sábado, 11 de fevereiro de 2012

Vai entender...

A palavra do Rosa
Pegar um poema e esmiuçá-lo sob a luz científica dos conhecimentos em torno da literatura. Longe de atrever nos a fazer algo assim. Não faz parte de nossas lides. Mas quando há oportunidade de assistir uma exposição desse tipo, topamos. Um leitor voraz precisa dessas vivências. Na pior das hipóteses, isso vai incrementar seu poder seletivo e desenvolver a capacidade interpretativa.

O ensaio do coral SesCanta hoje não foi para cantar... foi para debulhar uma poesia do Caetano musicada por Milton, inspirada em conto de Guimarães Rosa: A Terceira Margem do Rio. Nosso companheiro de coro, Robertinho Boaventura, tenor dedicado e cantor do Chorinho, além de doutor professor da UFMT, foi o responsável pela façanha. A música está em nosso novo repertório e tá dando trabalho pras quase quarenta vozes que somos se encaixarem. Letra porreta, uma dessas boas viagens do Caetano. Disse uma das boas, porque respeito quem não gosta desse baiano, meu ídolo de várias décadas.

Bem aventurados os eleitos
 Não seria muito delicado reportar a fala do Robertinho ipsis literis. Nada a ver com o espírito da coisa que é este blog. Estender a conversa sobre literatura mais um pouco e de vez em quando esquecer que a proposta era essa e retornar a algumas informações que o tenor doutor levantou. Porque aqui é assim. A gente esquece. Há dúvidas e teorias a respeito de porque um poeta, romancista, escritor, ou sei lá o que; escreve. O hábito de escrever, até poucos anos, era associado às inquietações que os artífices das letras sofrem. Mas faz tempo que não ouço ninguém mais dizer isso. Parece que é démodé.

Cena de "A terceira margem" (Nelson P. dos Santos)

Talvez não interesse mais a motivação que leva o escritor a escrever. Ou os jornalistas se tocaram e não fazem mais aquela perguntinha cretina: Como é o seu processo criativo? Essa resposta que muitos leitores querem saber nunca deve ser feita assim, na lata. É preciso ir cercando o artista com outras perguntas e depois sapecar essa. Se não o cara vai mesmo torcer o nariz.


Bituca e Cae

Escrever nestes tempos em que o audiovisual predomina cheira a problema. Meio na contramão. Mas que tem muita gente escrevendo, isso tem. E se tem gente que escreve, tem gente que lê. Como a literatura entra pela cabeça nas pessoas e os efeitos que ela causa são outros quinhentos. Outros mistérios. Às vezes fico sabendo que interpretações engraçadas e absurdas para passagens de livros e filmes. Que nó as artes dão nas cabeças dos outros.


"A arte é a ciência do belo" (Paul Valéry)
 Entender tudo, saber as razões disso e daquilo que alguém escreveu, o que o artista quis dizer etc... Não me amarro muito nisso. Essa questão é secundária na minha cachola. Gosto mesmo é da estética que o criador imprime em suas palavras, suas imagens, pinceladas, notas musicais, movimentos o escambau. Não se trata do tal do diletantismo, porque esse subterfúgio não é tão difícil de se perceber numa obra de arte. Como diria o grande João Sebastião da Costa: “Porque existem os artistas, mas têm também os mandioqueiros”... Vai saber o que ele quis dizer com mandioqueiros.

Então é isso. Aqui em casa sofremos desse consumismo atroz em relação às artes. Essas coisas humanas que são inventadas para mexer conosco, emocionar. Para nos fazer balançar diante das vicissitudes, porque se assim não fosse, a vida seria demais de sem graça.



Stop
A vida parou
Ou foi o automóvel?

(Drummond)

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