domingo, 1 de maio de 2011


Voltar para casa é ótimo, o retorno desperta alguns dos meus sentidos: O olfato. É abrir a porta e reconhecer meu mundinho pelo cheiro!


O odor abre o nosso baú de recordações, de emoções e de memórias Esse danado ainda é capaz de detectar sentimentos e “coisas” que ainda não aconteceram... “to sentindo um cheiro no ar...“


Sou meio cachorro ou cadela nesse sentido. Estou sempre farejando para reconhecer, buscar referências e/ou associar pessoas, cidades, casas, um período de tempo, um fato com um odor bom ou ruim, mas que compõe minha memória olfativa. Por exemplo, viajo com o cheiro de massinha de modelar: lembro do meu jardim de infância; do cheiro de pão: lembro-me da minha avó assando o pão com torresmo; de maçãs: as mudanças na minha infância; o óleo de peroba: de limpeza; do bengué: ginásio de esportes, no tempo em que jogava basquete; da naftalina: herbário da UFMT; do carbureto: das cavernas na Serra das Araras; dentista, médico, maresia (que delícia!), museus; maracujá, pra mim tem cheiro de cecê.


O cheiro do papaya verde

Elas não falam mas exalam o perfume que roubam...



São Paulo tem cheiro de fumaça. Cuiabá cheira queimada. Travesseiro envelhece e vai ficando com cheiro de cabeça (podre!!!!). Estrada sem asfalto me lembra cheiro de assa-peixe, hortelã do mato... A chegada no Rio de Janeiro, se for pela Avenida Brasil é de arrasar, mistura de esgoto com fumaça de fábrica, coisa meio indecifrável. Madame tem cheiro de maquiagem e perfume barato (mesmo que não seja); criança suada: de ferrugem ou cachorro molhado; estrume seco é melhor que estrume fresco, chulé de adolescente, boca quando acorda, roupa suja, barata, chuva, nenê, de milho cozido... Cocô de gato é o pior de todos.

Morrinha de cachorro é dose

Maria fedida: cheiro desproporcional ao tamanho



Sinto o cheiro das pessoas, o que me orienta: se não gosto, tô fora! Engraçado é que nem o perfume disfarça. Tanto é verdade que um perfume muda de pessoa pra pessoa: química.


O olfato é importante na qualidade de vida e na sobrevivência. É o sentido mais primitivo e também o menos conhecido pela ciência. Em 2004, o Prêmio Nobel de Medicina foi concedido a Linda Buck e Richard Axel, que identificaram uma família de cerca de 1000 genes cada um deles correspondente a um receptor olfativo. Podemos identificar mais de 400 mil odores. Quando um determinado cheiro entre na cavidade nasal ele ativa receptores que geram a produção de sinais elétricos, que são transmitidos para o bulbo olfativo e daí para diferentes regiões do cérebro. Esses sinais são transmitidos para o sistema límbico, região do cérebro considerada a mais primitiva, e que é responsável pelo desencadeamento de emoções e memórias.


Além das lembranças e emoções que o odor causa, ele tem associações com paladar. Hummm, o cheiro da cebola fritando. Pesquisas comprovam que as mulheres têm olfato mais privilegiado e que são orientadores na escolha dos parceiros.


A literatura já tem um problema: não sabe como capturá-lo. O mistério é o problema com a linguagem, o vocabulário do olfato é formado de outros sentidos, utilizando-se de metáforas e comparações.

Cyrano de Bergerac

Genival lacerda e o "Fio Cheroso"



No Brasil, dar um cheiro, dependendo da região, tem a ver com carinho. “Me dá um cheiro... Um cheirinho no cangote”. No nosso mundinho regional, cheiro tem significado vário. Primeiro, não é cheiro, é tchêro. Associado comumente ao aparelho recreativo feminino. E temos a velha expressão bobó chera chera. Precisa explicar o que significa?


Dizem que é piada, mas acredito que aconteceu de verdade. Coisas do olfato e confusões que pode provocar. Um cego, certa vez, andando por um mercado, deu uma cabeçada numa peça de bacalhau dependurada, de onde saiu a seguinte exclamação: “Nossa, que mulher alta!”.







“(...) e seria cruel demais para mim
lembrar agora que cheiro era esse,
aquele , bem na curva onde o pescoço
se transforma em ombro, um lugar onde
o cheiro de nenhuma pessoa
é igual ao cheiro de outra pessoa.”
(Caio Fernando de Abreu)








Um comentário:

  1. tran anh hung tá com filme novo, loro. http://www.imdb.com/title/tt1270842/ do livro de murakami. já baixei. legendas em inglês. quer ver?

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