quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Tango, un giro extraño

O tango é uma das paixões mundiais. Nasceu para ser dançado, mas não é nada fácil. Então, basta apenas ouvi-lo e se deliciar, que o mundo desaba em nossa alma. Parece impossível permanecer imune ao tango. Talvez, pela nossa proximidade com a pátria que projetou essa vertente musical, a Argentina, “um tango argentino me vai bem melhor que o blues”. É só um verso da música brasileira, porque, o blues também é de arrasar quarteirões. Mas hoje vamos de tango. E não por acaso. O encerramento da temporada da Orquestra de MT acontece sábado (20h) e domingo (19h.) no Cine Teatro Cuiabá.
Curtimos assistir o documentário “Tango, um giro extraño” (2004), apresentado pela TV Brasil, que dá uma sobrevoo em torno das novas gerações de músicos e bailarinos de tango. Claro que toda essa nova geração, nas entrevistas, acaba mostrando-se devota aos grandes tangueiros do passado. Para escrever este “post” evidentemente mandamos ver esse delicioso documentário, dirigido por Mercedes García Guevara.

Sobre a origem do tango... controvérsias. Quase todas já tragadas pelo queijo suíço ao qual se assemelha minha memória. Dizem que descende da habanera, lá de Havana, explicada como a primeira música de origem afro-latino-americana, levada de Cuba para os salões europeus, no século XVII. No final do século XIX o tango era dançado nos puteiros (ou prostíbulos, para os mais castos), em Buenos Aires e Montevidéu. Nessa época, o costume era que ele fosse dançado por dois dançarinos (homens), daí o fato de os pares dançarem com os rostos virados e nada de olhos nos olhos, como em outras danças. O tango estourou em Paris a partir de 1910 e isso bastou para que caísse no gosto da aristocracia platina.


A princípio era apenas com violino, flauta e violão. A partir de 1900, com a chegada de imigrantes alemães na América do Sul, trazendo na bagagem o bandoneón, o instrumento passou a ocupar lugar de destaque no tango. Ou seja, o instrumento veio de um outro bando, portanto, foi bandoneado (essa foi péssima). Mas, por falar no bandoneón, quem está em Cuiabá para tocar com a Orquestra é Carlos Corrales, instrumentista e compositor argentino, também apontado como um dos maiores pesquisadores de Astor Piazzolla que, se estivesse vivo, completaria 90 anos. Piazzolla é o principal nome do movimento conhecido como “Nuevo Tango”.  Com essa informação já dá pra imaginar qual será o repertório.
 
O "louco" Astor Piazzolla

 
Carlos Corrales

Tocarão, ainda, com a Orquestra, outros músicos importados de projeção internacional como Pablo Agri (violino), Diego Sanches (violoncelo) e Juan Pablo Navarro (contra-baixo). O concerto, além de ser uma bela oferta cultural à população cuiabana, enriquece a formação dos músicos daqui que integram a Orquestra. Não estamos falando de uma experiência musical que acontece rotineiramente nesta cidade, daí a importância de checar.
Orquestra de Mato Grosso sob a batuta de Leandro Carvalho
Juan Pablo Navarro
 

Pablo Agri



O tango é música única. Paixão, sensualidade, drama... Música que emociona e nos toca a alma. Aqui em casa associamos o tango com um pitaco de tristeza. Um certo não sei que de melancolia. No entendimento poético de Manuel Bandeira, talvez, o tango seja uma experiência sem a qual nenhum ser humano estará pronto para a partida deste mundo. Ou pode ser que poeta tenha apenas encontrado no tango uma boa desculpa para destilar o humor negro. Senão, vejamos...

Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que poderia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
-Diga trinta e três.
-Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
-Respire.
-O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
-Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
-Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
  

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