quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Questão de imagem

Alguns filmes vão nos pegando devagarinho. À medida que os minutos vão passando, sem nem perceber, já estamos gostando. Com “Questão de Imagem”, filme francês de 2004, foi assim. Não há nada de especial e de exuberante no que se vê, mas o conjunto apresentado, especialmente, a forma como a história é contada e o tratamento realista para com os personagens apresenta um resultado redondinho, fechadíssimo. A impressão que fica é a de um filme perfeito. Perfeito, dentro de sua simplicidade. Sem viagens, sem enrolação nem ambiguidades, a história é passada de forma retilínea.
Dois escritores, um famoso e um em busca da fama, mas ambos problemáticos. Duas mulheres que se revelam generosas e fortes, ao ponto de suportar a chatice de seus maridos artistas. A filha do escritor famoso, fora dos padrões estéticos e boa cantora, ainda estudando pra melhorar sua performance vocal, tem problemas de auto estima por causa do corpo rechonchudo e da fama do pai.


A partir de agora, estou proibido de dar mais pistas em torno dos personagens e da própria história. Vamos passar direto ao trabalho da diretora, Agnès Jaoui. Este foi o seu segundo filme nessa função, porque como atriz e roteirista possui um currículo mais extenso. “Questão de Imagem”, aliás, venceu o prêmio de melhor roteiro em Cannes. A premiação foi dividida com o marido, Jean-Pierre Bacri, que também atua como ator neste filme.

A personagem central é a aspirante ao canto lírico Marilou Berry. O jogo de interesses que move o mundo das relações interpessoais é o pano de fundo de “Questão de Imagem”. Egoísmo, falsidade, desprezo, arrogância, pessimismo... por aí vai o desfile de qualidades humanas negativas expostas no filme, mas tudo sem forçar a barra. As situações apresentadas no filme são, por vezes, tão corriqueiras, que o espectador haverá de se sentir como uma espécie de personagem secundário.


Chega a ser curioso como essa artista polivalente do cinema, que é Agnès Jaoui, consegue explorar tanto a mediocridade (mais para o sentido de medianos, do que para o pejorativo) de seus personagens e, ao mesmo tempo usar uma linguagem tão simples, mas, em momento algum o filme esbarra no medíocre. Passa ao largo disso, com seu roteiro inteligente e divertido.
Não diria que o filme passa uma mensagem ou dá uma lição de moral. Cada um que tire suas conclusões. E que o espectador saiba tirar proveito dessa conversa em torno da questão da imagem. Com a imagem, eu, tu, ele... qualquer um, pinta e borda. Maquiar não é difícil. Tem gente que não sabe diferenciar imagem de reputação, mas aí já é outra história.
Uma imagem diz mais que mil palavras.


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