sábado, 4 de fevereiro de 2012

Reis da cocada

Quem manda aqui sou eu e não tem pra ninguém. Volta e meia, nas mais diferentes situações sociais, alguém assume essa posição de chefia e a partir dai tudo passa por essa pessoa. A forma de escolha geralmente parte de dois princípios básicos: 1) Ele(a) tem algo que nos interessa; 2) Auto indicação, o que implica em preguiça ou por não querer bate-boca da parte dos demais. Nas duas formas há consequências, o que na maioria das vezes é um caos, um saco... aguentar esses chatos é dose.

Na verdade, não é uma liderança, porque um líder é alguém que conquista essa posição. E tem seguidores espontâneos. Já um "dono da bola ou dono do pedaço", aquele que se acha, não tem seguidores. Tem uma cambada de puxa sacos, gente que simplesmente tá por ali pra usufruir das benesses e quando necessário vai procurar outro falso líder pra continuar na maciota. 

Na sala de casa, em frente a televisão, quem tá com tudo, tá com o controle remoto na mão. É esse quem define o canal, o programa. O rei do zapping. Quando você está começando a gostar de algo, o outro(a) muda de canal abruptamente. O remédio é ir pra outra TV, que provavelmente é mais vagabunda do que a da sala. Ou ficar de butuca, torcendo pra que o dono do controle saia momentaneamente e aí você se apodera do controle, nos dois sentidos, rapidamente. Aí você assume o comando e foda-se a vontade dos outros.



Nos tempos das peladas nos campinhos de futebol, pelo menos um cara era fundamental pra que rolasse o jogo. Quem? O dono da bola. E o dono da bola, quase sempre, era um cabeça de bagre. Ruim de bola, embora fosse o dono dela. Era um sujeito que poderia jogar, no máximo, como goleiro. Mas era preciso aceitar ele como jogador na linha e até fingir que ele não era tão ruim assim. Vai que ele se chateasse ou perdesse a paciência e fosse embora, levando consigo a pelota? Final do jogo.

Depois de uma boa pelada dessas de final de semana, nada como um churrasco. Uma reunião social com um grupo familiar ou de amigos, onde se vai assar uma carne. Não é sempre, mas, muitas vezes, aparece aquela pessoa, normalmente um homem, que assume a função de churrasqueiro. É quem acende o fogo, prepara a carne e depois a serve. Fica do lado da churrasqueira comandando a coisa na base da cervejota que pede pra lhe servir a toda hora. Costuma usar um pano de prato, que é jogado nas costas peludas e suadas, pra limpar o suor, a boca ensebada, a faca... Eca!!!! Coisa mais nojenta. E ainda gosta de esnobar seus conhecimentos, sobre fraudinha, picanha, alcatra etc, mesmo que, na verdade, nada saiba sobre isso. É tudo fruto da mardita, da cerveja, da manguaça que já lhe subiu à cabeça.  



Na hora de servir o churrasco, é uma moagem lascada. Quer fazer gracinhas, quer que ouçam suas piadas e comentários ridículos. E a carne esfriando... claro, que aproveita pra privilegiar as mulheres bonitas. Churrasqueiro desse tipo, pra falar diretamente, é o verdadeiro filho da puta. E nem vou mais escrever sobre isso, porque já tô até ficando com raiva.


Agora, preste atenção. Se você está numa festa ou reunião onde tem um povo... digamos assim, barra pesada, repare se tem alguma pessoa muito solicitada ou alvo de inúmeras gentilezas. E essa pessoa anda pra lá e pra cá toda metida, sempre com alguns a segui-la, desmanchando-se em favores. Pode crer que aí tem, mano. Essa pessoa, podes crer, é quem tá no comando, é o rei ou rainha da cocada preta ou branca, e tá fazendo a cabeça da galera. Se você for doidão, chegue junto e mostre a sua cordialidade para com ela, seja criativo e generoso nas gracinhas, porque quem sabe você cairá nas graças e pode se dar bem. Agora, se você for careta, talvez nem perceba a muvuca. Mas, se ver que tem algo estranho e esquisito, fique na sua, porque não tem serventia puxar o saco de alguém gratuitamente.

"Festa estranha, com gente esquista"

Essas situações revelam alguns casos de "donos do pedaço". É tudo circunstancial, como já foi dito. Pensando bem, como essas ocasiões são passageiras, até que dá pra aguentar. Vai passar. E vamos combinar o seguinte. Entre todos esses "donos" aqui citados e não citados como o irmão da gostosa, o chefe, o político de carteirinha e muitos outros, não existe ninguém ou nenhuma pessoa mais chata do que a que pensa que é e que quer ser a qualquer custo, sem o menor simancol, a "dona da verdade". Aquela pessoa que sabe tudo, ou quase tudo, mas não é capaz de perceber a dimensão da sua chatice.
É triste, mas é verdade. Em qualquer uma das situações, como diria Nelson Rodrigues: quando não se é canalha na véspera, é canalha no dia seguinte.    




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