sexta-feira, 2 de março de 2012

O entregador de rapadura


"Engenho novo estremeceu, garapa é meu,
bagaço é seu"
Eu gosto, tu gostas... nós gostamos. Não precisa ser, necessariamente, com farinha. É doce, mas não é mole. E bota doce nisso. Por isso um copo d’água sempre é muito bem vindo. Energética... verdade! Fonte de vida das crianças nordestinas, combatendo a anemia. É coisa do bem, cremos. Palavra forte que pode ser usada pra uma série de expressões. E aí, pensamos: de onde foi que saiu essa história de “entregar a rapadura”. É muito difícil que você nunca tenha ouvido isso.

Os cearenses evocam para si a chancela dessa expressão idiomática, se é que é correto assim classificar. E ninguém pode contestar que esse povo lá do Nordeste entende mesmo de rapadura. Mas ela, a rapa..., é presente na maioria dos estados brasileiros. E me perguntam: pô, mas não tem livro, música ou sei lá o que com rapadura no meio. Olha a rapa, olha a rapaziada. Escrever. Ajuntar algumas palavras que pudessem, ao final, levar o título de “entregador de rapadura”.


Engenho de cana de açúcar (Debret)



O significado dessas duas palavras juntas é um lugar comum entre brasileiros. Entregar o jogo, amolecer, pedir arrego... “Foiar”, diriam os cuiabanos mais antigos. Mas, também se aplica de forma mais drástica. Parece que lá nas Minas Gerais entregar a rapadura é o mesmo que bater as botas.




Locutores esportivos gostam de mencionar essas palavras. No futebol, se tem uma coisa ruim é o seu time ter zagueiros que gostam de entregar a rapadura. Pior do que isso, é se o goleiro também for chegado no hábito. Deus me livre. Como torcedor do Fluminense tenho sofrido muito com essa entregação. Não gosto nem de pensar...

Entreguei só duas rapaduras

De massa, simples, de goiaba, caju, banana. Lá em Poconé deviam de inventar, se é que já não existe, a rapadura de bocaiúva. Aí é só arrumar o entregador. Elas podem ser duras que nem pedra, ou mais amolecidas, como a rapadurinha de leite. E têm também aquelas que são grudentas e um perigo para obturações, blocos e pivôs. Um problema para os dentes sempre, porque também são docinhas.




Mas, a rapadurinha de leite remete aos meus anos de infância. Eu adorava. Naqueles tempos era como o achocolatado é pras crianças hoje em dia. Conheço um rapaz que, quando tinha seus seis, cinco anos, dizia que as coisas que ele mais gostava no mundo eram seu pai e sua mãe. Em segundo lugar, o todinho. E só depois vinham sua irmã, o cachorro e o gato.

Tem um site chamado Cinema com Rapadura. Vez ou outra vamos lá dar uma sapeada, mas, em matéria de cinema, estamos muito mais pra omelete, do que pra rapadura.  Ah, e por falar nesse tal de cinema, tá na hora de fechar o barraco de hoje. Nossa programação pra logo mais vai de “Poesia”, um elogiado filme japonês.


pop arte
rapadurinha de leite.
                   quadrada,
marrom clarinho ou escuro,
depende do ponto.
embrulhada em papel manteiga.
                     sumiu de minha vida
assim como esses amores
mal resolvidos
que deixam a gente pra trás,
enquanto os anos despencam
em nosso lombo.
rapadurinha de leite,
          volta por favor.
já te fiz este poema
e prometo tornar-te arte visual.
rapadurinha de leite,
objeto kitsch
na minha imaginação
             ...
eu te amo!
(L.F.)

2 comentários:

  1. amei o poeminha da rapadura.Mandei para meu doce namorado.... beijos para vcs.Gilda balbino

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  2. valeu gilda, gratos pelo comentário. que bom que você gostou do poeminha. consuma sem moderação, o poema, não a rapadurinha de leite.
    bjs tyrannus!

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