sábado, 5 de novembro de 2011

Nós, os vivos

“Vocês, os vivos”, que acompanham este blog, merecem curtir mais um memorável filme que mexeu com nossa sensibilidade e bagunçou nossas cabeças. É a arte que faz a gente balançar na estrutura existencial, que deita e rola como experiência inovadora, atiça o raciocínio e facilita bastante a tarefa de escrever sobre ela.

Para quem insiste em entender em todos os sentidos o que um cineasta quer dizer num filme, pode se incomodar com esta produção do sueco Roy Andersson, de 2007. O lance é sentar-se e deixar rolar a história e gastar as retinas. Depois, vê como é que fica. Você pode estar desconfiado de que falamos de um desses filmes “cabeça”, mas não é nada disso. Só se for cabeça de vento.
O diretor apresenta uma sucessão de pequenos acontecimentos cotidianos que envolvem inúmeros personagens, nas mais diferentes situações. Tão engraçado, quanto dramático, o filme vai nos pegando, quase como um hipnotismo. A questão humana com todas as suas fraquezas, picuinhas e contradições é explorada com maestria e a fotografia ultra-elaborada é show.



Cada cena parece uma obra pictórica, conforme deve ser o bom cinema. As cores esmaecidas combinam com o vazio existencial que aflora em cada personagem. A montagem do filme se apresenta perfeita, ditando o clima e o ritmo da história narrada. Os detalhes de cada cenário ganham significados especiais, como portas e janelas, que estão abertas e se fecham.




Mas não parece a intenção de Andersson querer provocar ou estimular a inteligência do espectador. Realizou um filme autoral e atemporal. Os personagens parecem cientes da própria impotência de viver plenamente. Eles se mostram incapazes e frágeis diante de seus problemas. Na verdade, o filme, com o sugestivo título, parece dizer que as personagens só estão vivas até certo ponto, e a câmera de Andersson deixa pistas nesse sentido o tempo todo. Cabe aqui lembrar a frase do genial Fellini: Sobreviver é fácil, difícil é viver!





Um advogado chorão; uma mulher que dá o fora em definitivo no parceiro, mas avisa que poderá passar lá mais tarde; o casal que transa, enquanto a o homem expõe seus problemas financeiros; o pai que conversa pelo telefone com o filho e diz-lhe que nunca mais lhe dará dinheiro e depois pergunta quanto ele quer... Se valendo dessas situações/personagens, Roy Andersson, tece a sua crítica ácida contra a falível condição humana. Nos diverte, emociona e ensina!




“Minha estética atual é inspirada por pinturas expressionistas e simbolistas, com o fundo representado com tanto cuidado como o primeiro plano. Ela alimenta minha imaginação e uso essas imagens para falar sobre a condição humana”, falou e disse Roy Andersson. 

Roy Andersson
 

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