sábado, 9 de julho de 2011

com licença, por favor, desculpe, muito obrigado

Existem palavras e expressões com poder mágico. Ao proferi-las rompem-se barreiras, caem resistências, abrem-se as portas e derrete-se a mais densa geleira. São muitas... generosidade, gentileza, gratidão, com licença, por favor, desculpe, muito obrigado.

Na década de 60 apareceu uma figura no Rio de Janeiro, que se tornou ícone da pregação da gentileza, nesse mundo de meu Deus. Seu nome José Datrino, ou Pai Gentileza. O Pai Gentileza tomou corpo e alma de José Datrino após um incêndio num circo em Niterói, onde morreram cerca de 500 pessoas. O empresário José Datrino (agora Pai Gentileza) largou tudo e passou a perambular pela cidade, pregando o amor, bondade e respeito ao próximo e à natureza. Aos que o chamavam de maluco, respondia: “sou maluco para te amar e louco para te salvar”. A partir de 1980 fez inscrições em verde e amarelo em 56 pilastras (aproximadamente 1,5 km) no viaduto do Caju, no Rio de Janeiro.  


Nasci em Niterói e passei a infância nessa cidade, a imagem do Pai Gentileza ficou cravada em minha memória. Ele era um daqueles tipos populares que andam pela cidade e todo mundo conhece. Mudei pra Cuiabá no início de minha adolescência e acho que nem pensava mais nele. Povoavam, então, minha cabeça de guri, outros tipos como Boloflor, Zé Peteté, Preta, Maria Louca e General Saco. Um belo dia, andando pela Prainha, que naqueles tempos nem era coberta, dou de cara com o Pai Gentileza. Fico estupefato e me introduzi na expressão fora de contexto. Era ele mesmo que, provavelmente, achando o Rio de Janeiro pequeno para sua pregação, resolveu correr trecho pelo Brasil.

A primeira vez que acessei o Youtube fiquei impressionada. Não entendi bem como funcionava. Ao perceber que as pessoas podiam inserir vídeos, filmes de sua propriedade, ou não, fiquei encantada. Acho ainda hoje o ato individual de compartilhar, colocar na roda,  de uma bondade e generosidade extrema.

Hoje mesmo, navegando pelo Youtube, fuçando, eis que retorno a um filmeco que não tem nem um minuto, que mostra um pantaneiro tocando viola de cocho e cantando. Um som bonito, coisa lírica, mas quase impossível de entender o que o ribeirinho dizia. Acho que me desacostumei dessa linguagem. A primeira vez que vi esse vídeo reparei num comentário onde o cara dizia que não entendia nada da cantoria, apesar de achar bonito. Mais de um ano depois, voltei ao link e alguma alma bondosa, generosa e acostumada com o linguajar ribeirinho traduziu a cantoria:

“Viu guri o que eu acho bonito é o papagaio da mata verde
e a inhuma do pantanal tem a alma da beira do rio
Deus que sabe a boa hora, Deus que sabe o bom lugar mas até hoje eu alembro”

Versos de uma simplicidade, daquelas que o poeta procura uma vida inteira, mas de repente nunca acha. Deu até inveja.  E deixo o link aqui pra quem quiser conferir: http://www.youtube.com/watch?v=ReIyxpMpOJw&feature=related



Nessa época que se fala tanto de Copa do Mundo, de grandes e vultuosos investimentos em infraestrutura, para  conforto e mobilidade urbana se faz necessário investir no que chamamos de amabilidade, algo que ajuda, e muito, o mundo a andar numa direção melhor.

Falamos isso de cadeira. Andamos de ônibus (carona e taxi) há um tempo. Registramos que não é exclusividade do povo que anda de ônibus a falta de amabilidade, muito pelo contrário. É raridade um gesto, uma intenção gentil, amável partir das pessoas que se locomovem na cidade, seja de ônibus ou de transporte particular.

Não sei o que acontece de manhã, mas parece que todo mundo já acorda p da vida. No final da tarde, o mau humor reina e acompanha o cansaço e a pressa de voltar pra casa.



Estudantes de escolas privadas e públicas nunca cedem lugares aos mais velhos, às grávidas e, ainda, esfregam suas mochilas na cara das pessoas que estão sentadas. Se você se exprimir através do com licença, por favor, desculpe, muito obrigado, perigas nem ter como resposta um sorriso ou uma palavra, pois agora todos andam com um headphone enfiado nas orelhas, imersos e absortos no seu mundinho mudo e surdo.

Propomos lançar uma campanha, ou melhor, lançamos aqui, informalmente essa proposta. O uso cotidiano dessas palavrinhas mágicas, na verdade era um conselho que nosso amigo e compadre Chico Amorim, dava aqueles que não tinham um trato mais refinado para se relacionar: com licença; por favor; desculpe; muito obrigado. E, muito obrigado por navegar conosco. 


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