segunda-feira, 20 de junho de 2011


“Goiaba na laranjeira não dá peixe frito sem flor”. Vá entender... É um ditado cuiabano que não quer dizer coisa alguma. Dá o que pensar e só por isso já vale.

A gente ouve, lê, fala e constata as mudanças que ocorrem na nossa língua. Expusemos isso outro dia, em relação ao livro adotado pelo MEC. A incorporação e adoção desmesurada de expressões estrangeiras... É uma boa? O que pode resultar disso? A língua é um patrimônio cultural. Aprendemos que uma forma de se firmar enquanto invasor ou colonizador é incorporar seu idioma na cultura do colonizado. A opressão proíbe a prática e o ensino do idioma original, subjugando toda uma população. Dizem por aí que a língua é algo vivo. Temos dúvidas em relação a nossa estar tão viva assim. Pode estar, mas parece não ter muita sagacidade.

Cada dia é uma expressão nova. As palavras técnicas, principalmente as da tecnologia da informática, são adotadas quase que instantaneamente, sem constrangimento, porque o mundo se comunica assim: net, notebook, mouse, pendrive, datashow e assim por diante.  A gente já convive faz horas com slides, flipshart, happy hour, night, diet, light e saímos correndo porque tal loja está em fazendo um  sale da coleção de outono e  outra inaugurou uma outlet.

Tempos atrás era fácil encontrar escrito nas paredes dos armazéns, do Brasil e nos bolixos cuiabanos, frases “vendas a atacado e a varejo”. Demorei a entender essa expressão, tão comum no comércio, mas complicada para o entendimento de criança. Imaginava o vendedor atacado, atacando os clientes, ou “tacando” as coisas para fora da loja. Varejo, imaginava moscas varejeiras, muitas... voando, zunindo buscando um lugarzinho pra assentar. Depois de um tempo soube que o atacado vende em quantidade, geralmente para revender a varejo. Reconheço hoje que o “Atacadão” ajudou-me a ter clareza sobre esse conceito.



Hoje em dia, pra se vender, não em quantidade, mas para um monte de gente, adotou-se o modelo americano dos shopping centers. Antigamente era galeria.  As empresas que querem vender em quantidade adotam termos chiques e que causam impacto, como magazines, store e pret-a-porter.





Isso acontece em todo o mundo? É tão normal assim? Não sei não. O Paraguai, por exemplo, nas suas escolas públicas ensina o Espanhol e o Guarani para as crianças. Os mexicanos, como os franceses, são resistentes em incorporar expressões americanas. Os países de língua espanhola conseguiram que os teclados de computadores tivessem a tecla ñ.




Aqui no nosso dia a dia vamos nos comunicando naturalmente com essas palavras e expressões importadas. Quer ver?  Aos domingos, dias sempre chatos, assistimos ao “Manhattan Conection”, programa de TV com jornalistas bem informados e inteligentes. Direto de Nova York, porque não é correto escrever Nova Iorque, segundo regras jornalísticas.

Outra... telefonei pra uma TV e uma pessoa querida atendeu. Reconheci a voz e arrisquei um “trote”, só que do outro lado também reconheceram minha voz, que favoreceu um contra ataque, demais de sagaz. Eu disse: “Aqui é o Nezinho do Jardim Vitória... é que caiu um poste aqui perto de casa...”. Fui interrompido bruscamente: “Então, muda pro Alphaville, que lá não cai poste”.


Encerramos este post com Ibrahim Sued, pioneiro do colunismo social brasileiro,: “Sorry periferia”, “Ademã que eu vou em frente”.

Venha provar meu brunch
Saiba que eu tenho approach
Na hora do lunch
Eu ando de ferryboat
(Samba do Approach, Zeca Baleiro)






Um comentário:

  1. Recebemos o comentário abaixo do Claudio Gomes, primo do lorenzo. Ele não conseguiu postar, estamos dando uma forcinha.

    Salve Lorenzo e Fatima,

    Belíssimo artigo que fala de um assunto tão importante: a valorização da cultura brasileira.

    A manifestação mais frequente e ignorada de uma cultura é a língua. Todos os dias a usamos mas raramente reconhecemos o poder que ela possui.

    Fui começar a ler sobre história do Brasil e me involver com a nossa riquíssima literatura quando senti saudade da nossa comida, música e outros aspectos da nossa cultura, por estar morando fora do Brasil. Foi através da literatura que encontrei aconchego e solitude, re-encontrando e compreendendo a minha nova identidade - parte brasileira, parte australiana.

    Aqui na Austrália, nosso "sotaque" brasileiro hipnotiza uma grande parte dos alunos a quem ensino dança. Existe um charme no nosso jeito de falar-cantando que atrae e relaxa as pessoas. O Australiano simplesmente adora ouvir a gente falar.

    Morei no Brasil por 34 anos e só comecei a me dar conta do quanto a cultura brasileira é rica quando saí do Brasil há 9 anos atrás. Hoje arrependo-me de nunca ter aberto sequer um livro de Jorge Amado, de quem minha mãe possui a coleção completa.

    Nos meus dias de Brasil eu também queria ser IN, me vestir de Dark ouvir Rock n roll, curtir uma night e almejar morar num Loft em New York.

    Hoje sinto saudade do pastel e do pão de queijo, das letras das músicas do Chico Buarque e do anacronismo parnasiano do nosso hino nacional.

    Como diz o ditato popular brasileiro...

    "A galinha do vizinho é sempre mais gorda do que a nossa."

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