terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O branco de Barton Fink


O branco de Barton Fink (J.Turturro)
E quando dá branco, a coisa emperra e não sai... Sai sim, com jeito sai. Nunca foi meu trabalho escrever. Nunca me vi diante do desafio do papel branco.  Esse negócio é para os profissionais da comunicação ou escritores e roteiristas renomados, ou não. Todos têm ou devem ter seus dramas ao longo do processo criativo. Viver de inspiração é não se importar com quem ganha o pão.  
Uma coisa logo aprendi. Mesmo que seja meramente por prazer, na criação, vai um bocado de suor. Dizem que com a rotina, disciplina... o exercício faz a coisa fluir. Aqui no Tyrannus a gente provoca, e o assunto, o tema, a pauta, a danada da inspiração mesmo que para umas poucas palavras, acaba surgindo. De onde, eu não sei, mas vem... Às vezes surge das coisas mais inusitadas, mas surge.


Pessoas que convivem com esse drama, muitas vezes, estão meio desligadas e aí sentem que o bicho vai pegar, que vai passar um cavalo apeado, que o trem vem que vem... É a coisa brotando na cabeça da gente. No meu caso, esse trelelé costuma acontecer quando estou debaixo do chuveiro. Acho que a água caindo na minha cabeça estimula alguma parte do meu cérebro ou algum neurônio. O Lorenzo se diz inspirado quando lava a louça. Olha a água jorrando aí novamente. Viajar, mudar de ares, trocar referências também dá uma força.

Em alguns filmes que assisti, de dramas a comédias, sofri junto com personagens e curti a paranóia de não conseguir escrever: “Mistérios e Paixões” (David Cronemberg - 1991), “Jogue mamãe do trem” (Danny DeVito - 1987) “Barton Fink” (Joel Coen – 1991), “Pollock” (Ed Harris – 2000) e “Sylvia, paixão além das palavras” (Christine Jeffs – 2003)”, são filmes sensíveis que retratam o drama de alguns artistas diante de bloqueios criativos.  


“Palavras” de Sylvia Plath

Golpes
de machado na madeira,
e os ecos!
ecos que partem
a galope.

A seiva
jorra como pranto, como
água lutando
para repor seu espelho
sobre a rocha.

Que cai e rola,
crânio brando
comido pelas ervas.
anos depois, na estrada,
encontro.

Essas palavras secas e sem rédeas,
bater de cascos incansável.
enquanto do fundo do poço, estrelas fixas
decidem uma vida.



Mas voltemos à água. Ela é um excelente condutor de energia, é um solvente universal, pode ser isso. Pois bem, quando a água do chuveiro bate em minha cabeça, parece que meus dedos se conectam diretamente com o cérebro e ganham vida. Parecem se tornar independentes e nem percebem que fazem parte de mim. Se não sento e mando ver, perco o trem: xablabau.

E o verbo se fez carne e habitou entre nós

Essa conversa me remete a uma palavra que acho interessante: “verve”. Já vi sua definição como ‘o fogo que queima o artista no momento da criação’. Depois que aprendi seu significado fiquei mais apaixonada ainda pela palavra. Só agora, creio, entendi a beleza de sorver da verve. Busquei a etimologia da palavra e achei algo interessante no Blog Babel em analogias curiosas: “Em latim se dizia verbena (planta associada à guerra e a paz), surgiram analogias sonoras: verbo, verve, verberar, verbena”.  Pra mim faltou verter, que é outra palavra linda e Werther, pois como ele, desde então já sofro de amor. FIM.


Simplemente, verbernas

O sofrimento do jovem Wether





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