quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A boa má companhia

Hall Chase, Kerouac, Ginsberg e Buroughs... muita má companhia 
O lápis é amigo do Oscar Niemayer, que hoje completou 104 anos; a tinta é amiga de Pollock, Alex Atala é amigo das caçarolas; Yves Saint Laurent foi amigo das tesouras e agulhas, Federico Fellini e Giulietta Masina eram amantes do cinema e parceiros na vida; assim como a bola é amiga do Neymar e de Messi, sempre buscando seus pés.
Assim parece ser e existir uma atração entre pessoas, pessoas e objetos que se completam. Dessa cumplicidade afloram sentimentos; compactuam ideias e ideais; estímulos para criação, coisas que na maioria das vezes são para o bem. Quando deixam de ser..., aí é um terreno complicado, destrutivo, nefasto, perigoso. 
A vida é que é amiga de Niemayer

YSL e o primeiro smoking feminino

Ontem, uma amiga contou um fato recente. A história de sempre: férias escolares e amigos adolescentes que não querem se separar.  Aí toca o troca-troca e o leva-e-traz: pernoite na casa de um, tardes na casa de outro, final de semana na Chapada, na chácara, shopping e são essas as férias de pais de adolescentes. Trabalheira e gastos dobrados. A comilança é braba. Leva um pra lá e trás três ou mais pra cá... E piora quando iniciam as saídas noturnas.  Encurtando a história: combinado para passar a noite em sua casa, dois amigos do filho. Ponto. A certa altura, sem seu conhecimento, apareceram mais dois (que segundo seus pais, foram para estudar. Nas férias, à noite???!!).  A tchurma reunida ficou de conversa na área social. E, sortudos que são (ou não), acharam uma garrafa de vodka que mandaram ver.  Resultado: embriaguês. Só que um dos garotos desmaiou (justamente um dos agregados). E aí pintou bate-boca de pai, de mãe, de ex-marido, de padrasto, da minha amiga, dos adolescentes, dos PMs. E todos para delegacia.
 
Pollock, sua marca é tinta

Os pais (do desmaiado), claro, botaram a culpa nas más companhias (os outros adolescentes). O filho sempre é bom... são as más companhias que o estragam com suas influências negativas.
Então, cá me pus a pensar depois dessa história e de um “caco” de conversa que pesquei de um casal: Ele: “Nós, não somos boa companhia um para o outro”. Ela (respondendo na bucha): “Pior. Pra mim você não cheira e nem fede!” 

Fellini e Giullieta: 50 anos de magia

O que é má companhia? É aquela que tem poder de influência? Geralmente os pais, com o intuito de proteção, não toleram e nem aceitam com facilidade as diferenças, o novo, algo que tem certo poder sobre aqueles que, no seu julgamento, ainda são ingênuos... sem experiência de vida. E terminam por restringir a aproximação. Não raro a relação termina por aí, mas em outros casos, acontece o contrário: o proibido aguça a curiosidade e o desejo de contestar. Daí os conflitos de geração.
Meus melhores amigos eram tidos como péssimas companhias. Por quê?  Ah! Porque eles não eram normais, porque liam, porque não davam a mínima pra a sociedade da época, porque adotaram um estilo de vida perigoso, porque usavam roupas diferentes, porque gostavam de beber e conversar. E eu, uma antena receptiva para esses novos valores e conceitos, curtia muito e adotava seus padrões e comportamentos. Confesso que alguns morreram antes do tempo, porque não cuidaram da saúde. Mas tanto os que se foram como os que estão vivos são pessoas boas, justas, inteligentes, não fizeram parte de nenhuma associação criminosa, não fizeram politicazinha, não mataram. Aproveitaram a vida, para aprender, conhecer, na paz.

Masters & Johnson: a fisiologia do coito
Pensei e investiguei outras parcerias (amigos ou relações amorosas). Algumas não foram legais, outras melhoraram individualmente, ou não,  mas resultaram em coisas boas.  Rodin e a Camille Claudel. Camille era paranoiada, não tinha segurança em relação ao seu talento, achava que Rodin queria se apropriar de suas obras. Foi internada num sanatório. Ambos produziram belas obras. Alguns artistas precisam de neurose pra criar.
Angelina Jolie e Bradd Pitt, os dois melhoraram como pessoas quando ajojaram. Estão envolvidos com causas humanitárias e melhoraram como atores (mais ele, que ela). Frida Khalo e Diego Rivera, vida tumultuada, muita dor da parte dela. Ela reconhecida tardiamente. Produziram muito e se estimulavam também. Picasso fez sofrer as mulheres que amou; mas acho que todas ganharam um retrato dele. Valeu! Lennon e Yoko Ono, Elton John e David Furnish, Lampião e Maria Bonita e outros...

Casal "Sir"
Pra encerrar, com chave de ouro: Pierre e Madame Curie, notável parceria com grandes descobertas. O casal foi laureado em 1903 com o Nobel de Física e, em 1911, quando Marie Curie ganhou seu segundo Nobel: o de Química. Sem dúvida, a química e energia os unia.

Casal Curie, pintou uma química na relação física

Sartre e Simone de Beauvoir, casal referência dos ideais libertários, unidos pela inteligência e engajamento político, viveram 50 anos juntos em casas separadas. Quando Sartre morreu, ela disse: “sua morte nos separa. Minha morte não nos reunirá. Assim é: já é belo que nossas vidas tenham podido harmonizar-se por tanto tempo.” E um dia antes do aniversário de um ano da morte de Sartre, ela se foi.
Simone e Paul relações modernosas

Inseparáveis/separados

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