segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Bem guardado

Carta secreta de JFK a jovem sueca
Juntar coisas é uma estratégia, necessidade, mania que encontramos em várias espécies de seres que coabitam nosso planeta. Uns guardam alimentos prevendo épocas de escassez, outros roubam e guardam quinquilharias pra construir ninhos aconchegantes. O ser humano é motivado a guardar, não apenas pensando na sua sobrevivência e da prole, mas por outros sentimentos. Guarda coisas e objetos que não o proveria no caso de falta de alimento ou de não ter onde viver.  Na maioria das vezes são objetos ressequidos que evocam algo que se volatizou: flores secas, papéis de balas ou chocolate, fotografias, um guardanapo que guarda uma marca deixada, um pedaço de fita, um ingresso de um show, cinema, um livro...
Em alguns momentos somos acometidos a fazer faxina na quinquilharia que se avoluma, o que não resulta em muito descarte. À medida que remexemos nesses “mimos”, a lembrança emerge e resgatamos do fundo do baú histórias que nos fazem devanear. 



Os faraós, quando morriam, levavam para suas tumbas, guardadas em labirintos secretos, em algum lugar das pirâmides, tudo que adquiriram, inclusive seus escravos.  Os sovinas, que morreram de ataques fulminantes, não levaram nada e, se tivessem um minuto para dizer onde estavam seus tesouros, não diriam, que estavam na obviedade dos colchões cheios de pulgas.  Os milionários, ao perceberem que o interesse de seus herdeiros  era orientado unicamente pelo valor monetário, criaram ou doaram às instituições seus guardados, com a responsabilidade de cuidar, manter e disponibilizar para a sociedade. 

Pirâmide de Gisé
 
José Mindlin, bibliófilo que doou 40 mil livros
E nós, simples mortais com o nosso singelo legado? ...Livros e mais livros,  gavetas cheias de  fotos , LP’s, postais, revistas, pastas e pastas com textos; uns manuscritos outros datilografados e outros digitados,  CD’s, louças, telas, desenhos. Ao partir, certamente, criaremos um transtorno para aqueles que herdarem nosso patrimônio.
Nossos guardados, que estão agregados à nossa memória, não têm valor algum para outra pessoa. Sentimentalismo puro... O que fazer com isso?



O finado Zacarias, personagem de Os Trapalhões conceituou esse hábito com muita propriedade e preconceito: “peça de museu para rico é antiguidade; para pobre é coisa véia”.  Deu na telha chafurdar nessa conversa de armazenar artefatos, objetos e toda essa coisarada que, por um suposto valor, formal ou informal, alguém guarda e, muitas vezes, vai parar num museu.

Esse papo, na verdade, não surgiu assim qualquer coisa. No domingo assistimos ao filme “Horas de verão”, que tem a ver; nesta semana, o Museu de Arte Sacra de MT sedia uma diversificada programação e, ainda; neste dia 8/11, completam 218 anos que foi aberto o Museu do Louvre, o mais visitado do mundo.  Somente em 2009 recebeu mais de 8,6 milhões de visitantes.  

Exposição no Museu de Arte Sacra - MT

"Seu" Clínio, tá lá 

Outro dia encontramos o site do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e que bela surpresa. O site está bem organizado e disponibiliza seu acervo para a sociedade.  O Museu de Imagem e Som de Cuiabá também está numa fase boa, com uma administração responsável e zelosa.

 
O embuste

Temerosos como somos, é normal duvidar da capacidade dessas instituições em receber nossos bens, tão bem guardados. Na verdade, pode acontecer sim, eventos naturais imprevisíveis como tempestades, furacões... Mas devemos crer e cobrar que acervos que estão sob a responsabilidade do Estado, sejam devidamente cuidados e mantidos. E são imperdoáveis casos de incêndios por conta de instalações elétricas precárias, de inundações por falta de manutenção de telhados, assim como outros atos/eventos que caracterizem incompetência de gestores.  Acreditamos que a doação para instituições públicas de registros e bens que interessam à sociedade é um procedimento correto.
Museu dá uma canseeeeeira.

Mas têm coisas que não interessariam, como aquele bilhete de amor. O que fazer? Uma opção é levar para o túmulo, outra é botar fogo imediatamente. Mas há a possibilidade de deixar que o segredo seja descoberto. E foda-se... tô nem aí/aqui mesmo...
Querida, onde foi mesmo que guardei meus soldadinhos de terracota?

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