!!!

Por conta disso muitas teorias e hipóteses foram criadas, discutidas e exploradas. Freud acredita que a mulher tinha inveja do pênis. Acredito que o homem também tem inveja da condição feminina, uma delas é a de gerar e parir. Pode ser que num futuro muito próximo alguém comprove que a gestação é compartilhada, teoria na qual creio.

O meu relato hoje é sobre a experiência de um homem que se sentiu grávido, gerando vida, independente da mulher. Aconteceu e eu convivi com isso.

Depois de uma viagem a um sítio, ele voltou para casa quieto, calado, sonolento... Não muito diferente, mas diferente. Talvez um pouco cansado.

Senti um clima estranho. Às vezes de noite levantava-se exasperado, como se algo incomum acontecia. Uma pontada... meio dor... diferente.

Aos poucos percebeu uma pequena saliência no braço, mas nada que indicasse o que estava prestes acontecer... A pequena protuberância continuou a crescer e começou a incomodar. Às vezes, uma sensação... Algo mexia naquele caroço que se avolumava dia após dia.

Finalmente, não pode esconder o inevitável. Algo sucedia. O braço estava dolorido, vermelho. Uma coisa dentro a crescer e buscar mais espaço.  Medida tomada: médico urgente. Diagnóstico, não do médico, dos amigos: berne!!!!! Um berne crescia dentro de suas carnes. Em busca da causa soubemos que uma mosca varejeira havia colocado seus ovos sob sua pele. Não ficou explicado muito bem como os ovos invadiram seu corpo. Um tempo depois os ovos “eclodiram”, no seu interior, uma larva nasceu e começou a crescer. Cena de cinema, “aliens” ou coisa parecida.

Na mosca

Ao saber da existência daquele ser, nascido no seu interior, repentinamente rompeu, não sabemos de onde, um amor incomensurável, um amor maior que tudo: o instinto maternal. Os dias passaram e o seu braço agora era motivo de cuidados e preocupação. Ao saber que o pequeno verme poderia ser parido sem muito sofrimento, se migrasse direto para um naco de toicinho, não teve dúvidas, o melhor para o meu rebento: comprou um lindo pedaço de bacon.

Na verdade não sei como terminou a história. Parece que o bicho começou a incomodar demais, encheu o saco. Saiu a fórceps, mentira... espremido,  esmigalhado. Doeu um pouco, sem sofrimento. Deixou um buraco, não um vazio, no braço que demorou a sarar. E ficou, não na lembrança, uma cicatriz, que foi esquecida, assim como o filho natimorto. 


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