terça-feira, 6 de setembro de 2011

O Segredo do Grão

O cinema que nos transporta para outras realidades e nos faz conhecer pontos de vistas diferenciados. Um diretor de cinema é um contador de histórias. Descobre e apresenta imagens que pontuam um roteiro e enredam a trama. Quanto mais envolvidos ficamos com o que vemos, melhor. Cinema é a maior viagem. É como uma vida paralela que nos surge enquanto o filme vai passando. “O Segredo do Grão” (2007) foi a grande atração no último final de semana, aqui em casa.
 A história é de um imigrante árabe, batalhando pela vida e em busca do seu sonho, em alguma cidade litorânea francesa. Separado e já envolvido com outra mulher, com os seus 61 anos, Slimane Beiji, enfrenta com galhardia e dignidade seus problemas pessoais, que envolvem complicadas relações com seus inúmeros entes queridos. O diretor Abdel Kechiche, neste seu terceiro filme, foi longe demais, no bom sentido.

Kechiche é tunisiano. Seu filme dá mostras de que ele conhece bem a barra que é fazer parte de uma população marginalizada, num grande país europeu como a França. E coloca isso em sua criação de forma realista. Com um elenco praticamente desconhecido e formado por atores de ascendência árabe, o diretor, que também escreveu o roteiro, compõe um filme de rara qualidade que há de entreter qualquer pessoa que tenha um mínimo de sensibilidade.

A força da culinária árabe, aqui com o tradicional cuscuz marroquino, é um personagem dentro da história. Só não se sobressai em demasia, porque todo o elenco está muito bem, embora seja impossível não destacar as atuações de  Habib Boufares  (Beiji) e Hafsia Herzi (Rym, a enteada de Beiji).  

Não são poucas as cenas em que acontecem reuniões familiares ou entre amigos. E tudo com muita falação e degustação. O que a gente percebe é que os atores estão comendo de verdade e que os assuntos das conversações, os mais variados possíveis, são abordados com uma naturalidade impressionante. E a câmera passeia livremente entre os rostos, exagerando em closes e ângulos diferenciados, mas sem nunca seguir o diálogo ao pé da letra. Essa situação cria uma não sincronia interessante e incomum, passando também muita verossimilhança.

Algumas passagens dão vontade no espectador de entrar no filme, só pra saborear o tal do cuscuz. E, porque não, opinar, dar pitacos e participar das discussões entre os personagens. O egoísmo, as picuinhas e todas as fraquezas humanas também são servidas ao espectador.  Não há como não torcer para que Beiji, sempre apoiado pela bela Rym, materialize o seu sonho, o de montar um restaurante de comida árabe dentro de um velho barco.  
   
Em 2008, no famoso festival de cinema francês que privilegia principalmente as produções européias, "O Segredo do grão” levou o César de melhor filme, desbancando “Piaf – Um hino ao amor”, e ainda os honrosos prêmios de roteiro e atriz estreante, para a jovem Hafsia Herzi.


PS: Um grande filme precisa ter um final arrebatador. Assim é neste. Dois acontecimentos dramáticos são encaminhados nos últimos minutos desta obra. Contar o final de um filme não é nenhum exemplo de simpatia. Muita gente não gosta de saber. Pedimos licença (não vamos contar) para dar só uma pista: o cineasta abusou da generosidade... nem toda história quando acaba! 

Um comentário:

  1. yes, é muito bom mesmo esse filme, tyrannus.
    meu pseudo-toc diz que assisti dia 05/12/08.
    enfim.
    vi um outro do kechiche que também é bem bacana.
    la faute à voltaire.
    http://www.youtube.com/watch?v=863wrDZaNG8
    nome que, cinco anos mais tarde, a filha do grande costa-gavras "emprestou/homenageou/não-sei" para seu la faute à fidel!

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