quarta-feira, 11 de maio de 2011


Animais silvestres sempre estão na mídia. Serve um safári de onças no Pantanal, para estrangeiros, estimulado e oferecido, até que se prove ao contrário, por uma falsa ambientalista. Fora da mídia também participam, esses bichos, do noticiário de pé de ouvido quando a vítima é uma criança que foi picada por uma jararaca, na área urbana de Cuiabá.  Hora boa pra lembrar que o Código Florestal está em votação no Congresso Nacional. O objetivo é flexibilizar mais a conversão de áreas naturais em “áreas produtivas (?!!!!)”. Aí mora um perigo. Quando diminuímos as áreas florestadas, os animais silvestres vão buscar abrigo e alimento nas áreas urbanizadas.

O menino picado pela jararaca nos levou a conversar sobre as serpentes, mitos e simbologias construídos que acompanham esses animais. E a conversa foi rendendo. Resolvemos emplacar aqui o assunto. E você... Gosta de cobra? Tem medo de cobra? Cobra é coisa fálica, ereta na sua frente é problema. Tocar a flauta pra ver a cobra subir é outra coisa.


"Mandinga de faquir é fazer a cobrar subir"


Uma cena que não me sai memória foi quando entrei num quartinho, no Centro de Ofidiologia de Cuiabá para fazer uma reportagem. Lá estavam acondicionadas separadamente umas vinte ou mais cascavéis. Na minha entrada um coro de guizos funcionou como boas vindas. Vôte, cobra d’água. Deixei o cinegrafista lá dentro e sai “rapidim”, com a esfarrapada desculpa de ir adiantando as informações com a bióloga responsável pelo local.


"A gente nunca sabe o lugar certo, onde colocar o desejo"


É incrível como, ao longo da história da humanidade, as serpentes são associadas a coisas ruins. Nesse mundo de meu Deus, por exemplo, a cobra foi cúmplice do primeiro pecado, o pecado original, quando “tentou” a primeira mulher a desafiar as ordens do todo poderoso e colher o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Há dúvidas sobre a natureza desse pecado: a desobediência, o sexo ou foi o conhecimento? Depois disso o castigo foi imputado: à serpente, rastejar, comer a poeira e ser inimiga e do homem até o fim de seus dias. À mulher, a dor do parto. Ao homem, só com o suor de seu trabalho conseguir o seu sustento e, para isso, ter que domar a natureza inóspita.


"Tempo da serpente nossa irmã, sonho de ter uma vida sã"


E antes, bem antes de surgir a expressão “minhocas na cabeça”, a mitologia já descrevia Medusa, figura mítica impressionante e petrificante. Haja chapinha ou alisamento progressivo pra aplacar a fúria das madeixas dessa personagem do imaginário universal.  


Cobra engolindo cobra. Cobra cigarra, cobra de duas cabeças. Cobra. Língua bifurcada, silvo estranho, ausência de pálpebras. Equidise. Bicho do chão que se enleia e prepara o bote na tocaia...


"Mas a gente nunca sabe mesmo que que quer uma mulher"


Poema Paul Valery

 

   


   

Nenhum comentário:

Postar um comentário