quarta-feira, 30 de março de 2011

Rosa de Hiroshima

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada
(Vinicius de Morais e Gerson Conrad)


“Celacanto provoca maremoto”.  Essa frase estranha foi pichada em muros do Rio de Janeiro nos anos 70 e se estendeu aos USA e Europa. A expressão sem sentido e misteriosa surgiu do seriado japonês National Kid, sucesso na década de 60. Dr. Sanada arquiinimigo do herói previa: “Celacanto provoca maremoto”.  De lá pra cá, me parece, a população de Celacantos vem crescendo.


Jornalista Carlos Alberto Teixeira "el pichador" 





National Kid Inimigo n. 1 do celacanto
Março de 2011 foi cingido pelo maior desastre ambiental conhecido, que assolou o minúsculo Japão com um terremoto em escala desmedida seguido de um tsunami de violência sem igual, que literalmente varreu da terra milhares de vidas e arrasou cidades inteiras. Parece que esse povo do “sol nascente” é predestinado aos  arrasos  atômicos: a primeira bomba atômica e agora um dos desastres nucleares mais sérios que temos conhecimento.


A contaminação pela radioatividade atinge as águas superficiais, subterrâneas, ar, alimentos, os animais e a população humana. E migra com ação dos ventos para outros locais longínquos.  Nossos irmãos de olhos puxados compõem uma sociedade, uma civilização, sobre a qual não conhecemos muita coisa, mas que têm cinco mil ou sei lá quantos anos a mais de existência do que nós aqui do Novo Mundo. Apesar de toda essa cultura milenar são vitimados por acidentes naturais, outros nem tanto. Lições de vida não faltam nos quatro cantos do mundo, que é redondo. Equívocos.


Não muito longe de Cuiabá, a 350 quilômetros, uma pequena cidade, conhecida por sua prosperidade neste paraíso do agronegócio que é Mato Grosso, para o deleite das multinacionais do setor, está nas manchetes da mídia. Falamos de Lucas do Rio Verde, onde uma pesquisa apoiada pela Fundação Osvaldo Cruz, detectou a utilização destabelada de defensivos agrícolas numa escala tão impressionante, que até o leite materno (putz, o leite materno!) das mães de Lucas apresenta índices de contaminação. Seria esse o preço do progresso, do desenvolvimento? Francamente... Nenhum modelo de desenvolvimento é justificável quando redunda em conseqüências como a contaminação no alimento mais puro que existe. Ou que era pra existir.



Amamentação segundo Picasso

 O médico e ex-vereador de Cuiabá, Wanderlei Pignati, é um dos responsáveis pela pesquisa, que ainda não está em condições, segundo ele, de se tornar pública, apesar de seus dados preliminares já apresentarem números alarmantes.  

Amamentação segundo Frida



Esse modelo de desenvolvimento adotado em Mato Grosso que, segundo informações (eu diria questionáveis, já que pagamos um passivo ambiental altíssimo), resulta na alcunha de Mato Grosso como um tigre asiático – tem a ver com o Japão. Fosse eu o Pignati, lembrando seus tempos de vereança, mandaria um telegrama em regime de urgência urgentíssima ao governado Silval Barbosa, lavrado nos seguintes termos: “Abre o olho companheiro”.








Choraremos pelo leite derramado?

2 comentários:

  1. Se fosse só o leite humano a estar contaminado? mas vai além a água tem altas doses de agrotóxicos, estudos demonstram que medicamentos como hormônios e antibióticos tem contaminado reservatórios de água.. Colheita do que plantamos como humanidade falida... Ergue-se a esperança...
    nesta caixa de Pandóra. Nari Gemma De La Cruz

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