sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Garçom + uma

Um dos mais importantes personagens coadjuvantes de nossas vidas é um daqueles profissionais sempre reivindicados quando nos mandamos pra noite. Ou pra almoçar fora. Pode ser também um happy hour, recepção ou festa. É preciso chamá-lo, pois invariavelmente é muito solicitado. E ele vem... quase sempre. Ossos do ofício. Um bom garçom é a pessoa que pode turbinar essas ocasiões sociais, tornando-as acima da expectativa. Cair nas graças de um garçom é garantia de ser bem servido.
Na década de 60, a mais famosa revista da época, O Cruzeiro, publicava charges de um personagem, que parecia ser garçom. Hoje, tenho lá minhas dúvidas. Mas sua vestimenta era terno branco e gravata borboleta. Seu nome? Amigo da Onça. Encarnava o espírito brasileiro-carioca, gozador, falastrão, paquerador.  

Mas o garçom estava rodeando as redondezas redundantes do Tyrannus.  Tava pedindo pra ser pauta. Ganhou corpo após uma conversa descontraída com um grande amigo. Ele nos contou que, praticamente, rompeu uma amizade porque seu hoje, ex-amigo, destratou um garçom, por um motivo torpe. E depois dessa pisada na bola, por várias vezes, ele rejeitou convites do cara para sair. “Você precisa dizer ao fulano que não gostou de seu comportamento, e que ele não deveria ter sido tão grosseiro com um profissional que está ali trabalhando”. Pérolas jogadas aos porcos.  

Mas, ser garçom, experimentar essa jornada pelo menos uma vez na vida, é coisa que de vez em quando me passa pela cabeça. Sei lá, é o máximo a destreza desses homens e mulheres que equilibram um monte de pratos, copos, talheres, garrafas em apenas duas mãos. Equilibrar a bandeja e deslizar como um bailarino, quase incógnito, pelas dependências do local onde trabalha. Pessoa que raramente esquece um detalhe do pedido. Às vezes acontecem os desastres e é horrível, pois paira no ar uma nuvem de constrangimento. Ser garçom é escutar meias conversas, meios segredos, meias declarações e outros cacos de conversa. É pegar toques de mãos, de pernas, pés... paisagens maravilhosas dos decotes vistos de local privilegiado (cima para baixo). Acho que gostaria de percorrer as mesas servindo as pessoas e reparando nelas.  Colocar-se no lugar das pessoas ajuda a entendê-las. E respeitá-las, porque não?!
Chaplin: Garçom sem palavras
Uma coisa que pega na vida de um garçom, com toda a certeza do mundo, é essa história de aguentar  bebum. E outros tipos como o corno, falido, contador de vantagens. Orelha de garçom não e latrina, mas deve ouvir cada m... Gente que não consegue se entender nem consigo mesmo, o que dirá com os outros. Mas o bom garçom precisa ter classe e aturar essas coisas.

Eu servi o rei da Inglaterra... assim, até eu! 
No cinema tem muitos malabarismos de garçons. Charles Chaplin, em um de seus filmes, interpretou um garçom e mostrou uma habilidade impressionante ao atravessar um salão lotado de pés de valsas, sem deixar cair a sua bandeja. No belo filme checo, “Eu servi o rei da Inglaterra”, também há cenas mirabolantes envolvendo o ambiente dos garçons, chefes de cozinha etc. Em “Um convidado bem trapalhão”, com o impagável Peter Sellers, um personagem secundário, que interpreta um garçom que toma todas, rouba a cena. Quer dizer, divide-a com Sellers, porque não é qualquer um que vai roubando a cena num elenco onde está Peter Sellers.  
O culpado é o garçom, num convidado bem...
“Seu garçom faça o favor de me trazer depressa”... “Aqui nessa mesa de bar...” Eles, volta e meia, estão em versos que frequentam as paradas de sucesso. Mesmo sem ser poliglota, duvido muito que também não sejam citados em outras línguas.   
O último que chegar ...
Aqui em Cuiabá, tem um time de garçons que marcaram história. O Léo e o Chico que começaram juntos no Money Money, depois se tornaram empresários, bem sucedidos e amigões nossos. Até farreamos com eles várias vezes.  Não freqüentamos mais a noite como antigamente.  Mas hoje nos agrada muito encontrar o Pacu, da Peixaria Popular. Garçom, competente no serviço e show de bola quando se trata de humor. Além do bom humor, o garçom também tem que saber chorar, quando o freguês pede uma choradinha na dose. Certa vez, numa mesa de bar, erramos na escolha do petisco e mandamos cancelar a mandioquinha frita. “Suspende a mandioca”, bradou o garçom lá no meio das mesas. Ficou no ar aquele duplo sentido, num tempo em que ainda não havia o viagra. E é só isso mesmo. Tá na hora de pagar a conta, porque o boteco já vai fechar. Não se esqueça de deixar a gorja, se quiser ser bem atendido na próxima.


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