terça-feira, 28 de agosto de 2012

Indiferença

Não se pode escrever nada com indiferença.
 (Simone de Beauvoir)

Não fede e nem cheira. Se alguém se referir a você dessa forma, podes crer que ofendeu. Doeu doído, demais! Há sério risco de estabelecer certa animosidade que pode ser pelo amigo, parente, colega, chefe ou seja lá quem for... É uma ofensa comparada aos tempos do grupo escolar - hoje ensino fundamental, quando alguém xingava a sua mãe. Nada pior do que ser tratado com indiferença.

Quando alguém "faz a diferença" é porque arrasou, de alguma forma. Fazer a diferença não é pra qualquer um. A distância entre fazer a diferença e ser indiferente é grande. Tem gente que se toca, reage, interage etc. Tem gente que se mostra apática e insensível; mesmo que o mundo esteja vindo abaixo. Você não precisa ser isso ou aquilo. Pode ser intermediário. Mediano. Preste atenção: mediano não medíocre. 


O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença.
(Érico Veríssimo)
Na matemática, a loucura do raciocínio, segundo Clarice, há um sinal para o que é diferente. O que não é igual. Aquelas duas barras deitadas e paralelas cortada por uma barra inclinada. E quando as barras não estão cortadas, quer dizer que é igual. É igual, mas não indiferente, já que não é dado à matemática as possibilidades subjetivas. Indiferente, então, deve ser pior do que igual.



Uma pergunta não respondida, um cumprimento não correspondido. E a nossa autoestima entra em queda vertiginosa. A indiferença que nos destinam, muitas vezes, é proposital. É uma artimanha de alguém muito maquiavélico que quer fazer a diferença. Essa indiferença, pensando bem, é aceitável. Já que de verdade não há indiferença nenhuma. Encena-se a poderosa arma da indiferença para ferir alguém que não lhe é indiferente. 

Todos nós, quase que diariamente, praticamos a “indiferença teatral”. Quer ver? Quando se depara com um mendigo ou pedinte, vai dizer que nunca desviou o olhar e se portou com indiferença? A indiferença como arma diante de diferenças sociais. É um tiro nos pés. 



E tem aquela indiferença com a qual somos vitimados, mas que é espontânea e não maldosa. Quem a demonstra não o faz de forma premeditada, mas sim, porque simplesmente não reparou em você. Nesses casos resta a esperança de que a pessoa que lhe dirigiu esse tratamento indesejado seja avoada, desligadona, cega ou tonta. Deve ser difícil, muito difícil, uma pessoa tímida que não consegue se declarar, apaixonar-se por outrem que seja daquele tipo que vive no mundo da lua. 


A indiferença é maneira mais polida de se desprezar alguém.
(Mário Quintana)
Escritores, filósofos e outros tipos pensadores referem-se à indiferença com singularidades.  Muitos cunharam frases próprias e de efeito para encaixar o vernáculo com certa pompa. Uns com mais humor, outros de forma mais dramática ou trágica mesmo. Mas a maior parte deles reconhece o significado forte dessa expressão. E suas consequências devastadoras. Numa frase, numa sentença ou até mesmo num parágrafo inteiro; não são raras as vezes em que a indiferença torna-se a palavra que rouba a cena.


Mas a filosofia hoje me auxilia
a viver indiferente assim
nessa prontidão sem fim
vou fingindo que sou rico
pra ninguém zombar de mim.
(Filosofia, Noel Rosa)



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