domingo, 22 de abril de 2012

Dobradinha com Gabriel

RU- UFMT: Muita coisa rolou aqui  
Ah, se aquelas paredes falassem. Disse certo o poeta: “segredo é pra quatro paredes”. Lá pelos anos 70 frequentávamos o restaurante universitário da UFMT, quando ele começou a funcionar, ali pertinho da piscina e do Museu Rondon.  Os anos, quando vão ficando pra trás, muita coisa deles cai no esquecimento. Outras não. Basta uma palavrinha, uma conversinha, que vai se puxando a memória que ela vai vindo.  Essa história do tal restaurante que inaugurou o sistema bandejão por estas bandas ressurgiu em nossas cabeças por causa de uma crônica do blogueiro Gabriel Neves, ex-reitor da UF e amigo querido.


De reitor a blogueiro

Não sabemos se o primeiro administrador foi mesmo o Walter, um boliviano, mas é muito provável que sim. O sujeito dava toda a pinta de entender de bar, e não temos ideia de como rolou essa concessão.  Bom , naqueles tempos o que tinha  era o tal do aluno “combênio”,  vindos das bandas dos Andes. Talvez estivesse na moda sul-americanos na UFMT. Além dos estudantes combênio, havia muitos goianos e campo-grandenses...

Mas o restaurante do Walter tinha uma administração familiar. A mulher do Walter tocava a cozinha, e um casal de filhos adolescentes atendia de forma não muito educada. Depois surgiu um garçom que logo foi apelidado de 2001, por causa do sorriso falho nos dentes superiores.
“Warter, sarta uma sartenha”. Parece que ainda ouvimos a voz esganiçada da mulher do Walter. Era uma bagunça organizada. E, a presença de nuestros hermanos também estava na música que rolava: muita Mercedes Sosa e Violeta Parra.




Merces Sosa e O apanhador...
fizeram a cabeça da moçada
Alguns fatos rocambolescos marcaram pra valer. Certa vez a mulher do Walter socorreu um dos universitários com um remedinho: “Só tem um problema... depois vai peidar sem quantia”, avisou, enquanto o almoço rolava solto. O Walter, conversador que era, revelou, num bom portunhol, que tinha um sonho: “abrir uma zona com mujeres que hacen de tudo”.  

Naqueles anos esperávamos o final ou início do mês, sei lá, pelo “crédito educativo”. E torrávamos boa parte dele em cervejadas no RU. Sim, as bebidas eram permitidas no RU.  Esclarecemos aos incautos que o crédito educativo foi pago, depois de formados, e que foi uma boa aplicação. As conversas de bar foram fundamentais na consolidação de nossa educação e cultura. E o bar do Walter ou o RU era o nosso point.  De dia pra matar aula, jogar bozó. No final da tarde curtir os ensaios da banda.


Quando os gatos se tornavam pardos, o tempo era reservado para a integração e engrandecimento da esquadrilha da fumaça, cujo QG era baseado nesse local. As decolagens e aterrissagens  lá pelos lados da piscina e da arquibancada, em vários voos. Era um tal de Bode, Magal, Chico B, Lua, Carumba, Castro Alves ou José Bonifácio, Romeu, Babão, Salú, Bugrão, Celso Shampoo, Machadinho, Sombra e mais um bando que aumentava a cada dia (se hoje perguntar se fumavam alguns dirão que fumavam, mas não tragavam). Essa mesma turma frequentava as vernissages que Aline Figueiredo organizava e também o Cine Clube Coxiponés que, aliás, foi gerado por iniciativa de algumas cabeças dessa turma. 


Quem não tinha óculos escuros...


O pessoal da esquadrilha da fumaça temia os "guardinhas" da UFMT. Esses guardinhas, bem cuiabanos, usavam calças pretas e camisas brancas e ficavam “bisoiando o movimento” da tchurma. Ouvimos falar que um famoso comendador de Cuiabá, trabalhou como guarda da universidade.  O pavor maior eram os PF’s (nada a ver com prato feito, polícia federal mesmo). Muitos eram infiltrados e outros eram de fato, estudantes. Tinha uma tal de uma Brasília branca, sem placa, que onde ela estivesse, tava sujo. A casa caía. Quanta nóia.

UFMT anos 70
E foi nesse espaço democrático da intelectualidade odara da universidade que aconteceu o primeiro ato de desagravo. O Magal mandou seu bandeijão pro chão, manifestando sua insatisfação com a comida oferecida.  A discussão foi parar no gabinete do reitor. Não sabemos o que se sucedeu... Aos poucos, a esquadrilha da fumaça migrou para o bar do japonês, que ficava bem próximo. Os voos no campus foram rareando, até que findaram de vez, quando uma grade foi instalada, um fosso, demarcando espaço e domínio. Foi o início do fim da nossa inocência e do nosso espaço privilegiado...  Outros rumos foram tomados. Vida que segue.

Nenhum comentário:

Postar um comentário