quarta-feira, 27 de abril de 2011


Jorge papeando com Ma Xi
Quando chego num aeroporto (sempre entediado), uma das primeiras coisas que faço é procurar rostos conhecidos. Encontros inesperados são comuns nesses locais. O retorno do Rio foi marcado por um encontro inusitado.

Na mesma tediosa situação, no Santos Dumont, estava o José Miguel Wisnik, músico e ensaísta, uma personalidade da cultura brasileira. E o Nei Latorraca, meio disfarçado com um bonezinho démodé. E mais. O Bernardinho, técnico da seleção brasileira masculina de vôlei. Este embarcou pra Brasília no mesmo vôo que a gente. “O que será que esse cara vai fazer em Brasília?” “Deve fazer uma palestra”, me responde a Fátima. E imediatamente apontou para um afrodescendente, fofinho, que estava perto do Wisnik. “Aquele não é o Jorge Moreno?” E era.

Ô meu amor... ainda com Ma Xi


O velho amigo, papa-peixe legítimo, embarcou conosco rumo a Brasília, onde ficou. Aproveitamos essa hora a toa para uma conversa, colocando os assuntos em dia. Jorge Bastos Moreno, ou simplesmente Moreno, foi meu vizinho nos anos 70. Morávamos atrás da Escola Técnica (hoje tem outro nome). Eu me preparava para o vestibular e ele estudava comunicação em Brasília. Nossos interesses por literatura nos aproximaram e lembro-me que Moreno era meio apaixonado por uma amiga da minha irmã, chegando ao ponto de, numa bebedeira, rasgar um retrato 3X4 dela e sorvê-lo como tiragosto, entre um gole e outro.

Como jornalista, foi catapultado para a fama após um furo. Foi o cara que descobriu e fez a primeira entrevista com o Figueiredo, último presidente militar do Brasil. Hoje Moreno é um dos jornalistas de destaque da mídia brasileira. Seus textos atraem multidões de leitores e é um dos homens fortes da Globo. Conhece e se relaciona bem com políticos e artistas vários. Enquanto conversávamos no aeroporto, recebeu um telefonema da Mariana Ximenes, que eu não sabia direito quem era. Me mostrou a foto dela e o provoquei: “A testa dela é muito grande”. Fátima me lembrou da minha própria testa... Deixa pra lá.    

E seguimos conversando fiado em torno de assuntos passados, presentes e futuros. Lembramos de seus pais, Juca e Alzira, que eu conhecia bem e estão hoje no andar de cima. Alzira fazia uma limonada suíça especial, que nos servia com pão com manteiga. Bateu aquele velho e conhecido saudosismo que sempre me acomete quando escrevinho por aqui.

Lembrei-o de que nos anos 80, quando estava internado num hospital no Rio, fui visitá-lo e ele implorou por um cigarro. Dei-lhe um, na moita. Acendeu e se espantou com a primeira tragada. Olhou para o cigarro, um Continental sem filtro. Embarcamos.


Em Brasília, na troca de aeronave, voltamos a trocar palavras e marcamos uma peixada em Cuiabá para daqui a uns quinze ou vinte dias. Ele é muito ocupado, mas não pretende romper seus laços com Cuiabá. Tomara que dê certo. Confessou-se cardíaco e eu sugeri que um pouco melancólico também. As duas coisas combinam, segundo Drummond. Gracejamos em torno de enfartes, aventuras hospitalares e seus medicamentos protoultracoronários.

Nos anos 80, lembreio-o de quando estava internado num hospital no Rio, fui visitá-lo e ele implorou por um cigarro. Dei-lhe um, na moita, acendeu-o e se espantou com a primeira tragada. Olhou para o cigarro, um continental sem filtro.

Nos despedimos enquanto ele marcava um almoço da hora com alguém pelo telefone. No Porcão, churrascaria manjada em Brasília. Acho que disse algo ou olhei-o como que censurando, pela sua condição de cardíaco...  Já descendo a escada rolante e se afastando, acenou-me dizendo: “Vou comer uma salada... Uma salada de linguiça”.




Muvuca no desembarque

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