terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Concerto na UFMT, mas a volta é que foi tão triste

Se toda segunda-feira tivéssemos um programa cultural como este que assistimos, a semana seria melhor. Mas é pedir muito. Depois de apreciar o coral e a orquestra da UFMT (e os dois juntos), com um repertório erudito, a noite terminou em ritmo de Wanderley Cardoso: “o piquenique foi bom, mas a volta é que foi tão triste”... Pois é, voltamos para casa, cerca de duas horas após o fim do concerto, na boleia de um caminhão-guincho, entoando essa velha canção.
Mas deixa pra lá. Deixemos pro final os esclarecimentos. Falemos, primeiro, da emoção e da alegria que sentimos lá no carcomido e judiado teatro dessa universidade que completou 41 anos.  Primeiro, o coral. Uma beleza de apresentação, resultado de um trabalho extenuante e dedicado. Uma performance envolvente. Num coral, mesmo uma canção popular, recebe tratamento erudito, daí a referência à erudição do repertório. 50 vozes afinadas sob a regência precisa de Dorit Kolling, visivelmente emocionada. A formação em palco mudava a cada música, algumas acompanhadas por instrumentos, todas com arranjos que valorizavam a interpretação e expunham o potencial do grupo.



É tão bom ver os amigos no palco! André Vilani, Edviges Vilá e, na orquestra, Iracildo Medeiros – o Lau, mandando ver com seu contrabaixo. Por falar nele, a orquestra foi de Mozart e de Dvorak, grandes compositores eruditos e bem conhecidos, mas com estilos diferentes. Mozart, sempre aquela harmonia preciosa com a riqueza melódica que nos transporta para o sublime. Dvorak, mais vigoroso, que soube explorar os motivos e os temas das canções populares. A orquestra foi regida nesta parte do concerto por Yllen Almeida, músico virtuoso, revelado em Cuiabá, mas que se aprimorou fora do Estado. Yllen é também o spalla da orquestra. Depois de dar conta do recado como maestro, mostrou seu talento com o violino na Cantata de Natal de Ricardo Tacuchian, que finalizou o concerto.

O maestro Fabrício Carvalho regeu orquestra e coral nessa Cantata moderna, que era algo totalmente novidadeiro para o Tyrannus. É legal se expor e ouvir o que desconhecemos. A composição se baseia em textos do Evangelho (São Lucas e São Mateus), mas depois da metade dá uma guinada radical e vai de Drummond e Bandeira, dois dos maiores poetas da literatura brasileira de todos os tempos. Arrojado apresentar uma peça dessa natureza para um público como o cuiabano que não está acostumado com esse tipo de música. É ousado e necessário. Gostamos disso.

A Cantata teve a participação dos solistas Fernanda Ohara (soprano) e de Eduardo Santana (barítono), que também narrou. Vozes bonitas, potentes, que se sobressaíam quando convocadas. A música erudita moderna não costuma ser de fácil assimilação. Com narração a coisa tende a ficar mais complicada e não é fácil segurar o ritmo dessa musicalidade que tinha um caráter de encenação, mas os instrumentos soavam como trilha propiciando o clima desejado. Talvez a falta de costume com essa musicalidade tenha causado estranheza e a impressão de que faltou, em alguns momentos, um arrojo maior para a plena exposição do contexto da obra.


Saímos do teatro doidinhos pra chegar logo em casa e escrever sobre a experiência. Ao chegarmos ao nosso carro, surpresa!!! Amigos do alheio, enquanto a gente curtia o concerto passaram por lá, arrombaram o veículo, cortaram a energia e levaram o pneu de estepe. Sequer se interessaram por meus livros de poesia que estava no porta-luvas dando sopa. Aí, já viu... Ligações para a polícia, para a seguradora e toca a esperar o guincho. “O picnic foi bom, mas a volta é que foi tão triste...” Mas, dá-se um jeito pra tudo. Depois do concerto, a situação ficou desconcertante, mas teve conserto. Seguro.



Nossa amiga Nely, no concerto (sem foco, como sempre!)


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