quarta-feira, 6 de junho de 2012

Recoisificar


O Coisa
Palavrinhas de grande valia são “coisa e negócio”. Ambas têm origem no latim: causa e negotiu. São substantivos: a primeira é feminina (a coisa) e a segunda, masculina (o negócio). Elas são tão usadas, que vão do substantivo para adjetivo, até a forma verbal, na maior! Quem as usa com propriedade consegue dizer uma frase inteira, basicamente, com uma delas e suas permissivas variantes: “vou coisar uma coisa” ou “vou negociar um negócio”. E a quem é dirigida essa frase, pode crer que entende a mensagem todinha. Que coisa!

-Benzinho, vem cá. Vou mostrar um negócio!
-É mesmo, cadê? Credo, que coisa é essa?
-Ué, vai dizer que nunca viu uma coisa desta?
- Ver, bem que já vi, mas assim... coisada, não!  




A amplidão dos sentidos da palavra coisa é tão grande, que pode-se dizer tranquilamente que é impossível pra qualquer um passar um dia inteiro sem se utilizar da “coisa”. Coisa palavra, pelo menos.  E não é pra menos. Coisa, segundo o Dicionário Michaeles, tem 15 significados: 1) aquilo que existe ou pode existir; 2) aquilo em que se pensa; 3) acontecimento, caso, circunstância, condição, estado, fato, negócio; 4) fato, realidade; 5) conjunto do que existe; 6) assunto, matéria ou objeto de que se trata; 7) essência, substância, fundo; 8) negócios,  relações; 9) ato, empreendimento; 10) negócio; 11) causa, motivo; 12) mistério; 13) ‘gramática’, termo por oposição a pessoa (ah, bom); 14) ‘direito’, tudo aquilo que, com existência corpórea ou concebível pela inteligência, pode ser utilizado pelo homem e constituir objeto de direito; 15) órgãos sexuais.

"Coisa, coisa cristalina, mata meu desejo, mata minha sede"

Já “negócio”, outra palavra que era pra estar com a corda toda aqui hoje. Perdeu de capote pra “coisa”. Olha, “negócio”, não é lá essas coisas. Pra começar, tem menos significados: 1) comércio, tráfico, transação comercial, 2) contrato, ajuste, 3) qualquer casa comercial, 4) empresa, 5) questão pendente, 6) coisa, objeto, 7) qualquer coisa cujo nome não ocorre no momento.

"Não quero mais esse negócio de você longe de mim"
Não sabemos dizer se a coisa e o negócio são palavras homonímicas ou polissêmicas, com exatidão. Aceitamos contribuições nesse negócio de coisa, ou vice versa.

"Mexe qualquer coisa dentro doida"

"Coisas que a gente se esquece de dizer"
Dizemos tantas coisas numa simples conversa que passa a impressão que não sabemos absolutamente nada do que estamos falando. Nem sempre é mentira. Geralmente sabemos a essência e nada dos pormenores e detalhes da informação. E quando é verdade que nada sabemos, dá pra engambelar a torcida fazendo-se de entendido. “É uma coisa”, os dados foram lançados. É nossa opinião incontestável. E quando há controvérsias, equalizamos a contenda, solenemente: “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”.


Quem escreveu essa coisa, pode me dizer? – Claro, que não! É aí que tá a alma do nosso negócio!

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